Quero convidá-lo a tomar nas mãos a Palavra de Deus que está em Eclesiástico 35, 21: "A oração do humilde penetra as nuvens, ele não se consolará enquanto ela não chegar a Deus. E não se afastará enquanto o Altíssimo não puser nela os olhos".
Amados e amadas de Deus, o intercessor, para ser um vitorioso no campo da intercessão, precisa manter a constância. Quando Jesus fala para nós da oração perseverante, Ele nos cita a parábola da viúva insistente. E é interessante que o Senhor conta a parábola para nos dizer que é preciso orar como aquela insistência da viúva (cf. Lc 18, 1-8). Assim precisa ser a minha e a sua oração.
Quando eu era seminarista, durante as férias na cidade dos meus pais, eu fui rezar por um jovem que sofria de epilepsia. Convidei uma das minhas irmãs de comunidade para rezar pelo jovem e fomos à casa dele. Quando chegamos, à tarde, ele estava embaixo de uma árvore. Conversamos com ele durante um tempo e depois perguntamos se ele gostaria que rezássemos por ele. As crises dele eram muito intensas e ocorriam muitas vezes ao dia.
Oramos por ele. Ousadamente, eu proclamei que ele estava curado em nome de Jesus. A mãe dele ficou muito feliz. Encerramos a oração e nos sentamos novamente para bater papo. Cinco minutos após a oração, ele teve uma crise de epilepsia. A mãe dele olhou para mim e me disse: "A crise veio pior". Eu fiquei em pânico. Ela cuidou dele e ele melhorou e voltou da crise. Dez minutos depois ele teve outra crise. Pensei: "Que oração foi essa que eu fiz, Jesus?" Depois de um tempo, eu saí da casa do jovem e fui para a igreja. Fiquei lá sozinho, aos pés de Jesus Sacramentado. Orei intensamente na presença do Senhor e perguntei a Ele o que havia acontecido, pois Ele tinha colocado dentro do meu coração a certeza da cura e eu a proclamei. Chorei na presença do Senhor e pedi a Deus que me falasse por intermédio de Sua Palavra. Diante do Senhor, eu abri a Bíblia e Ele me deu essa passagem bíblica que lemos agora [cf. Eclo 35, 21ss].
E ali eu fiquei impactado com a Palavra, quando ouvi uma voz que disse ao meu coração: "Ele ficará curado totalmente quando você sair da cidade". Não entendi nada, pois eu estava ali de férias. Mas nos dias em que continuei ali eu vi que as crises do jovem pioraram. E comecei a entrar numa guerra interior de acreditar no poder de Deus e de, ao mesmo tempo, ver uma realidade contrária. Por essa razão, eu fiquei contando os dias e as horas para ir embora da cidade [para ver o milagre acontecer na vida do jovem]. Quando eu cheguei de volta a Cachoeira Paulista (SP), a primeira coisa que fiz foi ligar para minha mãe, e ela me disse que o rapaz começara a melhorar. E com os dias ele foi melhorando até não ter mais nenhuma crise epiléptica.
Era uma situação estranha, mas eu precisei acreditar nesta passagem bíblica. Eu precisei aprender a perseverar nesta Palavra e a me manter insistente na intercessão. Eu dizia ao Senhor: "Eu não vou me afastar enquanto o Senhor não puser nesta situação os Seus olhos". Foi um tempo em que eu rezei assiduamente por essa situação.
Amados, para que sejamos bons intercessores e combatentes, precisamos aprender a nos conhecer para perseverarmos. Senão vamos, com grande facilidade, retroceder em meio ao combate. E é interessante observar isso, porque Deus vai nos inspirando nessa caminhada.
No livro "O combate espiritual", do padre Lorenzo Scupoli, da Editora Cléofas, o autor nos explica a diferença entre a vontade superior e a vontade inferior: "A vontade superior é guiada pela razão e é a mais própria do homem. O homem só quer realmente alguma coisa, quando essa vontade superior também o quer". Eu entendi a guerra que, muitas vezes, eu tenho travado contra minhas vontades. Por vezes, essa vontade superior entra nesse clima de guerra dentro de nós, porque nos vemos dentro desses dois mundos. Há uma vontade divina e há a vontade dos nossos sentidos, que é a vontade inferior, que tenta nos direcionar para os vícios. Enquanto uma tende a nos ajudar a viver as virtudes, a outra tende a nos levar aos vícios. E nós ficamos no meio das duas. Às vezes nos vemos nesse drama: por vezes atraídos pela vontade divina; por outras, pela vontade inferior. É uma luta e é preciso ter consciência dessa batalha. Elas disputam entre si para atrair a nossa vontade e sujeitá-la à sua obediência, tanto uma quanto a outra.
Então eu entendi por que muitas horas temos tanta dificuldade de rezar. Vemos isso quando alguém nos convida: "Vamos rezar o terço da misericórdia?" e nos vêm a indisposição e a sonolência. Eu também me vejo dentro desse combate. Por vezes, a vontade dos sentidos parece que consegue me dominar mais do que a vontade superior, a razão. Mesmo sabendo que dentro de mim a vontade superior está mais propensa ao divino, para o bem, é uma luta. Eu quero a vitória, mas quando me disponho, as minhas vontades se veem dentro deste espaço de guerra. Você também vive essa turbulência?
Quem está acostumado à busca da virtude não sofre tanto, o mesmo acontece com quem está acostumado aos vícios, porque isso já faz parte do seu dia a dia. Porém, as pessoas que eram prisioneiras do pecado e decidiram romper com a vontade inferior, essas vão passar por um caminho difícil, de grandes sofrimentos, porque serão golpeadas de uma forma desleal pelo mal. E se esses irmãos não mantiverem a constância e a decisão interior de mudar de vida não vão conseguir chegar ao grau a que se dispuseram. Porque dentro deles a tendência de voltar atrás estará sempre gritando, devido a essa vontade inferior.
Amados, só de Comunidade Canção Nova, tenho 19 anos. Estou sendo muito honesto, há dias em que eu preciso me empurrar a mim mesmo, porque senão eu relaxo em minha vida de oração. Existem dias em que eu me enrolo de tal forma que chega meia-noite e eu não consegui pegar a Biblia nas mãos. Estou sendo honesto, porque senão vocês olham para mim e acham que eu sou "o espiritual", mas isso não é verdade. Eu travo uma luta sincera contra essas duas vontades contrárias em mim.
Você vai voltar para casa hoje. Amanhã você já começa sua briga. Você se decide a colocar em prática um novo programa de vida e pode saber que a vontade inferior vai tentar atrapalhá-lo para que você não coloque tudo o que aprendeu aqui e sua vida de oração em prática. Você precisará lutar para vencer essa vontade. Compreenda que dentro de você há essa luta, e que a intercessão não é feita constantemente de um gozo espiritual.
Ninguém pode querer adquirir as virtudes cristãs, nem servir a Deus como convém, sem ser violento consigo mesmo e aceitar e enfrentar a dor da renúncia. Muitos de nós conseguimos vencer os vícios maiores; o autor do livro "O combate espiritual" também afirma que o grande problema é vencer os vícios menores, como por exemplo, a gula, a preguiça, falar mal dos outros. Vencer os vícios inferiores é muito mais difícil, por isso não conseguimos chegar ao grau de santidade que quereríamos.
Trago a vocês essa revelação para que vocês entendam que, ao chegar a suas casas, não será tão simples. Será uma luta. A vontade inferior sempre vai querer levá-lo para baixo; enquanto a superior, que tende ao divino, vai querer elevá-lo e ajudá-lo a viver as coisas do alto. Mas cuidado: porque quem decidiu viver o caminho de conversão nem sempre vai conseguir viver a santidade por se ver preso aos vícios menores. Se não tivermos clareza dessa realidade não conseguiremos perseverar na luta de combatentes. E se não insistirmos nessa luta pelo bem, abandonaremos o propósito a que nos comprometemos diante do Senhor. Fique atento, intercessor. Se você quer ser vitorioso, mantenha-se na perseverança da oração!
Monsenhor Jonas Abib nos ensina que, quando você estiver próximo do alvo, da vitória, mais dolorosa será sua intercessão, mas não desista, porque você está a um passo da vitória. Na hora em que você estiver chegando ao destino, a turbulência crescerá, tudo vai ficar mais complicado e seu desejo humano será de retroceder. Mas é nessa hora que é preciso manter a fidelidade. Isso vai exigir perseverança e constância dentro do ministério a que vocês foram chamados.
Transcrição e adaptação: Kelen Galvan