A importância do diálogo entre as várias religiões

 

Professor Felipe Aquino
Foto: Arquivo/Cancaonova.com

Por professor Felipe Aquino

O Decreto sobre o Ecumenismo, do Concílio Vaticano II, diz: "Pois somente por meio da Igreja Católica de Cristo, 'a qual é meio geral de salvação', pode ser atingida toda a plenitude dos meios de salvação. Cremos que o Senhor confiou todos os bens da Nova Aliança somente ao Colégio Apostólico, do qual Pedro é o chefe, a fim de constituir na terra um só Corpo de Cristo, ao qual é necessário que se incorporem plenamente todos os que, de que alguma forma, já pertencem ao Povo de Deus" (Unitatis Redintegratio, 3).

Por outro lado, a Igreja afirma que: “Os que hoje em dia nascem em comunidades que surgiram de rupturas e estão imbuídos da fé em Cristo não podem ser arguidos de pecado de separação, e a Igreja católica os abraça com fraterna reverência e amor […]. Justificados pela fé recebida no Batismo; estão incorporados em Cristo, e por isso com razão são honrados com o nome de cristãos e merecidamente reconhecidos pelos filhos da Igreja católica como irmãos no Senhor". (Catecismo da Igreja Católica [CIC], n.818)

Nesse sentido, a Igreja busca a unidade dos cristãos, como Cristo quer: um só rebanho e um só pastor. Não se trata, disse o Papa João Paulo II, na “Ut unum sint”, de abrir mão de alguma verdade católica ou de cancelar algum artigo do Credo. Ele disse que ecumenismo não é irenismo, buscar a unidade a qualquer preço.

Jesus mesmo orou na hora de sua Paixão, e não cessa de orar ao Pai pela unidade de seus discípulos: "[…] Que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste" (Jo 17,21). O desejo de reencontrar a unidade de todos os cristãos é um dom de Cristo e convite do Espírito Santo.

O Concílio Vaticano II reconheceu que há "muitos elementos de santificação e de verdade fora dos limites visíveis da Igreja católica": "A palavra escrita de Deus, a vida da graça, a fé, a esperança, a caridade, outros dons interiores do Espírito Santo e outros elementos visíveis". O Espírito de Cristo serve-se dessas Igrejas e comunidades eclesiais como meios de salvação, cuja força vem da plenitude da graça e da verdade que Cristo confiou à Igreja católica. Todos esses bens provêm de Cristo e levam a Ele e chamam, por eles mesmos, para a "unidade católica" (cf. CIC, n.818).

Com as outras religiões não cristãs: judaísmo, islamismo, budismo, etc., a Igreja mantém um importante “diálogo ecumênico”. Ela ensina que: "Os que ainda não receberam o Evangelho também se ordenam por diversos modos ao Povo de Deus" (CIC, n. 839). Então, a tarefa missionária valoriza um diálogo respeitoso com os que ainda não aceitam o Evangelho. É preciso conhecer melhor "tudo quanto de verdade e de graça já se achava entre as nações, numa como que secreta presença de Deus" (Ad Gentes, 9). Se anunciam a Boa Nova aos que a desconhecem, é para consolidar, completar e elevar a verdade e o bem que Deus difundiu entre os homens e os povos e para purificá-los do erro e do mal, "para a glória de Deus, a confusão do demônio e a felicidade do homem'' (idem).

O diálogo com os não cristãos acontece porque Deus quer reunir novamente todos os seus filhos, aos quais o pecado dispersou e desgarrou
. Para isso o Pai quis convocar toda a humanidade na Igreja de seu Filho. A Igreja é o lugar em que a humanidade deve reencontrar sua unidade e sua salvação. Ela é "o mundo reconciliado". Segundo outra imagem cara aos Padres da Igreja, ela é figurada pela Arca de Noé, a única que salva do dilúvio do pecado.

A Igreja reconhece nas outras religiões a busca, "ainda nas sombras e sob imagens", do Deus desconhecido, mas próximo, porque “quer que todos os homens sejam salvos” (cf. 1 Tm 2,4). Assim, a Igreja considera tudo o que pode haver de bom e de verdadeiro nas religiões "como uma preparação evangélica dada por Aquele que ilumina todo homem para que, finalmente, tenha a vida" (CIC, n.843).

A Igreja mantém o diálogo com as religiões não cristãs também por causa da origem e do fim comuns do gênero humano, já que todos os povos constituem uma só comunidade, eles têm uma origem e um único fim comum (cf. Nostra Aetate, 1).

Com o judaísmo, a Igreja não esquece seus vínculos com o povo hebreu, a quem Deus falou em primeiro lugar. Ao contrário das outras religiões não cristãs, a fé hebraica já é resposta à revelação de Deus na Antiga Aliança. É ao povo hebreu que "pertencem a adoção filial, a glória, as alianças, a legislação, o culto, as promessas e os patriarcas, dos quais descende Cristo, segundo a carne" (cf. Rm 9,4-5), pois "os dons e o chamado de Deus são sem arrependimento" (cf. Rm 11, 29). O Papa João Paulo II chamou os judeus de “irmãos mais velhos” e Bento XVI os chamou de “irmãos na fé”.

Quando se olha o futuro do povo de Deus da Antiga Aliança e o novo Povo de Deus, tendem para os mesmos fins: a espera da vinda do Messias para o judeus; e a volta d'Ele para os cristãos.

Com o islamismo a Igreja mantém também um diálogo sério, sobretudo no sentido de eliminar as perseguições aos cristãos em muitos países e a eliminação do uso da violência em nome de Deus. A Igreja reconhece que “o plano de salvação abrange também aqueles que reconhecem o Criador, entre eles os muçulmanos, que, professando manter a fé de Abraão, adoram conosco o Deus único, misericordioso, juiz dos homens no último dia" (CIC, n. 841).

 

 

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