Diácono Paulo: Eu e a Mara somos casados há 30 anos, sou diácono permanente e temos duas filhas. Queremos falar hoje para vocês da importância do perdão na Família. O perdão é como uma palavra de ordem.
“Disse também: Um homem tinha dois filhos. O mais moço disse a seu pai: Meu pai, dá-me a parte da herança que me toca. O pai então repartiu entre eles os haveres. Poucos dias depois, ajuntando tudo o que lhe pertencia, partiu o filho mais moço para um país muito distante, e lá dissipou a sua fortuna, vivendo dissolutamente. Depois de ter esbanjado tudo, sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a passar penúria. Foi pôr-se ao serviço de um dos habitantes daquela região, que o mandou para os seus campos guardar os porcos. Desejava ele fartar-se das vagens que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. Entrou então em si e refletiu: Quantos empregados há na casa de meu pai que têm pão em abundância… e eu, aqui, estou a morrer de fome! Levantar-me-ei e irei a meu pai, e dir-lhe-ei: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados. Levantou-se, pois, e foi ter com seu pai. Estava ainda longe, quando seu pai o viu e, movido de compaixão, correu-lhe ao encontro, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. O filho lhe disse, então: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Mas o pai falou aos servos: Trazei-me depressa a melhor veste e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e calçado nos pés. Trazei também um novilho gordo e matai-o; comamos e façamos uma festa. Este meu filho estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado. E começaram a festa”, (Lucas 15,11-24).
Mara: Nesta Palavra, Jesus nos dá um exemplo de uma família. Havia um pai que tinha um filho mais novo e um mais velho. E, naquele tempo, a divisão do patrimônio não era diferente de hoje, pois nesta família pode-se notar que havia uma discussão entre os irmãos para repartir a herança. O pai concordou e o filho mais novo pegou suas coisas e saiu para o mundo.
Nós somos diferentes. Pensamos diferentes. Na família, mesmo tendo o mesmo pai e a mesma mãe, os filhos são diferentes. Na nossa casa há diferenças. Mas, quando acontecem as brigas, é porque temos raízes profundas no nosso coração de intimidade.
Porém, há famílias que não se reconciliam, ficam anos sem conversar entre si. Fiquei pensando: com as pessoas que não são tão próximas, não ficamos muito chateados; mas se elas são caras a nós, ficamos muito magoados. Então, cheguei a conclusão que as pessoas mais próximas são as que nós mais amamos. Precisamos, portanto, conviver com as diferenças. Mesmo se o outro não gosta do que eu gosto, nós podemos amar. Que caia por terra todo sentimento de que o outro precisa fazer o que eu quero para me amar.
Se nós temos o desejo de amar, precisamos dar o perdão. Se você deseja ser muito amado, perdoe muito! A pessoa a quem você perdoar vai demonstrar muito amor. Quantas vezes eu preciso ser perdoada pelas minhas falhas. A lógica desse mundo não é a lógica do Evangelho. Quantas mulheres pagam o mal com mal. A lógica do Evangelho é ‘pagar o mal com o bem’.
Diácono Paulo: Em um ambiente de família, as diferenças são muito naturais. É quase impossível que dentro de casa a gente não se fira uma hora ou outra, pois nós estamos muito ligados. É aí que entra o perdão. Nós precisamos ir para a prática. O Evangelho é para ser vivido dentro de casa, no nosso cotidiano.
O Pai da passagem do filho pródigo é um pai misericordioso. O pai não ficou jogando na cara do filho que ele pecou e gastou o seu dinheiro. Assim é o Pai do céu: Ele nunca aponta os nossos pecados. Perdoar não é jogar na cara da pessoa os seus pecados, mas é acolher. Deus nos perdoa sempre. Esta é a razão para perdoarmos sempre. Para cultivar o amor dentro de casa precisa haver o perdão. Se há dificuldades dentro de casa entre esposo e esposa, irmão e irmã, é porque falta o perdão.
Eu ensinei minhas filhas desde pequenas sobre a misericórdia, o perdão. Quando olhamos para a cruz, vemos que Jesus derramou todo o seu sangue para nos perdoar. Eu e você não podemos negligenciar o amor que Deus nos deu. Se você recebeu o amor, o perdão, perdoe também.
Como perdoar? Como exercitar o perdão? O perdão precisa ser um gesto gratuito. Quem perdoa de verdade antecipa tudo isso. Tem pessoas que dizem: “Eu perdoô, mais ela tem que vir aqui na minha frente e se humilhar!”. Isso não é dar o perdão. Perdoar é acolher o outro. Não podemos ter um coração duro, que acuse o coração do outro. Precisamos aliviar o outro com o perdão.
Não dá para falar que eu amo, se eu não perdoô. Quem ama, ama o pecador. Então, se eu estou disposto a perdoar, eu preciso perdoar sempre e em tudo. Não podemos dizer que perdoamos se não há sinceridade.
A falta de perdão liga a pessoa ao inferno e a desliga do céu. Como vai dizer a Palavra: “Tudo o que ligares no céu, será ligado na terra. Tudo o que desligares do céu, será desligado da terra”. Precisamos ser sinceros e preservar a pessoa quando vamos pedir o perdão. O mundo hoje é muito rápido e não tem tempo de preservar o outro. Nós precisamos de respeito um do outro. Ágape é perdão. Mas é um perdão de quem é sincero.
Quando confessamos, a sentença é a misericórdia. Precisamos colocar a misericórdia dentro de casa. Eu preciso estar disposto a acolher minhas filhas quando elas pecam. Como o Papa Francisco vai dizer: “A Igreja é uma mãe que está sempre de portas abertas quando os filhos erram”. Por que temos que ser tão duros com os nossos filhos, se o mundo já está de braços fechados para eles? Nós não somos aqueles que castigam quando os nossos filhos erram. Nós somos cristãos.
Como está a sua relação com seus irmãos? Nós somos gente, erramos, por isso a todo momento precisamos pedir perdão.
Mara: Quando eu e o diácono Paulo casamos, fomos vendo que éramos muito diferentes. Fomos percebendo que precisávamos começar a dar vitória Àquele que era vitorioso, não àquele que é perdedor. Precisamos dar vitória a Cristo. Cada vez que temos um desentendimento, nós já sabemos que temos que dar vitória a Cristo. Não sou eu e nem o Paulo quem vai vencer nas nossas brigas, mas é Cristo. Nós precisamos deixar de dar vitória ao inimigo e dá-la a Cristo.
Diácono Paulo: Em Cristo, a misericórdia é o amor que supera a justiça. Ninguém é só erros e misérias. Nós precisamos aderir a Cristo. O Perdão é um estilo de vida. Dentro de você há muito perdão para dar. Tantas pessoas que só ficam presas neste mundo e se esquecem que Jesus está voltando. Por isso, precisamos dar o perdão e estar vigilantes.
Quando Cristo voltar, como Ele vai te encontrar?
Transcrição e adaptação: Jakeline Megda D’Onofrio