“Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Mateus 14,26). O chamado de Deus é exigente, é radical.
''Naquele tempo, grandes multidões acompanhavam Jesus'.' Seguiam para Jerusalém, onde Jesus iria ser crucificado. Mediante a isso Jesus avisa a multidão: “Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo.” Quem caminha com Jesus passa pela cruz, pela paixão para chegar à ressurreição. Todo o mundo quer ressuscitar, mas ninguém quer morrer.
Não dá para seguir Jesus e achar que Ele é um iluminado. Precisamos amar Cristo acima de tudo. Não dá para ser cristão pela metade. Ou a gente sabe e professa que Jesus Cristo é verdadeiramente Deus, e que como Ele passaremos pela cruz, ou viveremos achando que Ele não é Deus.
“Se alguém vem a mim, mas não se odeia de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo”.
Trago a vocês um exemplo para entenderem o que significa o verbo "odiar" na tradução do grego. Hoje na hora do almoço estava na casa da Luzia Santiago e ela me ofereceu pudim ou salada de fruta, escolhi a salada de fruta, mas se fosse falar na tradução do grego eu iria dizer: "Odeio pudim", e ela entenderia que preferia salada de fruta. Essa palavra "odeio" é substituída pela palavra "prefiro".
É preciso amar Jesus mais que os pais, e os pais mais a Jesus que os filhos.
Por causa do nosso pecado original tendemos à rivalidade, e quem tem irmão já fez essa pergunta: Quem mamãe e papai amam mais: eu ou os meus irmãos?
Jacó tinha 12 filhos e o mais amado era José, que recebeu do pai uma túnica. Os seus irmãos tinham muito ciúme dele, por isso queriam matá-lo.
Quando vemos uma preferência tocamos no pecado original, o qual dá vontade de matar o predileto, porque nós queríamos ser o predileto.
Por que os irmãos de José queriam matá-lo? Porque não amavam o pai, e também não queriam que José fosse amado por ele. Há um mecanismo destruidor do nosso coração que é de querer ser o centro no coração da pessoa. Porém, neste Evangelho Jesus diz que o centro do nosso coração é Deus e precisa ser Deus. Se não for pode levar à morte.
Jesus nos ensina a lutar contra o pecado da idolatria. Assim como aqueles irmãos de José que queriam ser deuses, queriam estar no centro do coração do pai. Quantos crimes já ouvimos falar de esposo que mata esposa por ciúme, isso é porque quem ocupou o centro do coração foi o outro e não Deus.
Quando a família toma o lugar de Deus, aí acontece a destruição, mas se você quer que sua família seja sadia, ame Jesus em primeiro lugar. Se você expulsar o Senhor da sua casa, os seus vão se matar, e se o [matar um ao outro] não fizerem fisicamente, o farão interiormente.
Se você coloca seus pais no lugar de Deus, você passará a cobrar destes a felicidade plena, a qual só o Senhor pode oferecer. Mas se você deixa Jesus no centro do relacionamento da sua casa, você perceberá que seu marido não é fonte de felicidade, mas um companheiro que, junto com você, carregará a cruz para chegarem à vida eterna.
Que coisa terrível é o pai que vive poupando o seu filho. Não faça isso! Mas o encoraje a levar a cruz, a amar Jesus mais que a você.
Não me arrependo nem um segundo de ser padre. Mas, percorri uma caminho duro e de renúncia. Quando eu era seminarista, estava para me ordenar e meus pais não puderam ir a minha ordenação, pois passavam por necessidades financeiras, tentei mandar um pouco de dinheiro, pois queria que eles participassem desse momento, mas não deu.
Se eu soubesse que ao pedir para ser ordenado em Roma pelo Papa João Paulo II, não iria ter minha família presente em minha ordenação, eu escolheria qualquer bispo aqui no Brasil. Por isso, nesse momento [ordenação] era um misto de felicidade e dor. A alegria de ser padre, e a tristeza de não ter os meus pais e minhas irmãs ali. Chorava com o misto de sentimentos.
Desde o início de meu sacerdócio, fui colocado para fazer uma opção entre Jesus, minha ordenação e a minha família, escolhi Jesus, porque é Ele quem me faz amar de forma autêntica a minha família.
Dezoito anos depois, como foi bom escolher Jesus, vejo como foi bom ter o Senhor em primeiro lugar, me fez amar ainda mais a minha família.
A minha ida para o seminário foi dramática, meus pais me queriam por perto, e hoje louvamos a Deus pela minha vocação. “Pois quem escolhe Jesus não perde nada, mas ganha tudo”, assim afirma Bento XVI.
Quando escolhemos Jesus Cristo encontramos verdadeiramente as pessoas que amamos.
A família precisa ter Jesus como centro, quando amamos ao Senhor paramos de cobrar um ao outro e passamos a ser “Cireneus” e a ajudar mais a nossa família e eles nos ajudam a carregar a cruz.
Transcrição e adaptação: Elcka Torres