“Nosso chamado é para confiarmos em Deus primeiramente”, exorta padre Xavier.
Diante do Evangelho de hoje, percebemos que a Quaresma é transpassada pelo jejum, pela esmola e oração. Reconhecer nossos pecados e corrigi-los é o objetivo da penitência, a fim de que revisemos o que fizemos de mal a nós mesmos e aos outros.
A oração recorda nossa união com Deus, que precisa ser restaurada, mas há muitas situações ao nosso redor que atrapalham nosso relacionamento com Ele. A dimensão da caridade consciste em fazermos ao nosso próximo o que ele não pode fazer por si mesmo.
A primeira leitura de hoje nos lembra a finalização de uma série de ditos sobre a sabedoria. “Maldito o homem que confia no homem!” Esses homens, aos quais ele se refere, são aqueles bem conhecidos dele, ou seja, não é a todos os homens que ele se refere.
Naquela época, aqueles homens acreditavam que nada abalaria Jerusalém, a casa de Deus, por isso faziam o que queriam. Começaram, então, a surgir muitos pecados no meio do povo. Foi aí que começou a forte vocação de Jeremias, que foi impelido a anunciar, na frente do templo, quem eram os falsos profetas, a fim de que todos tivessem cuidado com eles.
Em um segundo momento, Jeremias começou a anunciar um testemunho de retidão e pediu ao povo que fossem retos também. Ele afirmou que a cidade de Jerusalém cairia para que na Babilônia fosse anunciada à presença de Deus. Por isso, ele afirmou: “Maldito homem que confia no homem em vez de confiar-se a Deus”. Este homem que ele diz são os falsos profetas.
Nosso chamado é para confiarmos em Deus primeiramente; depois, nos homens. Em meio a tantas vozes humanas, fiquemos com a voz do Senhor. Confiar no Altíssimo é acreditar no que Ele já disse. Por isso temos, hoje, este Evangelho que se abre de forma tão importante para nós.
Jesus está contando uma história e precisamos compreendê-la. Havia um rico que, todos os dias, fazia festa; já o pobre Lázaro, além de ser leproso, os cães vinham lamber-lhe as feridas. Então, acontece o inevitável: sua vida chegou ao fim.
Não importa em que ponto de nossa vida estamos, o fim chegará para todos e todos estarão no mesmo patamar. A história conta que, antes de morrer, o rico não percebia Lázaro; porém, após sua morte, ele o reconheceu e lhe pediu ajuda.
Precisamos perceber que as coisas não são como imaginamos. No fundo, no fundo, o interesse de Deus não é tirar do rico e dar ao pobre, mas que o rico aja com misericórdia diante do pobre.
O convite do Evangelho é observarmos que o rico não foi castigado nem o pobre premiado. Na verdade, o que temos de compreender é que nossa viva de hoje vai refletir na vida eterna que teremos. A vida que viveremos aqui será confrontada com o Evangelho; isso é o juízo final.
Não podemos acreditar que nada vai nos abalar. Vai, sim, porque faz parte da vida. Não dá para imaginarmos uma vida sem problemas, e nossa vida lá no céu será a continuidade do que vivemos aqui.
O que realmente vai contar é a nossa vontade de fazer o bem, e isso deve brotar de Deus. Viveremos a alegria aqui e depois a alegria eterna. Porém, também somos chamados a colocar sentido no sofrimentos que vivemos, para unirmos o nosso coração ao do Senhor.
Você que é casado, lembre-se de que as primeiras almas com as quais você deve se preocupar são com as de sua casa. O rico do Evangelho preocupou-se com a família apenas depois de morto. É importante abrir os olhos de todos para enxergarem a Palavra de Deus.
Não caia na besteira de pensar que a Palavra do Senhor nos diz para não confiarmos nas pessoas. Devemos, sim, confiar nas pessoas, mas primeiro confiarmos em Deus.
É preciso que haja confiança nos relacionamentos. Se você acredita que não tem motivos para confiar nas pessoas, saiba que também não tem motivos para desconfiar delas.
Existem vozes que nos instigam a “botar para quebrar”, mas são vozes de pessoas descomprometidas. Na verdade, quem está comprometido conosco é Deus. Hoje, mais do que nunca, precisamos deixar o Senhor purificar o que está em nossa cabeça. Existe em nós muita criatividade que, na maioria das vezes, não é real.
Não podemos colocar nossa dignidade nas mãos dos outros. Só Deus sabe quem somos. Se dermos confiança para tudo o que falam de nós, ficaremos como copos de cristal que se quebram à toa. Deus nos chama a sermos como árvores, como cedros do Líbano, resistentes, fortes e robustos.
Todo mundo passa por dificuldades, mesmo aqueles que têm as melhores condições financeiras. Nossa maior estabilidade está no coração. Não podemos buscar falsas consolações, precisamos viver nos modos de Deus.
Cada uma das atitudes que temos hoje define o que seremos na vida eterna.
Transcrição e adaptação: Rogéria Nair