Um dia meu filho vai voltar

Padre Arlon

Padre Arlon Cristian. Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

O Evangelho de São Lucas nos mostra, no capítulo 15, três parábolas. O evangelista se utiliza de números, e para Deus não há números, para Deus todos são importantes e devem ser buscados e reencontrados.

Nós sabemos muito bem que a herança de um pai ou de uma mãe é dada aos filhos quando um dos genitores morre. Na Parábola do Filho Pródigo, aquele filho deu uma punhalhada no pai ao pedir-lhe sua parte na herança, pois foi como se ele dissesse: “Pai, para mim o senhor está morto”.

Quantas pessoas matamos dentro de nós! Aquele filho matou o pai dentro de si. Quantos filhos estão órfãos de pais vivos, e quantas mulheres estão viúvas de esposos vivos e vice-versa. O que aquele filho fez com o pai, nós também podemos fazer no dia a dia com nossas atitudes e palavras. Hoje o Senhor nos pede que nós ressuscitemos pessoas que estavam mortas dentro de nós.

Quanta gente briga por causa de herança, quantas pessoas não se falam por causa de bens materiais e da herança. Se a pessoa está morta dentro de você traga-a à vida, dê oportunidade para as pessoas, porque nós também falhamos e também pecamos. Se Deus não desiste de nós, nós não podemos desistir de quem amamos.

Aquele pai sentiu que o filho o matara dentro de si, mas mesmo assim dividiu os bens entre os dois filhos. Um filho o mata em seu interior, o outro não; um filho vai embora com a herança e o outro fica ao lado do pai. Os filhos tomaram atitudes diferentes e isso também acontece em nossas casas. E muitos pais se culpam pela atitude dos filhos.

Aquele pai tinha dado a mesma educação e o mesmo amor para os dois filhos, mas eles tomaram direções diferentes. Pais, vocês não controlam a liberdade de seus filhos. Vocês nasceram livres, seus filhos também são livres e vocês não podem interferir nas suas escolhas, podem apenas orar por eles e ajudá-los a escolher.

Na verdade, nós nunca deixamos de ser filhos. Se eu e você chegarmos a um ponto da nossa vida em que sentirmos falta de colo de mãe e do colo de pai, nos joguemos nos braços de Deus. Você não deixa de ser mãe e seu filho não deixa de ser filho jamais.

Aquele filho do Evangelho de hoje gastou todos os bens e chegou a hora em que acabou com todo o seu dinheiro, ele foi então cuidar de porcos, o que significa que ele perdeu a dignidade. O pecado nos leva a ficar sujos como os porcos. Quem está no pecado, muitas vezes, gosta de se sentir indigno. Aquele filho se arrependeu do que tinha feito e voltou para casa.

Peregrinos

“Se você está na ‘varanda’ há muito tempo, eu lhe digo: Deus vai ouvi-lo na hora d’Ele, o tempo de Deus não é o nosso”, anima padre Arlon. Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Eu fico imaginando a dor daquele pai que não desistia e esperava o filho voltar com um olhar de esperança. Você consegue imaginar a alegria daquele pai ao ver o filho de longe, voltando? Aquele filho tinha matado o pai dentro de si, mas o pai não o havia matado em seu coração. O filho não deixou de ser filho.

Não importa o que você já tenha feito na sua vida, não há pecado que não seja perdoado se você se arrepender verdadeiramente. Eu e você sempre temos chance de recomeçar. Deus não desiste de nós e, todos os dias, assim como esse pai do Evangelho,  Ele vai à “varanda” nos esperar, esperar seu filho, esperar seu neto. Se você está na “varanda” há muito tempo, eu lhe digo: Deus vai ouvi-lo na hora d’Ele, o tempo de Deus não é o nosso.

O pai acolheu o filho pródigo e mandou que preparassem uma festa para ele, no entanto, a parábola também narra o ciúme do irmão que permanceceu com o pai. Provavelmente ele também tivesse matado o irmão dentro de si quando disse “ele não é mais meu irmão, é seu filho”. Quantas vezes nós tratamos os nossos assim.

Como olhar uma pessoa sofrendo e fingir que nada acontece? Para conseguir essa graça nós precisamos ter os sentimentos de Jesus, os sentimentos do Pai, que ama setenta vezes sete e que confia setenta vezes sete, ou seja, infinitamente. Você confia nas pessoas? A vida vai nos deixando duros de coração e, porque já sofremos muito, andamos com um escudo.

Os pais e as mães têm esse papel, dentro de casa, de reconciliar os filhos. Os pais não fazem escolha de filhos, filho é filho. E da maneira como vocês tratam seus filhos, Deus também vai tratá-los. A criança não guarda ressentimentos, confia no pai e fica no colo dele, Deus quer que nós sejamos assim com Ele. Deixemos que o Senhor cuide de nós, da nossa família e do nosso futuro.

Transcrição e adaptação: Míriam Santos Bernardes

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