O estilo de vida de Jesus

Padre Anderson Marçal

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Padre Anderson Marçal – Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

A Celebração do Lava-pés é a mais bela, porque ao mesmo tempo que tem um tom de despedida, tem um tom de festa. Jesus, que se despede, institui a Eucaristia. Quando recebemos o pão e o vinho consagrados, não é mais pão nem vinho, é o próprio Cristo que deixou de estar ao nosso lado para estar dentro de nós.

O mistério está escondido na Eucaristia. Antes de Sua Morte e Ressurreição, Jesus se deu no pão e no vinho para nos salvar. Ele quis entregar-se por nós, quis estar dentro de nosso coração. O querer de Deus não é outro, senão estar conosco.

Como está o seu coração, que é a casa de Deus? O templo é simplesmente um reflexo do que está dentro de nós. Coloque essa frase dentro do seu coração e diga-a com convicção, independente da situação pela qual você esteja passando.

Jesus poderia, simplesmente, ter estalado os dedos e tudo estaria salvo, estaria renovado. Ele não precisaria passar por toda Sua Paixão, mas Ele quis fazer tudo conforme a vontade do Pai.

Antes de Sua Morte e Ressurreição, Jesus quis entregar-se na Ceia para ter parte conosco. A Santa Missa é um rito que nos salva, não simplesmente uma festa para perdoar os pecados, menos ainda é um teatro. São Paulo, quando narra o rito de Jesus, Ele diz que estamos celebrando a vontade de Deus.

Quando Jesus se doa no altar é para não perder nenhum de nós. Por isso, não é apenas um “perdãozinho” de pecados, mas nossa salvação por inteiro. Na ceia, Ele quis nos alimentar para não nos perder.

São Paulo termina a carta dizendo: “Todas as vezes, de fato, que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que ele venha”. Nossa esperança ao celebrar cada Eucaristia é esta: Deus está vindo. Cada vez que participamos da Eucaristia, significa que também estamos a caminho em direção a Ele.

Quando duas pessoas, que há muito tempo não se veem, ao encontrar-se vão correndo uma em direção a outra – como nos filmes -, assim devemos ser com a Eucaristia. Temos de ir correndo ao encontro do Senhor. Não podemos parar.

Do jeito que as coisas estão no mundo, cristão que para é engolido pelas avalanches. O Senhor está vindo em cada Eucaristia, mas também O esperamos em Sua segunda vinda. Não podemos estar mortos na Missa como se estivéssemos participando de um teatro. Ele não quer mais que fiquemos na vida velha.

Será que estamos indo em direção ao Senhor?

Primeiramente, Ele quis entregar-se por nós, pois o querer de Deus não é outro senão a nossa salvação. Ele está vindo ao nosso encontro, então, corramos ao encontro d’Ele.

Esta Celebração é chamada Missa de Lava-pés, porque recorda um gesto de Jesus, não é apenas uma repetição teatral. Somos discípulos e fazemos o mesmo que o nosso Mestre.

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Santa Missa de Lava-pés na Canção Nova – Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

O Evangelho diz que Jesus lavou os pés dos doze, inclusive o de Judas. Lavar os pés uns dos outros significa ser discípulo de Jesus. Mas o mundo nos ensina o contrário, ele nos estimula a pisarmos uns nos outros.

Precisamos fazer os gestos de Jesus no dia a dia. O amor nasce de uma repetição de amor, assim como a reconciliação e outras virtudes. Como estamos exercitando essas virtudes no concreto das nossa vida?

Existem pessoas que gostamos de usar, abusar e pisar. Fazemos isso no maldito “jeitinho brasileiro”, de quem quer se vender e levar vantagem em tudo. Se pisarmos no outro, não seremos cristãos, menos ainda assumiremos o que Jesus fez.

Antes de lavar os pés uns dos outros, precisamos aceitar o Cristo que lava nossos pés. Ele quis fazer esse gesto para ter parte com cada um de nós. Não é fácil adotar o estilo de vida de Cristo! Podemos nos enganar dizendo que vamos à Missa, que já pregamos, fazemos parte de pastorais, mas se não adotarmos as bem-aventuranças, não teremos parte com o Senhor. Elas são o estilo de vida do Mestre. O lava-pés não é rito nem obrigação, mas o estilo de vida do Senhor.

No início de Seu apostolado, Jesus falou das bem-aventuranças e, na última noite, mostrou o que elas são. Precisamos imitar o Mestre com gestos e palavras até que Ele venha.

Desnudação do altar ao da Santa Missa de Lava-Pés - Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Rito da desnudação do altar após a Santa Missa – Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Se o lava-pés é o estilo de vida de Jesus, o que nossos gestos, escolhas, palavras e sentimentos dizem desse estilo de vida? Perceba que lavar os pés uns dos outros não é apenas um gesto de perdão e caridade, mas um ato profundo de conversão. A celebração desta noite é um chamado de Deus à conversão.

Será que Jesus aceitaria morar na casa em que moramos ou que gostaríamos de morar? Será que Ele esbanjaria tanto com si mesmo vendo tantas pessoas ao Seu lado que não têm nada? Às vezes, damos gorjetas aos outros. Ele daria gorjetas?

Temos coragem de comer tranquilamente com milhares e milhares de pessoas passando fome ao nosso lado? Não podemos matar a fome do mundo inteiro, mas ao menos daqueles que estão mais próximos de nós.

Lavar os pés dos outros é pegar aquela carne que você, por escolha, não comeu na Quaresma e dá-la àquele que, por falta de escolha, não a comeu. De quem estamos lavando os pés? Não vivamos mais apenas um Tríduo Pascal, mas ouçamos o apelo de Deus que está gritando por conversão. E você cristão, tem repetido os passos de Jesus? Se não conseguirmos imitá-Lo nos pequenos gestos, não conseguiremos imitá-Lo nos grandes.

Tenhamos o coração aberto para escolheremos o estilo de vida de Jesus, entregando-nos para sustento e lavando os pés uns dos outros. Seremos verdadeiros cristãos quando nos fizermos Eucaristia para os outros. E por que faremos tudo isso? Para sermos capazes de nos lembrar o que Ele fez por nós.

Só seremos cristãos se olharmos para a cruz e vermos o que Ele foi capaz de fazer. Nós não somos Judas, somos discípulos.

Transcrição e adaptação: Rogéria Nair

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