Decisão pela amizade com Cristo

Se eu gostaria de ter alguma coisa escrita no meu túmulo é: "Ele tentou ser amigo de Deus e amigos dos homens". Por quê? Porque fui escolhido. Não podemos falar de amizade sem abrir o coração. Quero partilhar com vocês o dom da minha vida.

Ouça: "Ser amigo de Deus e dos homens"

O Papa Bento XVI, quando veio ao Brasil, disse: "Só quem reconhece Deus conhece a realidade e pode responder a ela de modo adequado e realmente humano". Em outra passagem no livro Jesus de Nazaré que ele escreveu, ele diz: "O homem só se entende a partir de Deus e só quando vive na relação com Deus sua vida é correta".

Tudo o que é humano e, portanto, a amizade também, só pode ser entendida a partir de Deus. Eu gostaria de falar de duas coisas. Em primeiro lugar, abrir o coração e minha vida, a partir da realidade fundante da minha vida e da amizade.

A minha família era tradicionalmente católica e minha mãe era – e ainda é – uma mulher muito temente a Deus e engajada na Igreja. Minha mãe queria muito ter um filho. E como ela era engajada na Igreja, fez um acordo com Deus: "Senhor, se tu me deres um filho, eu o consagrarei a Ti".

E então ela teve a primeira gravidez e nasceu uma menina. Ela acolheu alegremente, mas continuou pedindo um homem. Passou-se outro ano, ela engravidou e nasceu a segunda menina. Passaram-se três anos e nasceu a terceira filha. Ela continuou a rezar, e depois de 12 anos engravidou e teve a quarta menina. Um ano depois nasceu a quinta menina. Passaram-se seis anos, ela tinha 43 anos, ela engravidou e eu nasci.

Ouça: Moysés abre o coração e conta sua história

Eu não gostava muito dessa história na minha adolescência, porque por meio de minhas amizades não tão favoráveis comecei a me afastar da Igreja, de Jesus Cristo e a querer ser amigo do mundo. Eu disse a minha mãe: "A promessa é sua, mas a vida é minha". Com um pedido, ela realmente silenciou.

Eu conheci uma amiga, e ela me disse: "Queria te convidar para a gente passar um final de semana fora". Eu disse: "Vamos, vamos!". Mas ela disse: "É o seguinte; nessa semana é num convento, num retiro de jovens". Eu disse: "Tô fora".


Meus pais permitiram eu me afastar de Deus, mas não permitiram que eu faltasse à Missa:
"Enquanto você morar aqui, Missa com a família aos domingos, às 6 horas da manhã". Era o fio invisível que me mantinha unido a Deus.

Mas quando essa minha amiga insistiu, ela usou de uma sabedoria também. "Moysés, é o seguinte. Esse evento é o máximo. Você tem que preencher uma ficha, e muita gente está buscando participar. Minha ficha, faz um ano que eu a fiz". Ela fez minha ficha, passou-se um ano e na hora do intervalo no colégio, ela me disse: "Você se lembra daquele encontro?". Eu lembrava, mas disse que não. Ela disse que havia chegado a ficha dela. Aí eu disse que lembrava. Era uma segunda-feira. Na quarta-feira, ela me liga: "Você não sabe! Eu falei com o bispo e eu consegui que tua ficha andasse um ano e você vai comigo nesse ano". Constrangido eu disse: "Sim".

A única coisa que eu conhecia de Igreja era a música "Bendita, louvada seja…" Mas cativado pela perseverança da amiga, eu fui. Ali, eu fui apresentado ao “o amigo”. Aquele que me amou desde toda eternidade. Pude experimentar que Ele me amava de uma maneira única, particular, especial. Aí eu fui e voltei para onde eu nunca deveria ter saído. Para a família dos amigos de Jesus.

Eu comecei minha caminhada de fé na Igreja, mas acontecia que eu tinha feito essa experiência: Jesus disse: "Deixa tua barca e vem para a minha barca". O olhar de Jesus atrai profundamente os corações. Eu disse: "Eu quero sim. Eu vou". Só que eu pus um pé na barca de Jesus e me esqueci de tirar o outro pé da barca do mundo, da minha vida. Determinados círculos de amizade que me levavam ao pecado… Eu achava que dava para conciliar. Jesus disse que só há dois caminhos: o largo que leva a perdição, e o caminho do amigo, o estreito, que leva à salvação.

Quem está no meio-termo já está há muito tempo no caminho largo e não sabe.
Só que a barca de Jesus é muito dinâmica, sempre está em movimento. E não dá para conciliar a barca do mundo com a de Jesus. Ou você põe os dois pés na barca do mundo, ou põe os dois pés na barca de Jesus.

E quem me levou para Deus? Um amigo, chamado Hugo. Ele me fez tomar uma decisão definitiva por Deus. Eu não sabia nem direito o que era rezar, mas ele me chamava a atenção pela oração, pela Palavra de Deus.

Um dia, estávamos juntos na Igreja e Hugo estava rezando, na sua amizade com Deus. Meu tempo máximo de oração era 10 minutos. Eu não conseguia mais e disse a ele: "O que é que você tem que eu não tenho?". Ele me disse: "Explica melhor". Eu disse a ele: "Eu sou colega de Deus, mas você é amigo". Ele respondeu: “Você quer mesmo isso? Sem uma decidida decisão não há como construir a amizade”.

E naquele dia, Hugo me levou para diante do Santíssimo Sacramento e pediu a experiência da efusão da amizade com Deus. No outro dia de manhã, 6 horas, eu despertei com uma sede de Deus, uma sede da Palavra de Deus e fiquei até meio-dia lendo a palavra de Deus e rezando. Quando se passaram 15 minutos eu me assustei, quando se passaram 4 horas eu me assustei mais ainda.

Eu liguei para ele e perguntei o que ele fez comigo. Ele me disse: "Você foi batizado no Espírito Santo".

Tudo mais não terá como ser construído se não for na rocha firme que é Ele. Ele providenciará verdadeiros amigos para nos encaminhar n’Ele. Se vamos falar de amizade, de vida e relacionamento humano temos que falar primeiramente de Deus. Sem Deus não há liberdade, sem Deus a amizade é não-autêntica. A amizade espiritual é a verdadeira, porque é fundada em Deus.

Eu fui caminhando na vida e encontrei outro anjo, chamado o servo de Deus, João Paulo II. Muitos de vocês sabem essa história, mas vou dizer.

Quando o Papa veio ao Brasil, o bispo pediu que eu levasse um presente e ele. Eu perguntei: "O que eu, um jovem de 20 anos, podia dar de presente ao Papa?" No meu coração, eu tinha recebido a amizade com Jesus Cristo na oração, nos sacramentos, na Igreja. Tudo aquilo me fazia feliz e eu disse: "Não posso reter o que de graça eu recebi".

Lembro-me bem que na minha angústia de olhar nos olhos dos jovens da minha cidade, eu vinha da faculdade de carro um dia, quando um jovem passava na faixa branca. Parecia que o tempo parava e aquele desejo de eu dar a ele a realidade da amizade com Jesus Cristo tornava-se imperioso para mim.

Todo o meu ser dizia: "Eu sou devedor desse jovem. Jesus Cristo me tirou da morte, me fez amigo. Ele deu-me a conhecer os segredos infinitos do seu coração. O que aquele jovem busca, se não é felicidade? Mas em que caminhos ele está buscando?"

Quando o bispo me disse que eu é que escolheria o presente que daria ao Papa, eu decidi: nada menos que a minha vida e a minha juventude para fazer os outros felizes. Eu decidi ofertar minha vida nas mãos do Papa em favor dos que estavam longe da amizade com Cristo e com a Igreja.

O Papa foi aquele anjo, em 9 de julho de 1980, naquela fila. O que foi que eu disse? Nada. Só fiz entregar a minha carta, na qual eu consagrava a minha vida. Eu vi nos olhos dele os olhos de Pedro, de Cristo, que me acolhiam e me abraçavam, me abençoavam e me enviavam para fazer mais e mais amigos para Deus.

Não vou me esquecer do azul dos olhos de João Paulo II que representava o abismo a misericórdia divina que me abençoava, e as mãos dele que confiavam e acolhiam tudo o que eu trazia no coração. Uma verdadeira amizade nunca e jamais é fechada em si mesma. É um amor aberto que inunda o mundo inteiro.

Ouça: "Vale a pena dar o nosso tudo"

Transcrição: Maurício Rebouças
Fotos: Fernando Fantini


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