Nossas famílias precisam ser uma Igreja doméstica onde Deus está
Permitam-me dizer, primeiramente, uma palavra sobre o martírio de São Lourenço. Quando celebramos o sangue dos mártires, nós não podemos deixar de falar que o martírio é o sangue do sacrifício de Cristo que se renova no altar.
A Palavra começa afirmando que, se a semente não morrer, não gerará vida. Jesus completa isso olhando para nós e nos dizendo que quem quiser salvar sua vida vai perdê-la. Jesus é a semente que veio ao mundo, que foi lançada neste mundo e morreu para nos dar a possibilidade de ressuscitar. Vários cristãos deram, de fato, a vida por Cristo. No decorrer da nossa história, nós encontramos muitas pessoas que preferiram se entregar à morte a entregar a sua fé. Percebemos que, desde o início, os cristãos entenderam que, quem quer seguir Jesus, precisa carregar a cruz com Ele.
A dimensão do martírio está na base da vida cristã e é essencial para que sejamos seguidores de Cristo. Ser cristão é abraçar a cruz, não há outra alternativa.
Olhando para os tempos de hoje, temos também que enfrentar grandes inimigos. Se não formos capazes de dar a vida pelo que vale a pena, o mal continuará crescendo entre nós. Será que não temos de aprender com os primeiros mártires que só existe esse caminho para vencermos o mal? A única forma de combatermos o mal é com a vivência da radicalidade do Evangelho. O mal é radical e, se não tivermos a mesma radicalidade dele a ponto de fazer nossa vida ser transformada, não entenderemos qual é a proposta de Cristo e, assim, faremos do nosso seguimento algo cômodo.
O caminho de Cristo deve continuar provocando nossa vida e nossa espiritualidade para abraçarmos a vida com radicalidade. O servir [a Deus e ao próximo] é a forma mais completa de sermos radicais e mártires.
Prometi falar um pouco também sobre a Semana Nacional da Família e sobre a Comissão Episcopal da Vida e Família. Na Igreja do Brasil existem 12 comissões para tratar de assuntos importantes, nas quais há sempre um bispo à frente, e eu fui escolhido para presidir esta comissão. A família é um dos temas fundamentais que passa por toda a ação evangelizadora da Igreja. É importante perceber que a Pastoral Familiar é algo abrangente e deve envolver todos para levar a reflexão sobre família à catequese, aos noivos e a todos os movimentos da Igreja. Hoje, vemos batendo à nossa porta todos os tipos de agressão à família, os quais vão desfigurando aquilo que é um dom de Deus e uma fonte de santificação para a nossa vida. Por essa razão, os temas “vida” e “família” estão presentes na preocupação da Comissão Episcopal.
O tema da Semana Nacional da Família deste ano é “O amor é nossa missão: família plenamente viva”. Falar em missão é algo central da proposta da Igreja, e todo cristão precisa ser missionário. A missão da família é sair também em missão, levando o que ela tem de mais precioso: o amor. Há famílias bem constituídas, assim como há famílias fraturadas que vivem conflitos imensos e separações. Muitas famílias estão fragilizadas pelo modismo e por ideias equivocadas que as levam ao fechamento e ao egoísmo. Há famílias que não conseguem mais ser famílias! Este é o ambiente para o testemunho de famílias cristãs. A Semana da Família quer chamar a atenção para os grandes desafios enfrentados pelas famílias.O segundo foco do tema deste ano – “a família plenamente viva” – significa que não basta apenas ser vivo no sentido biológico, mas sim, ter vida plena, que foi o motivo para a vinda de Jesus. Família plenamente viva é aquela que entendeu a proposta do Evangelho, busca viver na abundância evangélica e passa a ser defensora da vida. Vivemos um momento muito importante nos dias de hoje, pois, depois de tanta agressão contra as famílias, a Igreja acordou. O Papa Francisco estabeleceu que a Igreja toda refletisse sobre a família. Temos uma grande esperança pela frente.
O Sínodo quer fazer uma revisão das bases da vida familiar para descobrir o modo de enfrentar todos os grandes desafios vividos pelas famílias. Que possamos entender melhor o que a Igreja diz sobre a família, e compreender o desígnio de Deus para as famílias. A família deve ser um altar de martírio, sim, porque é o lugar no qual se deve entregar a vida um pelo outro. Para isso podemos olhar para a Sagrada Família. Nossas famílias precisam ser uma Igreja doméstica onde Deus está.
O Encontro Mundial das Famílias acontecerá nos Estados Unidos de 22 a 27 de setembro e o Sínodo acontecerá em Roma, no qual cada representante da Conferência Episcopal vai refletir sobre o assunto e mostrar o caminho seguro para que a sociedade cresça no amor e na santidade.
Transcrição e adaptação: Míriam Bernardes