Prezados irmãos e irmãs, o meu coração se enche de alegria e satisfação, porque estamos celebrando 20 anos de comunidade Bethânia. Deus plantou esta comunidade no coração do padre Léo.
O Evangelho de hoje, tirado do capítulo 6 de São Lucas, nos dá a dimensão exata do que significa estar diante de alguém. O outro tem que deixar de ser um estranho, precisamos acolhê-lo e trazê-lo para perto de nós, retirando todos os pré-conceitos e fazendo com que caiam as barreiras que nos impedem de acolher. O discípulo precisa ser como o mestre e nosso mestre sabia acolher, independentemente da situação, independentemente de quem era. Jesus acolhia todos, sem distinção.
Peçamos ao Senhor a cura do nosso olhar, para que caiam as travas que, muitas vezes, nos impedem de viver o amor, um amor cristão. Nós, família Bethânia, nos sentimos confortados pela vida do Papa Francisco que nos convoca à misericórdia. Primeiro, é preciso amar.
O Papa pede que a Igreja do mundo inteiro abra as portas para os refugiados. Ele lançou este desafio às Igrejas para que as suas portas, mas também as portas das nossas casas sejam abertas para acolher o irmão e o único jeito é tirando as escamas, tirando as amarras que nos prendem. Somos chamados a amar como um comprometimento com o nosso batismo, um compromisso de cristãos.
Bethânia é chamada a ser especialista na pedagogia da acolhida, do encontro. Que Bethânia nos ajude a arrancar as travas dos nossos olhos!
Bethânia nasceu no coração de um jovem chamado Tarcísio, do interior de Minas. Padre Léo nasceu em uma família simples, mas ele cresceu sabendo o valor da família, o valor da partilha. Saindo do interior, ele se encontrou com todas a mazelas que uma cidade grande pode levar às pessoas. Ele que, mesmo tento experimentado as drogas, reconhecendo que tinha um vício, não permitiu que os seus valores fossem sufocados e foi em busca de Deus. Participou da Renovação Carismática Católica, conheceu monsenhor Jonas e depois de um tempo se tornou o Frei Léo, um jovem que se apaixou pela Sagrada Escritura e saia para falar da Palavra de Deus à juventude.
Foi usuário de drogas e um dia, enquanto usava cocaína, teve uma visão da Sagrada Eucaristia e ali decidiu ser padre. Procurou um seminário e foi para Lavras, onde iniciou este caminho em direção ao sacerdócio. Depois de algum tempo foi para Santa Catarina e começou a trabalhar com jovens em um colégio, em que era diretor, e via o sofrimento dos jovens, via os jovens dependentes químicos como ele tinha sido. Pensando nestes jovens, como seria a vida deles, para onde iriam e que precisavam de um recanto para serem acolhidos, encontrou a Bethânia bíblica e descobriu que lá era uma colônia de leprosos.
Em Mateus 26, 6 lemos: “Encontrava-se Jesus em Betânia, na casa de Simão, o leproso.” e em Marcos 14, 3: “Jesus se achava em Betânia, em casa de Simão, o leproso.” Se Simão morava lá, padre Léo concluiu que Bethânia era uma colônia de leprosos.
Mas, como Jesus gostava de ficar numa colônia de leprosos, como isso era possível? Só um homem capaz de olhar o outro como dádiva de Deus é capaz de tal atitude. Padre Léo dizia que era preciso existir recantos como aquela Bethânia. Ele começou a desejar uma colônia de leprosos que pudesse acolher os leprosos do nosso tempo.
Estamos em um momento de consciência leprosária. Isso significa que se Jesus quebrava os paradigmas e ficava em uma colônia de leprosos, nós não podemos ter medo de acolhê-los, porque nós também o somos. A lepra é símbolo da condição humana, do nosso pecado. Todos nós precisamos acolher e precisamos ser acolhidos, todos nós precisamos ir ao encontro deste recanto onde podemos ter o amor que nos envolve.
Somos filhos amados de Deus e como Ele nos ama, também devemos nos amar. Consciência leprosária que faz com que não julguemos ninguém. Nada do que é humano, nos é estranho. Em Bethânia, não nos escandaliza o pecado de ninguém. Nós acolhemos, porque nesta colônia de leprosos experimentamos o amor de Deus que nos ama de forma infinita e este amor transborda e nos faz acolher. Padre Léo sentiu isso tão forte que outros ficaram entusiasmados à sua volta.
Bethânia é para os drogados, prostituídos. Em um dos seus discursos, padre Léo disse que assim como a imagem de Nossa Senhora Aparecida foi tirada do rio Paraíba quebrada, cheia de lama, assim os nossos filhos chegarão à Bethânia. Mas, assim como essa imagem foi restaurada sendo fonte de tantos milagres, no chão de Bethânia, aqueles que foram sujos pela lama da droga serão restaurados e ressurgirão para a vida como essa imagem ressurgiu das águas.
Foram milhares, inúmeros filhos que na comunidade Bethânia se reergueram da lama do pecado, da prostituição, de tantas coisas que ferem a dignidade humana. Bethânia não desiste de ninguém, Deus não desiste de ninguém!
Celebrar os 20 anos de ‘Na trilha da cura’ é celebrar a certeza de que Bethânia continua, mostrando que nosso caminho é do mestre Jesus e precisamos ser como Ele. Bethânia vai continuar, porque o mundo tem necessidade deste amor acolhedor que arranca dos nossos olhos as travas que nos impedem de enxergar o outro.
Que assim como Marta, Maria e Lázaro a sua casa seja Bethânia, que o seu coração seja Bethânia!
Transcrição e adaptação: Míriam Bernardes