Procurais um Mestre ou um criminoso?

Padre Fabrício Andrade

Neste dia em que a Igreja vive um grande mistério, vivemos a sensação de uma forte tensão, pois nosso coração vai crescendo em direção àquele horário das 15h da tarde, e nós precisamos estar preparados, por isso o anúncio da Palavra vem provocar em nós uma resposta. Não é dia de tristeza, mas sim de reflexão para que possamos digerir o que estamos vivendo.

Eu quero ajudar você a se preparar para viver bem tudo isso. Nesta palestra, vamos ver dois grupos: o primeiro está no Evangelho de São João 1,35-41; eu desejo que você se encontre neste primeiro grupo, pois nele estão envolvidos dois discípulos que são conduzidos por João Batista a olhar para Jesus e eles começam a segui-Lo.

Na escola rabínica, é de costume os discípulos escolherem seus mestres, porém, com Jesus é diferente, porque é Ele quem nos escolhe. O Senhor para e se volta para esses dois discípulos e lhes diz: “Que procurais?”, assim, Ele queria abrir as portas do Seu coração para que aqueles homens O conhecessem, pois eram envolvidos por um desejo de procurar um Mestre. Então, perguntam a Jesus: “Rabi, onde moras?”.

Jesus abre, de forma plena, a Sua vida e diz: “Vinde e vede!”. Com isso, Ele os convida a conhecê-Lo de fato, a segui-Lo e a buscá-Lo. Este é o primeiro grupo. O Evangelho nos conta que os dois discípulos foram com Jesus e ficaram com Ele; eles fizeram a experiência com o Cristo, de forma que, depois, André vai até o seu irmão Simão e diz a este: “Encontramos o Cristo!”.

Existe, no entanto, um outro grupo: o segundo. Este, podemos ver no Evangelho de São João 18,1-8 e, depois, no versículo 12. Neste grupo, encontramos Judas e um batalhão. Jesus está em um jardim, cujo lugar é um antídoto para o outro jardim onde Adão foi aprisionado pelo pecado. Agora, o novo Adão se entrega e não é preso.

No primeiro grupo, João Batista conduz um pequeno grupo de dois discípulos. O segundo é conduzido por Judas, o qual é composto por um batalhão.

Imagine um grupo de dois discípulos contra um batalhão. O primeiro grupo estava sem nada, deixaram tudo para seguir o Senhor; o segundo, de Judas, estava armado e saíram para perseguir o Mestre.

Jesus sabia tudo o que ia acontecer e, por isso, entrega-se; não são eles que O prendem. A mesma pergunta que o Senhor fez ao primeiro grupo, Ele a faz ao segundo: “A quem procurais?”. Ele se demonstra imparcial com aqueles que O seguem e com aqueles que O perseguem. Jesus, com esta pergunta, quer tocar no que buscavam os corações daqueles discípulos do primeiro grupo, da mesma forma fez com o segundo grupo, ou seja, estes também têm a mesma oportunidade de saciar a sede como aqueles que O buscavam no primeiro grupo.

O primeiro grupo responde com a sede de encontrar um Mestre; já o segundo, responde que procuram Jesus de Nazaré, Aquele que era considerado um desordeiro, um criminoso. O segundo grupo busca Jesus como uma mercadoria que Judas tinha vendido por 30 moedas de prata. Da mesma forma que fazemos quando compramos um produto e vamos à loja, petulantes, exigir o produto que não nos foi entregue. Assim chegou aquele batalhão, como que dizendo: “Nós queremos aquilo pelo que pagamos”.

Jesus estava disposto a se revelar por inteiro para os dois grupos, porém, o segundo tem uma decisão diferente do primeiro. O Senhor proclama: “Sou eu!”. A força da Sua Palavra, a força da Sua proclamação faz com que o batalhão recue e caia por terra. Enquanto os dois discípulos se aproximaram do Senhor e ficam com Ele por um dia inteiro, o segundo grupo, conduzido por Judas, recua e cai por terra.

Jesus é insistente quando quer o coração de alguém, por isso pergunta pela segunda vez: “A quem procurais?”, mas aqueles homens não procuram por um Mestre, mas pelo criminoso que eles achavam ser Jesus. O primeiro grupo terminou sua experiência proclamando: “Encontramos o Cristo!”, mas o segundo: “Prendemos o Cristo!”.

Você se aproxima de Jesus querendo um Mestre ou um produto (como aquele que vê Jesus num mercado)? Nestes dias – do Tríduo Pascal -, as pessoas lotam as igrejas. Algumas buscam Jesus, porque precisam de um Mestre, mas há aqueles que O perseguem simplesmente por aquilo que Ele faz; estes são incapazes de suportar o peso da graça daquilo que Ele é.

Eu lhe pergunto: “A quem procurais?”: o realizador de milagres? Procurais o Jesus grandioso? Cuidado, pois você, hoje, encontrará um homem fraco na cruz. No entanto, aqueles que procuraram Jesus pelo que Ele é, permaneceram com o Cristo mesmo na cruz e, por isso, hoje, somos a Igreja Católica Apostólica Romana!

Decida-se. Quem você deseja procurar? Imagine que, hoje, tantos fazem churrasco, andam pelos shoppings, mas Jesus lhes pergunta: “A quem procurais?”. Eu coloquei, diante de você, dois grupos. Um grupo que achou ter prendido e vencido o Senhor; outro, de um batalhão que saiu cheio de si por terem prendido o criminoso Jesus, mas, na verdade, foram vencidos pela força do que o Senhor é. O primeiro grupo fez a experiência de procurar o Mestre e, mesmo em pequeno número, fizeram a melhor experiência.

De qual grupo você deseja fazer parte? Decida-se. Responda. “Eu me decido, eu quero somente Jesus! Eu não quero ser Seu perseguidor, não quero perseguir Seus milagres, mas quero buscá-Lo, meu Mestre.”.

Jesus usa a mesma pergunta: “A quem procurais?” e dá a mesma oportunidade aos dois grupos. Mas a decisão de um foi diferente do outro. Hoje, é você quem deve decidir. O Filho de Deus dá a Seu povo a oportunidade de escolher o melhor, que escolha estar com Ele pelo que Ele é, mas não pelo que Ele faz.

O mundo espera que você viva essa proclamação que André fez: “Encontramos o Cristo!”. Por isso, hoje não é dia de tristeza, mas de alegria, pois encontraremos o Nosso Senhor morto neste dia, mas nós já sabemos que Ele vai ressuscitar!!!

No final, a coisa começa a se inverter. Aquele grupo que era composto somente por dois discípulos, começa a crescer e ficar numeroso. Dê sua resposta, hoje, para a pergunta de Jesus: “A quem procurais?”. Preste atenção durante todo este dia, pois o silêncio que a Igreja faz é, justamente, um espaço para que você dê a sua resposta. Não se esqueça de, no espaço do silêncio deste dia, dar, com autoridade, a sua resposta a Ele. Esta pregação não termina com a pergunta, eu apenas lhe trouxe ela; esta pregação termina com a sua resposta, “A quem procurais?”.


Transcrição e adaptação: Flávio Pinheiro

 

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