Estamos reunidos, na tarde deste Sábado Santo, para meditar a Palavra de Deus. Nós estamos vivendo a expectativa da celebração jubilosa da Páscoa da Ressurreição de Jesus Cristo. A partir desta noite as comunidades cristãs vão se reunir para celebrar Cristo Vivo e Cristo Ressuscitado.
Cristo venceu a morte para nos dar a salvação, a Liturgia da Palavra nos coloca em contato com diversos textos bíblicos que narram as aparições do Cristo Ressuscitado. Portanto, nestes 50 dias, vamos contemplar a obra de Deus e de Sua Ressurreição nos encontros e aparições do Ressuscitado.
A Igreja, por meio da liturgia pascal, quer nos proporcionar um encontro transformador com Cristo Vivo e Ressuscitado, que vem nos dando a graça de uma vida nova.
O encontro de Jesus com Maria Madalena, com Pedro, João, Tomé, com os Doze apóstolos, e depois com Paulo, que estava a caminho de Damasco, e com tantos outros que tiveram a oportunidade de ser testemunhas oculares do Ressuscitado fez com que todos tivessem suas vidas transformadas, pois a vida de Deus penetrou de tal forma no coração dessas pessoas que elas jamais foram as mesmas. Muitas das quais tiveram a capacidade de enfrentar perseguições e humilhações e até mesmo de dar a vida devido a essa experiência com o Senhor.
Os discípulos de Jesus encontraram alegria até mesmo no sofrimento. Pela fé eles entenderam que a perseguição, por causa do Reino de Deus, os tornava mais semelhantes a Cristo e os colocava mais em comunhão com Ele.
Ao começar este tempo pascal, que se inicia na vigília nesta noite, peço que o Senhor dê a mim e a você a graça do encontro com Jesus Cristo Ressuscitado.
Destas diversas passagens bíblicas e textos dos Evangelhos, eu gostaria de destacar para vocês uma aparição do Ressuscitado e o que aconteceu em particular na vida do apóstolo São Pedro, a qual está narrada no Evangelho de São João 21,15-19: “Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?” Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”. Jesus lhe disse: “Cuida dos meus cordeiros”.16.E disse-lhe, pela segunda vez: “Simão, filho de João, tu me amas?”. Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”. Jesus lhe disse: “Sê pastor das minhas ovelhas”.17.Pela terceira vez, perguntou a Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas?” Pedro ficou triste, porque lhe perguntou pela terceira vez se era seu amigo. E respondeu: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo”. Jesus disse-lhe: “Cuida das minhas ovelhas.18.Em verdade, em verdade, te digo: quando eras jovem, tu mesmo amarravas teu cinto e andavas por onde querias; quando, porém, fores velho, estenderás as mãos, e outro te porá o cinto e te levará para onde não queres ir”.19.( Disse isso para dar a entender com que morte Pedro iria glorificar a Deus. ) E acrescentou: “Segue-me”.”
Meditemos, irmãos, sobre este diálogo que aconteceu entre Cristo Ressuscitado e Pedro. Gostaria de dizer a você que Jesus é a revelação suprema do amor e da misericórdia de Deus, e quando aparece, ressuscitado, Ele não condena Pedro, mas dá a ele a oportunidade de rever as opções mais importantes de sua vida. Jesus lhe faz três perguntas nas quais ele manifesta a Pedro o amor e a misericórdia de Deus. O Senhor Jesus, mesmo conhecendo Pedro e sabendo de sua negação, tem a coragem de confiar a esse apóstolo a Sua Igreja. No Evangelho de São Lucas 22,31-34 nos é apresentado mais um diálogo de Jesus com Simão Pedro: “Simão, Simão! Satanás pediu permissão para peneirar-vos, como se faz com o trigo.32.Eu, porém, orei por ti, para que tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos”.33.Simão disse: “Senhor, eu estou pronto para ir contigo até mesmo à prisão e à morte!”34.Jesus, porém, respondeu: “Pedro, eu te digo que hoje, antes que o galo cante, três vezes negarás que me conheces”.
Jesus confiou a Pedro a missão de edificar a Sua Igreja sobre a Rocha da fé apostólica, que é a fé dos apóstolos, a começar pelo próprio apóstolo São Pedro. Nesta passagem contemplamos a instituição da Igreja, embasada na fé de São Pedro: 13.Jesus foi à região de Cesaréia de Filipe e ali perguntou aos discípulos: “Quem é que as pessoas dizem ser o Filho do Homem?”14.Eles responderam: “Alguns dizem que és João Batista; outros, Elias; outros ainda, Jeremias ou algum dos profetas”.15.“E vós”, retomou Jesus, “quem dizeis que eu sou?”16.Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”.17.Jesus então declarou: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne e sangue quem te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu.18.Por isso, eu te digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e as forças do Inferno não poderão vencê-la.19.Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mateus 16,13-19).
Gostaria de partilhar com vocês um trecho da catequese que o Papa Bento XVI fez sobre este trecho do Evangelho, sobre o qual estamos refletindo agora, no dia 24 maio 2006: “Numa manhã de Primavera esta missão ser-lhe-á confiada por Jesus ressuscitado. O encontro será na margem do lago de Tiberíades. O evangelista João narra-nos o diálogo que naquela circunstância se realiza entre Jesus e Pedro. Nele revela-se um jogo de verbos muito significativo. Em grego o verbo “filéo” expressa o amor de amizade, terno mas não totalizante enquanto o verbo “agapáo” significa o amor sem reservas, total e incondicionado. Jesus pergunta a Pedro pela primeira vez: “Simão… tu amas-Me (agapâs-me)” com este amor total e incondicionado (cf. Jo 21, 15)? Antes da experiência da traição o Apóstolo teria certamente respondido: “Amo-Te (agapô-se) incondicionalmente”. Agora, que conheceu a amarga tristeza da infidelidade, o drama da própria debilidade, diz apenas: “Senhor… tu sabes que sou deveras teu amigo (filô-se), isto é, “amo-te com o meu pobre amor humano”. Cristo insiste: “Simão, tu amas-Me com este amor total que Eu quero?“. E Pedro repete a resposta do seu humilde amor humano: “Kyrie, filô-se”, “Senhor, tu sabes que eu sou deveras teu amigo”. Pela terceira vez Jesus pergunta a Simão: “Fileîs-me?”, “tu amas-Me?”. Simão compreende que para Jesus é suficiente o seu pobre amor, o único de que é capaz, e contudo sente-se entristecido porque o Senhor teve que lhe falar daquele modo. Por isso, responde: “Senhor, Tu sabes tudo; Tu bem sabes que eu sou deveras teu amigo! (filô-se)”. Seria para dizer que Jesus se adaptou a Pedro, e não Pedro a Jesus! É precisamente esta adaptação divina que dá esperança ao discípulo, que conheceu o sofrimento da infidelidade. Surge daqui a confiança que o torna capaz do seguimento até o fim: “E disse isto para indicar o gênero de morte com que ele havia de dar glória a Deus. Depois destas palavras acrescentou: “Segue-Me”!” (Jo 21, 19) ”.
Pedro reconhece suas limitações e, a partir de Pentecostes, recebe de Deus o auxílio necessário para cumprir com dignidade sua promessa de dar a vida pelo Seu Mestre.
Transcrição e adaptação: Mariana Lazarin Gabriel