Umas das situações mais comuns no nosso dia-a-dia é a ansiedade. Nas grandes cidades, o trânsito, o dia -a-dia em si já faz com que a gente viva nesta ansiedade, há também as preocupações na família, tudo isso nos causa uma ansiedade maior. O medo é normal a gente ter, é uma situação de autopreservação; é por causa do medo, por exemplo, que deixo de ser multado numa rodovia, pois corro menos ou por causa dele eu evito um acidente de cair de local de grande altura. Eu evito causar problemas maiores por causa do medo.
O corpo quando está em situação de luta-fuga, de uma briga, por exemplo, precisa de mais oxigênio e isso é normal, pois a respiração aumenta. Sentimos várias outras sensações que não podemos interpretar como sendo problemas de saúde, pois isso são normais em nosso organismo. No entanto, há pessoas que tendo a doença do pânico, acabam ficando assustadas com esses sintomas.
O que aconteceu com Jesus no Jardim do Getsêmani? Ele voltou três vezes ao encontro dos seus discípulos e nas três vezes Ele os encontrou dormindo. Em Marcos 14, 34, Ele diz: “A minha alma está numa tristeza mortal…”. Naquele momento Jesus percebeu que o sofrimento pelo qual Ele ia passar, como a morte, toda a agonia, toda a decepção que Ele ia ter pela negação de Pedro e todos os amigos que iam abandoná-Lo, aí Ele começou a ter a sensação de medo, de pavor. Cristo passou por uma ‘hematidrose’, ou seja, Ele suou sangue, isso é um fenômeno raro na medicina, acontece quando existe um estado de extrema ansiedade.
Nós passamos por situações na vida de doença, de medo dos sofrimentos, as quais não adianta: somos obrigados a passar por elas, pois faz parte da humanidade e não podemos ficar questionando por que uma pessoa tem determinada doença como um câncer. Não temos que questionar nada disso, na verdade, temos que entender os “para quês”, isto é, os motivos daquilo. Temos que aproveitar aquele momento para crescer e pedir que Deus mande o anjo consolador para que possamos passar por estes momentos.
A gente pensa em todo o sofrimento físico de Jesus, porém não pensamos no sofrimento mental pelo qual Ele passou, todo estresse, toda a agonia que Ele passou a partir do Getsêmani já o deixava num estado deplorável, pois Ele já estava muito debilitado.
Eu digo a vocês que no meu dia-a-dia de médico vejo quantas pessoas sabem aproveitar o momento da doença e quantas deixam de aproveitá-lo para crescer. Quantas pessoas têm um infarto e o entendem como um sinal pedagógico de Deus; mudam a vida, valorizam mais a família, procuram o lado da espiritualidade, deixam de ser pessoas que vivem somente para a profissão, para sua carreira, para o seu dinheiro e começam a viver a preocupação deles com Deus e com a família. Aí sim, eles aproveitam aquele momento. Esta é a vantagem de se entender o sofrimento, entender a pedagogia do sofrimento e para que Deus permitiu que você passasse por aquilo. Padre Léo, por exemplo, soube viver muito bem isso, como ele dizia em sua última palestra aqui na Canção Nova: “A pessoa pode perder tudo, porém não pode perder a fé”.
Na minha vida de médico cardiologista, clínico, muitas pessoas me procuram se queixando de dores no peito, queixando-se de falta de ar e na verdade são sintomas que sugerem doenças cardíacas, mas na maioria das vezes não são cardíacas. Quem sofre não é o coração físico, mas sim o coração psíquico e espiritual por conta de problemas de afetividade que as pessoas transferem. Normalmente o organismo transfere isso para o peito, e como ele fica no centro de toda a afetividade, muitas pessoas pensam que sofrem do coração e vão ao cardiologista pensando que estão com um problema mais grave.
Eu me formei em 1974, naquela época não falávamos de síndrome pânico, só em 1980 é que começamos falar em pânico. Os doentes que passaram por isso nem sempre eram bem cuidados, pois muitos médicos associam isso a doenças psicossomáticas e, muitas vezes, não dão muito valor. Hoje já se sabe melhor o que é transtorno de pânico, o ataque de pânico ou ataque de medo. Para termos uma idéia, se pegarmos a população nos últimos 12 meses, 12% das pessoas já sofreram um ataque desse tipo, pois quem tem essa doença costuma ter vários ataques.
A pessoa que tem a síndrome do pânico pode ter de uma hora para outra um ataque espontâneo e de repente ela acorda com o coração batendo depressa, com falta de ar, a respiração de forma mais rápida e ela tem a sensação de que vai morrer e muitas outras sensações. A pessoa que sofre de síndrome do pânico não está inventando nada, ela passa pelas coisas não porque quer, mas sim, porque passa por uma doença e precisa ser ajudada, precisa receber atenção, precisa ser ouvida e, muitas vezes, ela é mal interpretada.
Umas das coisas que sempre complicam quando as pessoas sofrem de pânico é que elas pensam que têm uma doença muito grave e ninguém descobre, por isso, entram numa depressão, num sentimento de morte. Há pessoas também que procuram buscar o espiritismo por essa razão e isso acaba agravando a situação, pois lá vão falar que elas têm um espírito junto delas e isso vai deixá-las mais para baixo ainda. Assim, acabam jogando mais culpa nessa pessoa e o estado piora.
Atendi a uma senhora e eu disse para ela: "A senhora terá que fazer uma cirurgia e colocar cinco pontes de safena", ela se revoltou e disse: "Que absurdo! Deus está sendo injusto comigo!" e eu lhe pedi que se sentasse e lhe disse: "A senhora fumou a vida inteira, não cuidou do seu colesterol nem da sua diabetes! E a senhora me fala que Deus é quem tem culpa disso?"
As pessoas com pânico têm medo até de tomar remédio, mas nós temos de tratar essa doença com remédio, não tem essa de dizer: "Doutor, eu não vou tomar remédio". O pânico faz as pessoas mudarem de vida, mudar de emprego, muitas acabam se divorciando, pois alguns não agüentam conviver com situações assim. Como devemos viver com as pessoas com pânico? Nós devemos compreendê-las e não entrar em pânico também; não devemos falar a elas: "Não seja ridículo, não seja covarde, você pode lutar contra isso", isso não ajuda, pois isso é uma doença e a pessoa até quer lutar contra isso, mas não consegue.
Em Medjugorje eu aprendi com Nossa Senhora uma receita e vou ensiná-la a vocês: façam as "cinco pedrinhas". E quais são elas? Rezem o terço diário, comunguem diariamente, façam a leitura da Palavra de Deus, o jejum semanal e a confissão mensal, isso é um remédio para combater o pânico na dimensão espiritual. Mas não deixe de tomar os remédios! Não faça esta burrice, pois muitos agravam o quadro porque ouviram pessoas dizerem que parassem com a medicação; pararam e hoje estão piores. Essa doença ataca as três dimensões do ser humano: corpo, psiquismo e espírito. Nunca deixe seu lado espiritual esquecido, Jesus curava as pessoas por completo, hoje nós temos médicos que podem curar o corpo, médicos que podem curar o psiquismo e a comunhão com Deus pode curar nosso espírito.
Transcrição: Flávio Costa
(12) 3186-2600