Glória: Eu e o Laércio temos 15 anos de Canção Nova, a nossa pertença é para sempre. E eu imaginava que todos os sofrimentos que havia que passar, já havia passado nesse tempo, porque a vida em comunidade é muito exigente, e é exigente para que sejamos santos. Portanto, eu achava que eu já tinha passado por muitas coisas, mas no ano passado, em 2006, eu descobri que estava com câncer de mama, e daí eu comecei a ver o que era realmente um calvário.
OUÇA: Glória fala do início da descoberta do câncer na sua vida.
O Senhor não me curou logo com a biópsia. Eu passei por um tratamento de câncer, desde a biópsia.
Tinha uma oração que rezava sempre: ‘Cura-me Senhor’ (Jeremias 17,14). Esse versículo é a minha oração diária. Sempre rezei essa oração.
Tomarei remédio até outubro do ano que vem. E hoje eu tenho reações que antes eu não tinha. Eu me espanto comigo, muitas vezes, diante de algumas reações. O remédio me deixa mais brava, e eu me desconheço, mas vejo que isso faz parte desse amadurecimento que Deus está fazendo na minha vida. Estou me reaprendendo. O câncer não está passando sem fazer uma reviravolta no meu interior. Revirou a minha vida.
Eu já disse para Deus: Faça o que Tu queres!
Eu vi que essa grande luta, essa dor que passei e essa grande superação foi para o meu amadurecimento. Deus permitiu que eu passasse por isso tudo para me amadurecer. E Deus quis esse caminho para mim. Eu trilhei esse caminho, poderia ser outro, mas foi esse.
Um médico disse para mim que o que me ajudou nessa luta contra a doença foi porque eu quis fazer o tratamento do câncer, e o meu caminho se deu passo a passo. Volto ao hospital sempre.
Foi um tempo de humilhação. O seio da mulher é uma parte delicada e sensível e eu precisei expor os meus seios por vários momentos. Quanta vergonha eu passei, mas eu enfrentei buscando no Senhor a minha força. O mais interessante é que eu não passei por isso sozinha. Esse homem, o Laércio, meu esposo, foi os meus braços, rezou por mim quando eu não podia rezar, foi as minhas pernas, foi a paciência, foi a confiança… e eu fui me deixando ser conduzida por Deus.
Que espetáculo que as minhas filhas deram nesse tempo! Na minha casa não tinha tristeza. Minha casa sempre esteve lotada, porque estou em comunidade.
Laércio: Estamos saindo do olho do furacão. Deus quis que nós experimentássemos essas coisas preciosas, como o crescimento.
Gostei do que o Dr. Philippe Madre disse na pregação da parte da manhã quando ele disse do bom ladrão que cruzou com os olhos de Jesus.
A hora mais preciosa da vida é quando estamos no final da vida. O que parece que é fim da estrada, o nosso limite. Nós fomos visitados pelo câncer. Nessas horas acabaram os sonhos e projetos. Vivemos o Salmo 22: no vale tenebroso.
Nessa hora preciosa aumenta a fé. Nesse momento você não se preocupa com carro, com roupa, não pensa mais em nada, é a hora do essencial, a hora de colocar a fé em ação, de se encontrar com o Senhor.
Na nossa casa, todos nós, inclusive as minhas filhas, repensamos a vida. O essencial é mais importante. Percebemos que a vida é muito mais rica que imaginamos e que muitas vezes deixamos passar.
Glória: Nós não brigamos e nem reclamamos com Deus. Não ficamos revoltados com o Senhor. Eu penso que o grande segredo para passar um momento de enfermidade é como devemos encará-la.
OUÇA: Glória dá exemplo de uma amiga que também teve câncer e que o marido é ateu.
Nesse tempo que eu fiz o tratamento me perguntaram por que eu tive câncer. E as pessoas queriam respostas. Não tinha respostas. Eu tive e qualquer pessoa pode ter. O câncer não tem cor, nem idade, nem classe social. Na minha casa passamos essa doença com serenidade, porque nós acreditamos que podíamos ir além.
Meu maior presente nessa época do câncer foi ter a minha irmã, que ficou na minha casa cuidando de mim, cozinhando para mim.
A minha família estava comigo, os meus irmãos de comunidade estavam comigo, pessoas que se fizeram presença através de telefone, de bilhetes. Como foi bom perceber que nós não estávamos sozinhos. Nós tínhamos muitas pessoas junto de nós sendo força.
Laércio: Estar junto é uma das coisas que a gente aprende porque é importante ser presença, contar com as pessoas, porque a nossa fé passa pela humanidade. Nós precisamos de carinho, precisamos ser irmãos. Eu e a Glória, nesse tempo, também fomos irmãos. Não tínhamos vida sexual. Eu aprendi a cozinhar nesse tempo, hoje sei até fazer arroz. Mas como foi maravilhoso! Nossas filhas nos deram uma lição, elas não choravam em casa, tivemos irmãos e isso é essencial. Nessa hora do limite é a hora de buscar no fundo do baú pra ficar o essencial. Olha quanta riqueza esse câncer nos trouxe.
Glória: Nesse início de ano eu pensei que tudo seria muito fácil, mas começou com muitas coisinhas, eu acredito que tudo que acontece é por causa desse crescimento que estamos tendo.
Laércio: A nossa vida mudou, o Senhor usa de várias situações pra nos fazer mais santos, a dor é melhor instrumento para nos santificar. Tudo que é conquistado com luta e sacrifício é mais valorizado. O Senhor usa das cruzes, não que Ele nos dê sofrimento, mas aproveita disso para que a gente possa melhorar. A nossa caminhada é linda e necessária para que sejamos fortes para enfrentar a morte e chegar à vida eterna.
Glória: Para nós em casa foi muito complicado, porque muitas pessoas próximas a nós tiveram câncer e morreram, cada uma que morria, para mim era um turbilhão, pois em mim a vida triplicou, eu queria viver. E quando as pessoas iam morrendo parecia que eu ia junto, mas como eu fiquei eu me comprometi com o Senhor em não mais parar de falar sobre isso, e cada vez que eu falo Deus me leva a trilhar coisas novas de tantas maravilhas que Deus realizou em nosso coração. No coração da Mariana, Clarissa e Laércio. Se você que veio aqui hoje não receber as graças que pediu ao Senhor, veja qual caminho o Senhor quer que você trilhe, para mim foi o caminho da humilhação. Não olhe como maldição para sua vida, olhe adiante e veja o bem que você pode tirar dessa situação, precisamos aprender olhar adiante.
Laércio: O mundo nos anestesia, ninguém lembra da cruz. Para ir para o céu temos que morrer, vivemos iludidos parece que aqui é a vida. A felicidade está no céu. Com o câncer a gente começou a encontrar muita gente que sofre, a gente encontra pessoas que perdem a vida por falta de responsabilidade.
Glória: Quando eu chegava na quimioterapia quantas pessoas falavam: aqui está pegando fogo de tanta gente para fazer quimioterapia. Tinha um rapaz e uma moça que eram enfermeiros, eu ficava com vergonha quando era rapaz e eu pensava nos mais idosos que precisavam também fazer e que também tinham vergonha, eram tantas pessoas com situação pior que e minha que eu era levada a rezar por eles.
Laércio: Quando eu fui em Belém do Para uma senhora me procurou e disse que também estava com câncer de mama, mas que não tinha como fazer tratamento e que ela confiava em Deus. Eu estou rezando por muita gente que está passando por isso, eu digo sempre que Deus passeia no meio de nós e não nos abandona. Deus se compadece de nós.
Glória: Eu choro, mas eu sempre fico sorrindo todos os dias e não é só na TV não, eu sou assim. O sorriso muda a vida da gente. Quando eu estava fazendo o tratamento minha mãe sempre me perguntava minha filha você está triste? Não fique triste porque é pior. Minha mãe cuida do meu pai que é doente, e minha mãe sofre com essa situação, mas ela sempre tem um sorriso nos lábios. Você está sofrendo? Olhe para o Senhor e saiba que tem alguém sofrendo mais que você, o câncer não é fácil, mas nós precisamos olhar a frente. Estás sofrendo? Lembra tem alguém sofrendo mais que você, a salvação está contigo, a Deus não te abandona, como não abandou o Laércio e a Glória Deus precisa mostrar para o mundo que vale a pena.
Laércio: A gente chorar porque estamos mexidos, mas eu nunca fui tão amado por Deus.
Glória: Se você puder carregar alguém carregue, pois será muito bom.
Transcrição: Tatiane Bastos
Fotos: Natalino Ueda
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