Vamos meditar a passagem bíblica em que o evangelista nos fala do jovem rico: Um homem de alta posição perguntou-lhe: “Bom Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?” 19.Jesus lhe respondeu: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão Deus. 20.Conheces os mandamentos: não cometerás adultério, não matarás, não roubarás, não levantarás falso testemunho, honrarás pai e mãe”. 21.Ele respondeu: “Tenho observado tudo isso desde a minha juventude”. 22.Ouvindo estas palavras, Jesus lhe disse: “Uma coisa ainda te falta: vende tudo o que tens, dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me. 23.Quando ouviu isso, ele ficou triste, pois era muito rico. (Lucas 18,18-23).
Essa Palavra nos fala do chamado, da nossa vocação. Estamos às portas do mês vocacional [agosto], no qual a Igreja, no mundo inteiro, nos convida para rezarmos pelas vocações laicais, celibatárias, sacerdotais, religiosas. E quando paramos para pensar em vocação, somos remetidos à palavra “compromisso” diante de Deus, da sociedade, da comunidade. E dentro desta última, nós percebemos que cada um possui sua vocação dentro da missão. Na Canção Nova nós chamamos isso de “específico”, e até em nossas partilhas perguntamos uns aos outros: “Você já descobriu o seu específico na missão?”
Quando o jovem, do referido Evangelho, para diante de Jesus e pergunta: “Bom Mestre, o que devo fazer para herdar a vida eterna?”, parece uma pergunta simples, por meio da qual gostaria de saber o que Deus queria dele. No entanto, no final dessa passagem, percebemos que ali existe um interesse. E dentro desse contexto de vocação, nós não podemos nos aproximar de Deus com nenhum interesse, a não ser para fazer a vontade d'Ele. Eu não posso me aproximar do Senhor querendo apenas o que é bom para mim, pois talvez isso não seja tão bom assim. E você deve estar se perguntando: “Como isso?” Meu irmão, atenção! A nossa felicidade não está nas coisas que passam, está naquilo que jamais passa, pois está na vontade de Deus. A minha felicidade não está nas coisas passageiras; a minha felicidade está em realizar a vontade do Altíssimo.
Deus tem uma vocação para você. Você já sabe qual é o seu chamado? Muitas vezes, não temos a resposta na hora, mas, muitas pessoas, como eu, viemos por causa de um chamado, de uma vocação, porque um dia o Senhor nos falou de maneira pessoal. Ele me disse, em meu interior, por meio dos fatos, que eu deveria largar tudo para servi-Lo na Canção Nova.
Não podemos nos aproximar de Jesus com interesse. Qual o interesse do rapaz do Evangelho? O interesse dele era a vida eterna. E você se pergunta: “Qual o mal disso?” Mas se fosse somente isso, ele já conseguiria o almejado, pois já fazia muitas coisas boas [de acordo com os Mandamentos de Deus], mas ele tinha uma segunda intenção. Quando Jesus prestou atenção nele, o olhou e o amou; quando acontece isso conosco é porque Deus enxerga nossas misérias, nossas qualidades, nossas disposições e negligências. Quando Cristo olhou para aquele jovem Ele viu toda a história dele, viu que ele fazia todas as coisas, viu o seu coração e percebeu que o desejo dele era que salvação estivesse garantida por seu próprio esforço, que todos soubessem que ele era merecedor da vida eterna por ser cumpridor dos Mandamentos.
Não adianta você pensar em vir para a Canção Nova, porque aqui é um lugar santo, um Território Eucarístico, porque quer fugir do “mundão”. Se não for da vontade de Deus, não venha! E nós que viemos para cá [Canção Nova] por um apelo de Deus, também não podemos estar aqui por outro interesse que não seja a vontade de Deus. Porque se eu estou aqui porque gosto de cantar, porque gosto de fazer isso e aquilo, coitado de mim, porque pode ser que um dia o Senhor não queira mais que eu cante, por exemplo, por isso, vou me decepcionar com Ele, vou me decepcionar com as pessoas. Vou achar que as pessoas não gostam mais de mim, que não sou mais feliz…E por quê? Porque, ao agir assim, eu estaria feliz porque estava fazendo os meus gostos e não a vontade de Deus.
Ao perguntar ao Senhor: “O que me falta para ganhar a vida eterna?” o jovem rico não é desprezado por todo o esforço feito, mas talvez ele esperasse que Jesus o reconhecesse por tudo aquilo que fazia, pois estava preocupado em mostrar para as outras pessoas que ele merecia a vida eterna. Contudo esta não será alcançada pelos nossos méritos, ela já nos foi dada pelos méritos da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo! Um chamado e uma vocação que não estejam fundamentados na cruz de Cristo, que é a sua maior alegria, seu refúgio, não passa de um ato de heroísmo e o heroísmo, a vontade de ser herói, passa! A vontade de corresponder ao chamado, deixar a família, pedir demissão do emprego são atos heróicos. Abrir mão de uma segurança financeira, deixar a família, seus amigos, os trabalhos na paróquia, literalmente abandonar tudo para seguir Jesus é um ato heróico.
Verdadeiramente alguma coisa aconteceu para eu deixar tudo para seguir Jesus e eu preciso ter isso muito claro dentro de mim: o que me fez abandonar tudo. É uma decisão pessoal, nada nem ninguém pode interferir nessa decisão. Se você está pensando “Vou ou não vou?”, isso, naturalmente, é normal, mas vai chegar um tempo em que você precisará dar a resposta. Nesse momento, precisamos pedir que Deus nos livre da tentação de buscarmos interesses pessoais.
Muitas pessoas vêm para Canção Nova pensando: “Vou para lá porque lá é um Território Eucarístico. Lá todas as pessoas são boas e eu não irei mais pecar”. Não é isso! Quem tem de mudar é você!
Nós somos chamados a ser sinais de amor no mundo. Vocês estão sendo esse sinal de amor no mundo? É uma vocação, somos batizados, recebemos um selo na alma, o qual nada pode apagar. Somos chamados a não só ser santos, mas a santificar as nossas realidades. E tudo começa pela nossa resposta. E não tenho medo de dizer que talvez a sua realidade não tenha mudado, porque até hoje você ainda não deu uma resposta a Deus. Todos precisamos dar respostas definitivas ao Senhor.
Desejo que você faça uma experiência concreta com Jesus, porque o que me fez vir não foi a vontade de cantar, foi para fazer a vontade de Deus. É a vontade Deus que precisa acontecer na minha vida hoje. Para tanto, eu preciso manter viva dentro de mim a mesma disposição de quando eu disse o meu “sim”.
Transcrição e adaptação: Regiane Calixto