Como filhos amados, andai em amor

Monsenhor Jonas Abib

Deus quer que nós, como filhos das novas comunidades, como filhos amados, andemos em amor

Juan Carlos Ortiz, um pastor evangélico que atuou na época em que nosso papa ainda era um bispo, realizou uma grande obra, sendo muito ecumênico e pregando a união. Ele dizia que as denominações eram questões humanas, pois, como cristãos, somos todos espiritualmente um único corpo. Valendo-se do texto de Hebreus 5,12:

“A julgar pelo tempo, já devíeis ser mestres! Contudo, ainda necessitais que vos ensinem os primeiros rudimentos da palavra de Deus; e vos tornastes tais, que precisais de leite em vez de alimento sólido!”

Ele explicava que mesmo o dom de falar em línguas é leite, pois é o dom inicial. Mas por que estou citando isso? Por que, na vida em comunidade, por vezes vivemos conflitos e desentendimentos, mas, ao se dispor a entrar numa comunidade, nós assumimos o compromisso de viver uma vida fraterna, uma vida de amor e comunhão.

É preciso aprender na raça

Quando recebi a inspiração para fundar a Comunidade Canção Nova, eu não tinha consciência da existência de outras comunidades. Diferente de outros que hoje podem ter contato com várias comunidades, inspirar-se nelas, isso facilita muito as coisas. No entanto, aqui nós acabamos por fazer isso “na raça”. Isso nos faz melhores? Não, mas não podemos nos limitar a apenas seguir exemplos, temos que ter personalidade e viver o autêntico carisma, pois é ralando que se aprende a ser fraterno, é ralando que se constrói uma identidade como comunidade.

A vivência da vida fraterna

Ingressando numa comunidade, cada um abraça conscientemente o compromisso de vida fraterna. Nela, todos somos irmãos e nossos relacionamentos devem ser marcados por esta realidade, não precisamos nos chamar de irmãos, mas devemos ser marcados por essa realidade. Com atitude de diálogo aberto e familiar, com amizade fraterna e sinceridade. A primeira coisa é esta: na comunidade, precisamos ser amigos.

Amizade é como uma planta, precisa ser cultivada, adubada e regada para que possa sobreviver. Em comunidade, precisamos nutrir amizade uns com os outros. Entretanto, é importante dizer que, dentro da comunidade, vamos encontrar pessoas perfeitas e santas. Pessoas não são como balas, doces ao paladar, as quais podemos escolher pelo sabor e pela doçura. Muitas pessoas vivem essa ilusão, e toda ilusão traz decepção, e estas caem na desilusão, se tornam azedas e ácidas.

Outra ilusão é pensar que, no ceio da comunidade, seremos amados e valorizados do jeito que sempre desejamos; o problema é que diferente disso, na realidade, vai se encontrar pessoas que estão sendo transformadas, na raça, e essas são imperfeitas. As consequências desses enganos é uma sensação de decepção.

"Hoje mais do que ontem e hoje não mais do que amanhã, por que amanhã eu vou dar mais a minha comunidade!". Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

“Hoje, mais do que ontem e hoje não mais do que amanhã, por que amanhã eu vou dar mais a minha comunidade!”. Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

O que torna diferentes esses seres humanos falhos e frágeis? A disposição para buscar viver em fraternidade, buscar amar e ser amado. Esse é um processo que demanda tempo, suor e lágrimas. Mas este processo dá grandes frutos, pois ali se põe em comum os dons e qualidades que recebeu de Deus, é a coroa da comunidade.

Sempre dar o melhor de nós e valorizar o que o outro oferece

Devemos sempre dar o melhor de nós, pois a nossa comunidade merece, e nós precisamos dos nossos irmãos. Precisamos sempre dar o melhor de nós e valorizar o que o outro oferece. Cada um se disponha a aceitar o bem que o outro se dispõe a oferecer e dar o seu melhor. Está é uma regra mestra, uma regra de ouro: “Hoje, mais do que ontem e hoje, não mais do que amanhã, por que amanhã eu vou dar mais à minha comunidade!”.

Precisamos sempre ter consciência de que aquilo que podemos mudar está em nós, pois mais do que querer mudar os outros, temos que buscar realizar mudança em nós mesmos!

Como diz o refrão da conhecida melodia: “A começar em mim, quebra corações, para que sejamos todos um, como tu és senhor!”.

É importante lembrar que a comunidade lida com seres humanos; logo, lidamos com pecados e erros. Logo, precisamos sempre construir o alicerce do perdão, o alicerce da compreensão e da misericórdia. Sempre lembrando o que disse Jesus a respeito de uma casa cujas bases não são sólidas, na parábola da casa construída sobre a areia. Colocando em prática o que acabamos de dizer, ou seja, começar em nós, nunca tenhamos o orgulho de não sermos capazes de pedir perdão. Parece simples, não? Mas temos mais dificuldade, muitas vezes, em pedir perdão, em receber perdão, do que perdoar.

Voltar aos princípios básicos do Evangelho

Sei que aquilo que ressaltei parece elementar, mas nossas comunidades, muitas vezes, sofrem por que não colocamos estas coisas simples em prática! A comunidade sobrevive não quando inexistem os erros e pecados de uns para os outros, mas quando cada um aprende a perdoa setenta vezes sete! Queremos muitas vezes viver uma superespiritualidade, mas deixamos de lado o básico do Evangelho!

É de capital importância que cada um se exercite naquilo que está escrito em Efésios 4,26: “não se ponha o sol sobre o seu ressentimento”. Buscar a reconciliação, a prática do perdão e da comunhão são questões elementares do Evangelho. Lembremo-nos sempre: a reconciliação é um dever meu, não do outro!

Partilha e transparência são elementos-chave na realidade da comunidade. São realidades-chave na conquista da fraternidade, nas reuniões e nas convivências. Não devemos entulhar nossos corações, devemos sempre limpar-nos, partilhando e sendo transparentes. Essa prática é tão importante quanto a oração! Precisamos buscar do Espírito Santo que ele nos ajude a buscar a prática destes elementos.

Busquemos viver, na prática, as coisas básicas do Evangelho, o alimento sólido, procurando a vida fraterna e o perdão.

Transcrição e adaptação por Jonatas Passos

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