A missão da Virgem Maria vem logo após a Ascensão de Jesus
Meus queridos irmãos e irmãs, celebramos a Solenidade da Ascensão do Senhor, e também aqui na Canção Nova, celebramos o Acampamento Mariano. Pode parecer estranho celebrar este acampamento justamente na Ascensão de Jesus. Mas para entendermos melhor a razão disso, depois da Ascensão de Jesus é que começa a missão de Maria.
“Deus escondeu Maria de si mesma”, diz São Luís Maria Grignion de Montfort, para que Maria não fosse tentada pelo orgulho, pela soberba e vaidade. Até pode parecer rude e grotesco quando Jesus, ainda na Sua vida pública, diz: “Quem é minha mãe? Quem são os meus irmãos?” (Lucas 8,21). Na verdade, o Senhor apenas estava escondendo o mistério de Maria de si mesma. O que também fez para os anjos, que diziam: “Quem é esta?”. Contudo, quando Jesus sobe aos céus, tudo muda. Ali começa a missão de Maria em relação à Igreja. E isso não é uma interpretação ou uma invenção minha, pois está no livro do Apocalipse 12, que: “Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas”.
Eu acho que ninguém tem dúvida de qual é o nome da Mulher que deu à luz Jesus? Maria é a Mulher. Eu fico perplexo com certos cientistas e exegetas que têm dificuldade de interpretar algo tão óbvio a respeito de Maria. É claro que a palavra mulher, na Bíblia, simboliza o povo de Israel e a Igreja. Essa é uma representação simbólica, mas é literal e evidente é a Mãe de Jesus, Maria.
Palavra meditada está em Apocalipse 12. “Jesus sobe aos céus”, e fica claro que nós aqui, na Terra, vamos travar uma batalha com a serpente, mas, guiados por Nossa Mãe, Maria, o restante dos seus filhos. Para entender o que está aqui, no último livro da Bíblia, precisamos nos recordar das palavras do professor Felipe Aquino e as do Scott Hahn, e inclusive das palavras escritas no livro de monsenhor jonas Abib, onde Maria tem esta ligação na Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse.
“Colocarei inimizade entre ti e a mulher”. Existem duas descendências, a da serpente e a da Mulher. Somos da descendência da Mulher. E existe uma batalha. E qual é esta batalha? Na atitude de Eva existia uma árvore e um fruto, e ela querendo tomar o lugar de Deus, pois existia a soberba. Eva queria se apegar ao fruto. A atitude dela é de quem se apega a este mundo e se esquece de Deus. De quem pega este mundo para consumi-lo, para sugá-lo, todo o prazer e a realidade carnal.
Qual é a atitude de Maria? Milhares de anos depois, Maria é a nova Eva e repete os atos de Eva, mas de outra forma. A árvore é a cruz, o fruto é Jesus, que está no seu ventre, e ao contrário de apegar-se, ela O entrega para a salvação do mundo. Diferentemente de Eva, que queria apegar-se, Maria entregou o Filho, entregou tudo.
Quando o seu filho faz algo bom ou apresenta o boletim da escola, você não se enche de orgulho? Claro que sim. E até diz: “É meu filho”. Que coisa extraordinária é saber que uma Mulher, que era a Mãe de Deus, não se orgulhou nem se envaideceu, mas humilhou-se: “Eis aqui a humilde serva do Senhor”.
Olhe a diferença entre Maria e Eva. Maria entregou o Filho por amor. Eis a batalha. A batalha é esta. Nós somos este campo de batalha. O meu coração é este campo de batalha, a batalha que é a travada, aqui em Apocalipse, é a que é travada em nosso coração. Gente, eu tenho 47 anos de idade e 23 de sacerdote. Dentro de mim existem um Adão e uma Eva, que são apegados a este mundo. Claro que eu amo a Deus e quero me entregar a Ele. Mas dentro de todos nós há um Adão e uma Eva, que se esconderam de Deus e tiveram medo do Senhor. Adão e Eva eram amigos de Deus, andavam com Deus. Mas quando o Senhor se aproximou deles, depois que haviam pecado, eles se esconderam d’Ele.
O padre não deve falar de si mesmo na homilia, mas vou lhes contar algo que estou vivendo, para vocês entenderem melhor o que quero dizer. Existe uma pessoa da minha família que está lutando contra uma doença. Se eu que sou pecador amo esta pessoa da minha família, certamente Deus a ama muito mais. Quando eu vou ao sacrário, para rezar por esta pessoa, eu digo: “Senhor, que seja feita a Vossa vontade”. Mas o meu coração esperneia com medo da vontade de Deus. Os santos tinham esta ligação na mente e na cabeça com o Senhor, mas nós ainda, em razão de nosso pecado, somos como Adão que esperneia e se esconde com medo da vontade de Deus. Esta é a luta, este é o campo de batalha.
Pode ser que você participe de grupos de oração e faça oração de renúncia e tenha escolhido Jesus como único Senhor. Você que tinha entregado tudo a ele, logo está querendo pegar tudo de novo. Se seu filho fica doente, logo, você o quer de volta para cuidar dele. Esta é a grande batalha que nós vivemos. E como fazer com que o nosso coração não seja mais como o de Eva, mas como o de Maria, que confia? Em Gênesis 3, quando Deus viu Adão e este se escondeu, Ele deu a solução: a mulher e a sua descendência. E a solução para vencermos esta batalha é Maria.
Nós vamos até Deus pelas mãos de Maria. Você vai dizer: “Padre, mas o amor de Deus é muito mais infinito do que o amor de Maria”. De fato. Nós católicos sabemos que o amor de Maria é como um grãozinho microscópico perto do amor de Deus. Mas veja: quando você olha para o sol e este fere a sua vista, o problema não está no sol, mas na sua vista, que não é capaz de olhar para ele. Da mesma forma, quando você olha para o sol, logo você tem que baixar o olhar, ao passo que, para a lua, você pode passar a noite inteira olhando para ela. E a lua não tem luz própria, a sua luz vem do sol. Este é o mistério de Maria. Quando Deus viu que o nosso coração não conseguia olhar para o “sol do seu amor”, porque teríamos medo, o Senhor inventou o “amor da lua”, para que pudéssemos olhar a luz d’Ele no reflexo da Virgem Maria.
E por que nos consagramos a Nossa Senhora? Na verdade, não é que nos consagramos a ela, mas nos consagramos a Jesus pelas mãos de Maria. Nós queremos, na verdade, contemplar a luz do sol no reflexo da lua. Nós queremos o amor de Deus, mas devido ao nosso coração estar marcado pelo pecado, nós nos escondemos do Senhor. Ou seja, por causa da miséria do nosso coração, nós olhamos para a lua, que é Maria.
Na cruz, não temos um Deus Filho abandonado pelo Deus Pai. Mas um Deus abandonado pelos homens. “O amor veio entre nós e nós o matamos”. Esta é a atitude dos filhos de Adão e de Eva, que interpretam Deus como inimigo. A serpente é astuta, mas Deus, que é sábio, e nos deu a vitória por intermédio de Maria.
Como nos tornamos filhos de Maria? Aos pés da cruz, nos tornamos filhos de Maria (cf. Jo 19). Maria é a mulher prometida, desde lá do início dos tempos e de nossos pecados. Jogue-se nos braços e no colo desta Mãe, porque ela não pega nada para si, mas ela entrega tudo para Jesus. Se a Virgem Maria não teve medo de entregar o seu Filho, ela não vai ter medo de nos entregar também ao Pai.
Jesus sobe aos céus, e subindo aos céus, começa a missão de Maria. Por isso, nos Atos dos Apóstolos, aparece Maria rezando várias vezes com os discípulos. E por fim, em Apocalipse, Deus já não precisa mais esconder Maria, Deus a mostra na sua grandeza e na sua glória. Nos seus dias aqui na Terra, ela viveu de forma escondida e humilde, e agora ela brilha como a lua, que brilha com a luz do sol. E nós podemos então nos entregar a Deus. Esta é a batalha, que será vencida por Maria e pelos seus filhos. Entregando-nos a ela, nos entregamos a Deus. Deixamos de ser Adãos e Evas, medrosos e apegados e começamos a ser como Nossa Senhora que, sem medo, entregou-se a Deus. Sem medo nos jogamos nos braços da Mãe!
Transcrição e adaptação: Jakeline Megda D’Onofrio.