Quantos de vocês estavam aqui ontem na minha palestra? Quantos não estavam aqui?
Ontem eu refleti sobre algumas coisas fundamentais, alicerces que podemos estabelecer com a leitura da Sagrada Escritura. Nós vimos como o Antigo Testamento está escondido no Novo Testamento e como o Novo revela o Antigo.
A vinda de Cristo foi preparada por Deus em Abrãao, Moisés, Davi, entre outros, portanto, Jesus é o novo Adão, o Filho da promessa, Filho de Davi, e a Virgem Maria é a nova Eva, a arca da nova Aliança e a Rainha. Nós podemos ver o cumprimento de tudo isso nos Evangelhos. No livro de Apocalipse, no capítulo 12, também vemos a Mulher revestida de sol.
Hoje quero continuar esse desenvolvimento e refletir sobre coisas mais práticas, não apenas para nós católicos vivermos, mas para anunciarmos àqueles que ainda não conhecem e não vivem a fé em Cristo. Eu era evangélico e pastor protestante e agora, que sou católico, não sou menos evangélico; pelo contrário, eu sou mais evangélico ainda, porque o nome “evangélico” vem do Evangelho, que significa “Boa Nova”. Cerca de 90% de tudo o que partilhamos são comuns entre católicos e evangélicos, por exemplo, quando falamos da morte e ressurreição de Jesus, dos dons do Espírito Santo, entre outros.
Eu tinha um relacionamento com uma pessoa maravilhosa, quando eu estava na faculdade. No entanto, isso não era suficiente, porque isso pedia um noivado e depois um casamento, a aliança para sempre, a qual tenho com minha esposa hoje. Um relacionamento pessoal se torna uma aliança. Da mesma forma, Nossa Senhora não quer apenas que “namoremos” Jesus, mas que façamos uma aliança com o Cordeiro de Deus. Ela tem muito a nos ensinar como católicos evangélicos. Primeira coisa: precisamos enfatizar que a Virgem Maria é o modelo perfeito de discipulado, é a seguidora perfeita de Jesus. Nós podemos ver isso em Lucas, no capítulo 1, 38, quando a Palavra de Deus se dirige a Virgem Maria e ela responde imediatamente movida pela fé em Deus: “Seja feita em mim de acordo com a Tua Palavra”. É a obediência da fé e da humildade. Em outro momento da Escritura, ela diz: “Todas as gerações me proclamarão bem-aventurada”.
O Evangelho de João 2, na narração das Bodas de Caná, mostra outra atitude de Maria que a revela como modelo de discipulado, quando ela diz que eles não têm mais vinho, o que é um problema naquele casamento. Maria se volta para os serventes e lhes pede: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Nós nos dirigimos a Maria porque ela vai nos levar a Jesus mais rapidamente.
Lembro-me, há anos atrás, de quando eu tinha me tornado católico e minha esposa ainda não. Nosso filho estava aprendendo a engatinhar e eu estava longe dele e lhe dizia: “Vem para o papai, meu filho”. Eu o via vindo até mim devagarinho, caindo e se levantando, e minha esposa, que estava na sala, o trouxe até mim e eu o peguei e o levantei. Então ela, que ainda não era católica, observando esse gesto, me disse: “É como Maria, trazendo os filhos de Deus até Jesus para levá-los ao Pai”. Então eu digo a vocês o que Maria disse aos servos: Fazei tudo o que Ele vos disser e vivam o que ela vive quando afirma: “A minha engradece ao Senhor”.
Você não precisa se engrandecer a si mesmo, a mim ou a quem quer que seja, engradeça somente ao Senhor. Maria é modelo de discipulado para todos os cristãos.
Isso nos leva ao segundo ponto a ser meditado hoje. No Evangelho de Lucas 3, 1: “De onde me vem a honra da Mãe do meu Senhor vir nos visitar?”. Quando vemos Maria como Mãe de Deus isso nos faz sair de um relacionamento pessoal com Jesus e nos faz decidir ter um relacionamento de aliança com Ele. A Mãe de Jesus não se vê engradecida por si mesma, mas engradecida como obra-prima de Deus, como criação d’Ele.
Deus é nosso Pai e nós somos família. O Pai nos enviou Seu Filho e também nos deu uma Mãe para que saibamos a quem recorrer. Ele não vai nos abandonar. Deus o conhece mais do que você mesmo se conhece e o ama mais do que você ama a si mesmo, e quer mais para mim e para você do que possamoss imaginar. Esse amor é a fonte de Sua punição e de Sua disciplina. Quando meus filhos estavam crescendo eu também os punia, não por não os amar, mas porque eu continuava a amá-los mesmo quando eles me desobedeciam. No entanto, era preciso discipliná-los na obediência e isso também era um ato de amor. Eu sou um pai imperfeito, mas Deus não o é.
O Pai envia Seu Filho para nos dar o Espírito Santo, e o Espírito está com a Virgem Maria. Ver Lucas 1, 35. Essas palavras “pousar” e “repousar” são raras de ser encontradas nas Sagradas Escrituras, as encontramos também em Êxodo 40, quando Deus repousa o Espírito Santo sobre a Arca da Aliança, que significa a presença d’Ele em meio à Sua família. A Arca da Aliança foi quem conduziu Israel de vitória em vitória, até que eles se tornaram orgulhosos achando que não precisavam mais de Deus, começaram a perder as batalhas e a [Arca da Aliança] deixaram de lado. O rei Davi a achou, como narra o livro de Samuel 6.
A Palavra diz que, quando Nossa Senhora chega à casa de Isabel, esta exclamou: “Por que essa honra de vir até mim a Mãe do meu Senhor?”. Quando Davi encontrou a Arca da Aliança, ele também exclamou: “Quem sou eu para ter a Arca do Senhor diante de mim?”. E ele pulou de alegria diante desse objeto sagrado. Da mesma forma, quando João, ainda no ventre de Isabel, ouviu a voz de Maria, pulou de alegria, e Isabel pronunciou uma bênção a Nossa Senhora, assim como Davi pronuncia uma bênção de alegria diante da Arca da Aliança.
O que o evangelista Lucas quer que vejamos é que a Virgem Maria é a Arca da Nova Aliança. A Arca da Antiga Aliança continha as tábuas da Lei de Deus, o ventre de Maria contém a Palavra feito Carne.
A Arca da Aliança tinha o maná que os hebreus comeram na travessia do deserto; o ventre de Maria tem o Verdadeiro Maná, o verdadeiro Pão da Vida. A primeira arca tinha os instrumentos com quais os sacerdotes faziam os sacrifícios, e Maria contém o único Sacerdote, Jesus, o Cordeiro, e esta nos leva à vitória muito mais do que antiga fez ao povo de Israel.
Não queremos colocar Maria num pedestal, queremos entronizar Jesus como Rei dos nossos corações e Maria como rainha dos nossos corações. Temos que ter desejo pela Palavra de Deus mais do que pela própria comida. Temos que pedir a Maria que nos alimente com o que precisamos, de fato, para nos tornamos mais santos.
Ontem eu disse que nada agrada mais a Virgem Maria do que nos tornamos semelhantes a seu Filho, e que nós a honramos quando honramos Jesus. E hoje eu digo: nós honramos a Jesus imitando Maria. Temos que ter o desejo de amar Jesus como Maria O amou, nem um pouquinho a mais nem a menos. Isto é comunhão.
Deus nos dá Sua Mãe para que ela nos conduza a Jesus e nos faça como Ele, que nos preenche com a graça d’Ele. A Virgem Maria é obra-prima do nosso Mestre maior, o Artista divino da nossa salvação. O verdadeiro discípulo diz: seja feito em mim segundo a Sua vontade, Senhor. Temos que reconhecer que o amor que Maria tem por Jesus é um reflexo do próprio Filho. Ela não nos ama mais do que Ele nos ama.
Jesus não nos ama mais do que o Pai nos ama, Ele é a perfeita imagem do Pai. Temos que nos parecer com o Pai, o Pai das Misericórdias, e é isso o que Deus faz aqui na Canção Nova. Deus me ama mais do que eu amo a meus filhos. É assim o amor de Deus por nós. Quem faz a experiência de ser pai e mãe vai entender isso. O amor nos inspira a fazer mais, muito mais que a lei e o medo.
Na América do Norte foi feito um estudo teológico das famílias cristãs e foi descoberto que, se uma criança é a primeira a experimentar a conversão na família, 3,4% é a probabilidade de que o restante da família se converta também. Se, no caso, a mãe for a primeira a ter essa graça, essa probabilidade aumenta para 17%. Quando é o pai que experimenta primeiro a conversão, a probabilidade de que o restante da família também vai ser converter é de 90%.
Precisamos do auxílio de Maria, de São José, dos santos e dos sacramentos para nos tornarmos católicos evangélicos. Eu quero ser um cristão do Novo Testamento. É isso que nós somos e fazemos em cada Santa Missa: nós realizamos uma aliança com Deus, não um contrato. Jesus morreu por todos, pelos irmãos evangélicos e por nós católicos. Precisamos viver bem o catolicismo para chegar até eles e trazê-los de volta.
Hoje quando acabar esse acampamento e vocês estiverem indo embora, comecem a dar um “sim” a Deus de coração, dizendo-Lhe: “Seja feito em mim segundo a Tua Palavra”, e tenha Maria como modelo, fazendo dela sua Mãe. Assim os outros poderão ver em nós a obra-prima do Criador.
Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.