“Meu filho, faze o que fazes com doçura, e mais do que a estima dos homens, ganharás o afeto deles. Quanto mais fores elevado, mais te humilharás em tudo, e perante Deus acharás misericórdia; porque só a Deus pertence a onipotência, e é pelos humildes que ele é (verdadeiramente) honrado. Não procures o que é elevado demais para ti; não procures penetrar o que está acima de ti. Mas pensa sempre no que Deus te ordenou. Não tenhas a curiosidade de conhecer um número elevado demais de suas obras, pois não é preciso que vejas com teus olhos os seus segredos. Acautela-te de uma busca exagerada de coisas inúteis, e de uma curiosidade excessiva nas numerosas obras de Deus, pois a ti foram reveladas muitas coisas, que ultrapassam o alcance do espírito humano. Muitos foram enganados pelas próprias opiniões. Seu sentido os reteve na vaidade.” (Eclesiástico 3, 19-26)
Deus te vê
Ninguém pode se reunir em oração se não for por uma ação do Espírito Santo. O maior sinal da ação do Espírito Santo é que você está aqui. Muitas vezes nós queremos sinais muito grandes, mas custamos aceitar as manifestações já evidentes, ou seja, você está aqui por uma ação de Deus. Deus viu que era ora de você parar para ouvir d’Ele o que Ele espera da sua vida e ao que Ele quer fazer na sua vida.
Quando um homem e uma mulher se unem diante de Deus para formarem uma família, o seu relacionamento se transforma num instrumento de cura um para o outro. Eu tenho muita pena quando um verdadeiro sacramento do matrimônio é abandonado. Quando o marido e esposa decidem viver um longe do outro por causa das feridas que um acabou causando no outro ao longo de suas vidas. Eu tenho muita pena porque este relacionamento longe de Deus se transformou numa arma, porque conviveram juntos e sabem dos limites um do outro.
Qual a maneira concreta onde o sacramento se torna instrumento de cura um para o outro? “faze o que fazes com doçura”. Se você faz todas as coisas com doçura, você ganha o afeto da pessoa que está com você, quando somos doces, mais do que ser estimado e reconhecido nós ganhamos o afeto da pessoa, porque afeta a pessoa que é querida e é amada. O que é dar afeto? É você afetar a pessoa; e nós afetamos uns aos outros quando no decorrer do dia fazemos aquilo que devemos fazer com doçura.
Delicadeza e cuidado para com o outro
Eu não estou falando de coisas que fogem do seu dia-a-dia, estou falando das coisas que você faz no ordinário da vida. Quando prepara a mesa do café, fazendo do jeito que o seu marido gosta, do jeito que seus filhos gostam de se sentar à mesa, preparando as coisas com carinho, porque você já os conhece, você já sabe o que cada um vai pegar na mesa. Estou falando da maneira que você chega no seu trabalho, da forma que você dirige; eu estou falando do momento do almoço ou da janta que vocês se encontram para compartilharem a refeição, de uma palavra que você dirige à sua esposa. Já que você tem que fazer estas coisa, faça com ternura, faça de forma doce, não é fazer mais coisas, é fazer do que você já faz com bondade e ternura. Tem pessoas que dizem “mas eu já faço tudo o que ele gosta”, mas às vezes falta doçura no fazer. Não fez de maneira terna. Não importa só a gente dar, mas da forma que damos.
“O máximo de exigência para nós e o máximo de compreensão para o outro”.
A palavra nos diz que quando a gente age assim, ganhamos mais do que uma estima, e sim o afeto. Estima é como ir levar uma jóia no joalheiro e dizer “quanto o senhor estima que vale esta jóia?”, ou seja, é aquilo que tem valor por si só, é aquilo que admiramos. Admirar é reconhecer o valor do outro, e na admiração há uma certa distância, mas o afeto é diferente, não há admiração. Nós podemos admirar até um inimigo, você pode até reconhecer que o seu inimigo tem qualidades, mas casamento sobrevive de doçura, de ternura, de toque, ou seja, a pessoa foi atingida por outra que está na mesma condição que ela. Às vezes nós amamos uma pessoa que não ama a gente, mas a força do amor é tão grande que quando passamos a amar aquela pessoa, ela que não nos amava antes passa a nos amar. É tão grande a força do amor que você que ama acaba fazendo a outra pessoa te amar. É algo simples? Sim é simples. Mas é fácil amar? Fácil, não é, mas é o único caminho para a transformação da outra pessoa.
Quando nós queremos que uma pessoa mude há rês coisas simples e poderosas que podemos fazer:
1º) Você deve usar no relacionamento a máxima exigência com você mesmo.
2º) Você deve ter o máximo de compreensão com a outra pessoa
3º) Ter sempre um sorriso para a outra pessoa.
No casamento nós queremos o máximo de exigência com os outros e o máximo de compreensão para conosco, mas o que transforma não são as exigências com os outros, e sim conosco. Exigência para nós e compreensão com os outros.
Muitas vezes erramos porque colocamos o foco no lugar errado. Quando eu cobro do outro o que eu não dou, as coisas não mudam. Como é diferente um casal que troca palavras de carinho, de apoio, de elogios. Como é bom encontrar um casal que se promove, que se ama. Como é bom encontrar uma mulher apaixonada pelo marido, que, quando tem algo a dizer dele é sempre uma coisa boa. Como é bom encontrar um marido que ama, que tem uma verdadeira devoção à sua mulher. É claro que há aquelas brigas para colocar as coisas nos eixos, não daquela que destrói. Como é ruim encontrar casais que só tem uma palavra ruim, críticas mordazes, aquela crítica que morde, é aquela que quando uma pessoa faz a você, você não sente ternura, você só sente uma punhalada no coração. Quantos casais destroem os casamentos por causa destas críticas, e não só das críticas para com o cônjunge, mas transborda as coisas para os filhos e daí a pouco pai e mãe começam a serem cruéis com os filhos.
A palavra de Deus se preocupa tanto com isso que São Paulo em uma de suas cartas vai dizer que um dia nós vamos prestar contas de cada palavra inconsiderada que dissemos, porque a maioria das feridas existentes dentro de um casamento acontecem por causa das palavras. A flecha atirada e a palavra proferida não tem volta, diz um provérbio. A palavra fere como a flecha, pois quantos casamentos se esvaziaram pelas palavra mal ditas. Quantos casais entraram nos casamentos felizes e encantados e no momento de um apoiar o outro começaram as palavras de destruição. Irmãos, nós vamos prestar contas a Deus por causa destas palavras de destruição.
Se o marido soubesse o quanto as palavras ditas na hora do nervoso e da raiva destroem as mulheres eles não diziam. Porque a raiva e as brigas passam, mas as palavras ficam lá dentro, ficam cozinhando no coração da pessoa que você ofendeu. Se as mulheres soubessem a força das palavras que ela profere contra o marado elas não diriam. É que homem tem a mania de fazer de conta que não está ouvindo, e aquilo fica armazenado dentro do coração e quando explode leva junto o casamento da pessoa.
Tem coisas que não são amor. A gente é enganado a todo momento pelas novelas, pelos filmes com os homens perfeitos com as mulheres perfeitas, com o beijo perfeito. Isso é mentira, isso é ilusão, isso não existe. Você quer saber o que é amor? É quando um homem olha para sua esposa e sabe que ela teve um dia difícil e por isso ela está sendo áspera nas palavras, e pra não brigar com ela, ele se cala para não brigar com ela. Amor é quando você está numa casa, numa família mais pobre e pega aquele pedaço que mais gosta e põe para outra pessoa porque você quer o melhor para ela. Amor passa por uma panela de carne. Amor é quando depois de ter brigado, de ter discutido, ainda preparar uma cama gostosa para os dois dormir e não conseguem dormir sem dizer uma palavra boa um para o outro. Isso é amor.
Transcrição e adaptação: Daniel Machado