As pessoas têm medo da solidão. O Senhor nos criou envolvidos na solidão, pois, nela, podemos entrar em oração.
O Evangelho apresenta uma oportunidade particular para termos um diálogo íntimo com o Senhor. Foi isso que aconteceu com os discípulos, eles se reuniram para dialogar com Jesus e partilhar a respeito da missão. Eles partilharam o que viveram a partir da oração e da experiência do poder que o Senhor Jesus lhes havia concedido.
O evangelista não conta os detalhes deste diálogo, no entanto, acredito que eles tenham dito que não conseguiam mais orar, que não conseguiam mais ouvi-Lo e não sentiam mais o coração arder em razão da exigência da missão. Contudo, eles não desistiram de sua missão por causa do amor do Senhor.
Ao terminaram de contar tudo ao Mestre, Ele lhes fez um convite muito sério: “vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco” (Marcos 6, 31), pois, pelo convite, entendemos o que foi tratado no diálogo. Provavelmente o Senhor tenha colhido, na partilha dos discípulos, o momento de crise vivido por eles porque estavam sobrecarregados pelo trabalho. Talvez porque estivessem escravizados pelo “demônio” do ativismo no apostolado.
Talvez Jesus tenha enxergado nos discípulos a penumbra do ativismo. O ativista é aquele que, por fazer muitas coisas, começa a viver uma dissociação entre a quantidade do que faz e a qualidade do que é. Quando a minha missão exige muito de mim preciso saber me doar mais, me possuir mais, separando o que faço daquilo que eu sou. Muitas vezes o que faço começa a ditar regras sobre quem eu sou.
O agir é consequência do que eu sou. Quando a quantidade de trabalho extingue a capacidade de eu ser aquilo que sou diante de Deus, eu me torno hipócrita. O ativismo é a distância entre aquilo que faço e aquilo que eu sou. Normalmente as pessoas presas à teia do ativismo têm dificuldade de se renovarem, de parar a fim de se avaliarem. O ativista não sabe se criticar e não aceita críticas de ninguém.
A sombra do ativismo lacra a capacidade de renovação da pessoa. O trabalho exige tanto dele [ativista] que não lhe sobra tempo para rezar. A oração do ativista é insuficiente ou deficiente. Como está a qualidade da sua oração? Se a sua oração perdeu qualidade, talvez a sombra do ativismo tenha envolvido você também. A agenda cheia, muitas vezes, me faz pensar que sou necessário.
Eu preciso saber parar. Se eu não souber parar por conta própria, Deus vai me parar. Quem não sabe parar não tem capacidade para continuar. Geralmente a pessoa ativista vai de modo rápido demais ou lento demais em relação ao que Deus quer fazer e o fruto disso é a impaciência. A impaciência é irmã gêmea do desânimo, e ambas são filhas do orgulho.
O Senhor quer nos convidar ao recolhimento e nos convida a fazer uma experiência com Ele. Hoje o Senhor também diz para todos nós: “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco” (Mateus 6, 31). A humanidade foge da solidão; as pessoas têm medo da solidão. Tenha coragem de viver a solidão! O Senhor nos criou envolvidos na solidão, pois, nela, podemos nos conhecer e entrar em oração.
Precisamos começar a diminuir a lista dos nossos desafetos. É preciso diminuir o número de pessoas com quem você não se relaciona, seja aquele músico, seja aquele padre. Há pessoas que, com o passar do tempo, vão aumentando a lista dos desafetos e quando a lista cresce significa que ela está fugindo de si mesma.
Comece hoje a compor a música da reconciliação com os irmãos e com a Igreja. Eu quero, em nome da Igreja, lhe pedir perdão, e também quero lhe pedir para se reconciliar caso você tenha se fechado a algum relacionamento com algum padre ou com a Igreja.
Na primeira leitura o Senhor nos faz um pedido: “obedecei aos vossos líderes”. A obediência é a proteção da minha alma, do meu coração. A ausência de pai, de pastor, se dá porque, muitas vezes, não nos deixamos conduzir. Nós, irmãos e irmãs, somos chamados a viver a paternidade com o povo, no entanto, não seremos bons pais se não soubermos ser bons filhos. Quando a pessoa tem carência de pai, de pastor, ela não sabe suportar um “não” da vida. Não seja como ovelha sem pastor, deixe-se guiar! Quem não se deixa pastorear jamais será capaz de levar alguém para o Senhor.
Talvez você não esteja conseguindo ir para um lugar deserto, para descansar e orar, porque está ferido. Então, peça ao Senhor que o restaure. Convido você a apresentar ao Senhor suas feridas, a apresentar a Ele tudo aquilo que, ao longo do tempo, você foi acumulando em seu coração. Diga: “Senhor, se queres podes curar-me, podes purificar-me e todo livre serei.”
Transcrição e adaptação: Míriam Santos Bernardes