Nós temos que ampliar a nossa técnica, mas não podemos perder a nossa intimidade com Deus e a vida de oração.
“Sê para com Deus como pássaro que sente o galho tremer e continua a cantar, sabendo que tem asas” (Dom Bosco).
Emanuel – Somente o que o padre Fabrício apresentou na sexta-feira, 6, já foi suficiente para este acampamento. E depois, com o decorrer das pregações, aprendemos ainda mais com todos os ministros de música. E para encerrarmos este encontro, veja a passagem de Mateus 7,21: Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não pregamos nós em vosso nome, e não foi em vosso nome que expulsamos os demônios e fizemos muitos milagres? E, no entanto, eu lhes direi: Nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus! Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não caiu, porque estava edificada na rocha”.
Talvez, assim como os discípulos de Jesus, você diga: “Senhor, não foi em Teu nome que nós cantamos? Que nós pregamos? Que catequizamos e expulsamos demônios por intermédio da música?”. E talvez Jesus lhe dê a mesma resposta dada aos discípulos d’Ele: “Nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus!”.
Eu tenho certeza de que ninguém quer ouvir isso. E sabemos que o dom de Deus é irrevogável. Para compor e tocar não “precisa” existir intimidade com Deus, basta haver técnica. Contudo, Deus se utiliza de nós, Ele se utiliza de nossos dons e não quer que tenhamos somente técnica, mas unção. Porque desse modo talvez você até chegue aos corações com a sua música e sua técnica, mas vai chegar sem unção e não vai produzir frutos.
Em 2005, o meu sonho era vir para o Acampamento de Músicos. A minha segunda viagem à sede da Canção Nova, quando eu vim fazer o meu último encontro vocacional na Comunidade Canção Nova antes de ingressar nesta obra de Deus, foi justamente em um encontro para músicos. E fui entrevistado, tirei foto com os músicos e um mês depois eu comecei a trabalhar ao lado do Dunga e do Ricardo Sá. E viajei muito tempo com o Dunga em missão. Graças a Deus eu fui aprendendo com todos e continuo a aprender com todos. Existem pessoas, até na minha paróquia, que cantam melhor do que eu, mas Deus se utiliza de nós, porque foi Ele quem nos escolheu.
Certa vez o padre Delton perguntou ao monsenhor Jonas Abib: “Padre Jonas, eu estou sentindo de Deus um chamado para gravar um CD. O que o senhor me diz?”E a resposta do monsenhor foi: “Eu não tenho voz e o gravei. Você tem voz, grave-o!”. Por isso, digo-lhe: Deus tocou em você e também lhe deu este dom. Ele o escolheu como ministro de música.
A nossa música pode ter eficácia, pode converter uma multidão de pessoas, mas será que ela vai nos salvar também? Nós não podemos nos perder. “Voltai ao Senhor. Ele vos feriu, Ele vos curará”. Voltemos ao primeiro amor.
“Conheço tuas obras, teu trabalho e tua paciência: não podes suportar os maus, puseste à prova os que se dizem apóstolos e não o são e os achaste mentirosos. Tens perseverança, sofreste pelo meu nome e não desanimaste. Mas tenho contra ti que arrefeceste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, donde caíste. Arrepende-te e retorna às tuas primeiras obras” (Ap 2, 2-5).
Qual tem sido o nosso esforço para treinar e para fazer os 10% que cabem a nós? Será que nós não temos sido apóstolos e temos sido mentirosos? A coisa mais bonita é olhar para as pessoas que já estão nessa caminhada há tanto tempo e ver o quanto elas continuam perseverantes.
Uma coisa que não podemos nos esquecer é de algo que o padre Jonas disse tanto ao Wilde quanto a mim: ‘Precisamos ser músicos em ordem de batalha’. Precisamos nos disciplinar: acordar cedo para rezar, fazer aquecimento, passar o som, rezar antes de começar um show. Deus quer que retomemos essa experiência que talvez fizéssemos no início. Precisamos voltar à prática inicial.
Recordo-me de uma pregação do professor Felipe na qual ele disse: “Paulo era um homem culto e falava várias línguas, mas a eficácia do ministério dele estava na santidade”. Eu nunca me esqueci disso! Eu tenho que ampliar a minha técnica, mas não posso perder minha intimidade com Deus e minha vida de oração. É preciso voltar à prática inicial, como nos pede a Palavra de Deus, porque a sua música pode até ser eficiente, mas não será eficaz se você não retomar essa prática.
As nossas canções precisam conter a Palavra de Deus experimentada. É preciso voltar a ter contato com a Palavra de Deus. Precisamos voltar a praticar o jejum, a oferecer sacríficos pelo CD que vamos gravar ou por uma pregação que vamos ministrar. Precisamos ser santos na nossa vida, no nosso testemunho, no nosso ministério. Eu e você somos convidados a viver a santidade! Todos olham para o monsenhor Jonas e veem santidade, talvez ele não tenha a melhor voz, mas, mesmo estando calado, ele canta um cântico novo. Mesmo quando estava doente o padre Jonas nunca deixou de rezar, de adorar a Jesus Sacramentado, de fazer a Liturgia das Horas, não deixou sua intimidade com Deus. Por isso, se nós nos consideramos filhos espirituais dele, não podemos deixar nossa intimidade com Deus, como o monsenhor jamais a deixou.
Músicos, precisamos não apenas gerar emoção nas pessoas, mas gerar conversão! Quantas pessoas vivem um processo de conversão com a ajuda de sua música? Não podemos brincar de ser servos de Deus, por isso volto a falar: é preciso voltar a uma vida de interioridade com o Senhor. Desse modo, as demais coisas, necessárias para a missão, serão consequência dessa intimidade e unidade com Deus, porque somos ministros d’Ele.
É necessário também voltar a ter intimidade com o outro, o seu irmão. Existem muitos corações endurecidos por falta de perdão, muitos ministérios destruídos por causa de intrigas.
Nessa última pregação, quero também chamar o meu irmão André Florêncio para partilhar, porque representamos a nova geração da música e é realmente preciso que haja os novos profetas que venham para somar com aqueles que têm muito mais experiência e com quem nós aprendemos tanto.
André Florêncio – Eu e o Emanuel entramos juntos na Comunidade Canção Nova e, hoje, estamos aqui juntos. Quero complementar o que ele disse sobre termos novos músicos, novos profetas na música e eles estão aqui entre vocês! Você precisa ser profeta lá na celebração da Santa Missa da sua paróquia, lá no seu grupo de oração. É preciso ser profeta, mas não espere ser profeta num palco e num grande show. Seja profeta no dia a dia!
Dentro de mim existe o grande desejo de ser profeta de Deus, mas eu sei que ainda não sou esse profeta, estou a caminho, e se eu me perder no caminho eu precisarei voltar, porque, se eu ficar longe de Deus, eu perderei minhas forças.
Quando você deve voltar? Uma situação que o faz voltar é a humilhação. Eu vou contar uma humilhação que eu vivi: Antes de ingressar na Canção Nova, eu sempre participava dos acampamentos aqui e aprendia muita coisa aqui. E queria colocar tudo em prática, na realidade da minha paróquia, para todo o ministério de música fazer igual. E num certo dia lá na minha paróquia, o padre, que estava presidindo a Santa Missa, ao final da celebração perguntou para o povo: “Quem aqui gostaria que eles continuassem a tocar na Santa Missa?” E eu não acreditava que aquilo estava acontecendo. Eu fiquei envergonhado e com medo de as pessoas não levantarem a mão. Que bom que alguns as levantaram. Sei que, na humilhação, Deus fala conosco e nos dá novas direções. Entendi que existe a realidade da paróquia e que nem tudo eu devo querer fazer como eu penso ser o ideal.
Outra coisa complicada é o sofrimento que a humilhação causa. Como é difícil sofrer! Nós não entendemos o sofrimento, e quanto mais queremos entendê-lo tanto menos o entendemos.
Em Eclesiástico 2 diz: Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, Permanece firme na justiça e no temor. E prepara a tua alma para a provação [...]’. Traduzindo posso dizer: “prepara o lombo que lá vem pancada!”, com todo o respeito à Palavra de Deus. E, muitas vezes, vamos achando culpados para os nossos sofrimentos: “É culpa do padre!” ou “É culpa de fulano!” e assim mudamos de paróquia. Mas isso não vai adiantar porque a Palavra de Deus já nos disse o que iria nos acontecer se entrássemos para o serviço de Deus.
Eu me sinto agradecido a Deus por Ele ter me escolhido para este ministério, e toda vez que estou com coração grato eu volto ao primeiro amor. Deus me constituiu para ser profeta da música, e digo: qualidade e unção estão no mesmo patamar para você atingir os corações daqueles que estão esperando essa graça.
Como disse Pedro: “ouro e prata não tenho, mas o que tenho eu te dou”. Quando vamos participar de algum encontro, as pessoas nos olham e no olhar delas é como se nos dissessem: “Dá-me algo”, e nós dizemos: “Ouro e prata não tenho, mas o que tenho eu te dou”. Desse modo, caminhamos para a santidade.
Para encerrar, um dia, quando eu estava na minha paróquia, promovemos um encontro de música e convidamos o padre Joãozinho para falar aos músicos. Fomos eu e meu pai buscá-lo. Eu estava morrendo de vergonha dele porque só havia umas seis pessoas inscritas no evento. O padre Joãozinho chegou e pregou com tanto ardor, que naquele dia eu aprendi com ele e disse para mim mesmo: “Quero pregar assim com esse mesmo ardor que o padre prega, independente do número de pessoas”. É isso, vamos ministrar com ardor a música que Deus nos dá!
Transcrição e adaptação: Tatiane Bastos.