As dores de uma Mãe

Diác. Nelsinho Corrêa

As dores de uma mãe são como espada transpassada na alma

Letícia Barbosa e Wesley Almeida
Cobertura

“E uma espada transpassará a tua alma” (Lucas 2,35), disse Simeão a Maria, Mãe de Jesus, ao profetizar sobre os momentos difíceis que ela haveria de passar.

Por amor, não existe cruz que não possa ser carregada ou momentos difíceis que não possam ser superados. Ao vivenciarmos a Procissão do Encontro, somos convidados a meditar as dores da Mãe e seu Filho, que ali, em meio à multidão, levam-nos a entender o que realmente é confiar.

Na noite desta quarta-feira, 23, o silêncio no Santuário do Pai das Misericórdias foi quebrado pela oração. Nos olhos atentos de cada pessoa ali presente foi possível compreender uma pequena fração daquele grande mistério, quando a Virgem das Dores e seu Filho Jesus nos levam a refletir sobre nossos sofrimentos.

Para uma mãe, muitas vezes, é difícil entender a dor da perda, sentimento pelo qual jamais se imagina passar. É por isso que Marilene, mãe de três filhos, em suas orações pede a Deus que se lembre de cada um deles. Ela faz da Virgem das Dores seu modelo de mãe e mulher: “A gente sente uma vontade muito grande de ser como ela”, afirmou Marilene.

De alguma forma, vivenciar esse encontro nos leva a adentrar no sofrimento vivido por Mãe e Filho. Maria, em seu semblante, deixa claro o quanto é doloroso ver o Filho que ela concebeu, criou e amou, desfigurado com Sua cruz, caminhando até o Calvário.

Marilene

Marilene – Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Para viver bem esse momento, é preciso uma entrega total. Thilda Menezes é baiana, mãe e avó. Do início ao fim da procissão, com o neto no colo, ela afirmou ser mãe duas vezes.

A cada dor refletida, ela se identificava quase que de imediato com Maria, que não deixou seu Filho e, em todo momento, fez-se presente durante o sofrimento vivido por Ele. Thilda conta que se sentiu profundamente mergulhada naquele mistério.

“No momento em que Nelsinho falava, senti como se estivesse ali com Jesus e lhe dissesse: ‘Eu estou aqui, eu estou aqui, Jesus!’. Com Ele, coloquei-me a caminhar rumo ao Calvário, como mãe que não deixa seu filho. Não há lugar mais seguro que os braços da mãe”, destacou Thilda ao falar dos filhos, tendo como exemplo a maneira com que seu neto estava deitado em seu colo.

“Quando eles são pequenos, a gente leva no braço, a gente cuida, mas chega uma hora em que não pode mais estar com os filhos no braço. Ainda assim, quer protegê-los, como se estivessem no colo, mas não pode, né”, afirmou a senhora.

Thilda Menezes

Thilda Menezes – Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Durante a oração, a avó permaneceu com os olhos fechados, segurando firmemente seu neto. Nem mesmo a chuva que caia fora do Santuário e os relâmpagos que insistiam em mostrar sua força, foram capazes fazê-la esquecer aquele momento.

“Aos poucos, fui lembrando dos meus outros netos, da minha família e das situações que a gente vive e acabam sendo também um calvário. Há momentos que a gente pode resolver as coisas com a mão, faz isso ou faz aquilo, mas os momentos que a gente não pode, é preciso lembrar que tem Nossa Senhora e Jesus, que fazem a gente permanecer confiante, porque eles podem providenciar tudo. O que a gente não pode fazer, tem de pedir a Deus que faça e acreditar que Ele está à frente de tudo.

No decorrer da procissão, os fiéis são convidados a fazer um momento de profunda espiritualidade e meditar o Sermão das Sete Palavras de Cristo e as sete dores da Mãe de Deus.

Sobre a procissão

A Procissão do Encontro é um momento de profunda espiritualidade em que as pessoas são convidadas a meditar o Sermão das Sete Palavras de Cristo e as sete dores da Mãe de Deus.

Na Comunidade Canção Nova, em Cachoeira Paulista (SP), esse evento ocorreu na noite desta quarta-feira, 23, às 18h, no Santuário do Pai das Misericórdias.

Na primeira palavra, “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem (Lucas 23, 34a)”, diácono Nelsinho Corrêa convidou os participantes a refletirem sobre a atitude que possuem quando ofendidos e caluniados; e assim como Cristo, incentivou-os a corresponderem com amor. Quanto à primeira dor de Maria, indicada pela profecia de Simeão – “E uma espada transpassará a tua alma” (Lucas 2,35) -, diácono Nelsinho convidou, de maneira especial, as mães a entregarem seus filhos a Nossa Senhora das Dores.

Já na segunda palavra – “Hoje, estarás comigo no paraíso” (Lucas 23,43), padre Márcio Prado instigou as pessoas a perdoarem umas às outras, assim como Cristo perdoou o ladrão na Cruz. À dor de Maria, causada pela perseguição de Herodes e a fuga para o Egito, o sacerdote clamou por todas as famílias do mundo todo.

Procissão do Encontro

Procissão do Encontro – Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Na terceira palavra – “Mulher, eis aí o teu filho; filho, eis aí a tua mãe” (João 19, 26-27), diácono Gilberto pediu que os fiéis acolhessem Maria como a própria mãe. Ao meditar a terceira dor de Nossa Senhora, dada pelo encontro com Seu filho carregando a Cruz, o religioso explicou que o sofrimento de Cristo será válido a partir do momento que cada cristão assumir a salvação para si. A terceira dor meditada foi a perda do Menino Jesus no templo.

Com a quarta palavra, “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” (Marcos 15-34), padre Marcos Valadares pediu que os presentes entregassem a vida a Cristo, mesmo quando se sentem desamparados pelo mesmo. Ao meditar a quarta dor de Nossa Senhora, dada pelo encontro com Seu filho carregando a cruz, o religioso explicou que o sofrimento de Cristo será válido a partir do momento em que cada cristão assumir a salvação para si.

“Tenho sede” (João 19,39a), foi a quinta palavra, por meio da qual padre Clayton explicou que a sede dita por Cristo se dá na sede de almas, sede de amor da humanidade para com Ele. Segundo o presbítero, a dor da Mãe de Deus, recorrente da crucificação do filho, é um momento único em que uma mãe vê seu filho morrer. Diante disso, ele convidou as pessoas a entregarem todas as situações da vida que não possuem respostas.

Na sexta palavra, “Tudo está consumado” (João 19,30a), padre João Marcos propôs aos participantes que se entregassem por completo a Deus. A sexta dor de Maria se deu ao receber, nos braços, o corpo de Jesus descido da cruz.

Por fim, ao refletir a sétima palavra – “Pai, em Tuas mãos entrego o meu espírito” (Lucas 23,46b) e a última dor de Maria, quando ela deposita Jesus no sepulcro, diácono Nelsinho Corrêa finalizou a procissão, entregando todo o país nas mãos de Deus.

A procissão foi encerrada em profundo silêncio, atendendo ao convite feito pela Igreja Católica, para que todo cristão vivencie a Semana Santa, tempo voltado à reflexão e introspecção.

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