Aquele que crê em mim viverá! (Jo 11,26)

Padre Wagner Ferreira

Padre Wagner Ferreira – Foto: Arquivo cancaonova.com

Convido todos a tomarem, nas mãos, a Sagrada Escritura e ler a seguinte passagem bíblica:

Muitos judeus tinham vindo a Marta e a Maria, para lhes apresentar condolências pela morte de seu irmão. Mal soube Marta da vinda de Jesus, saiu-lhe ao encontro. Maria, porém, estava sentada em casa. Marta disse a Jesus: “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido! Mas sei também, agora, que tudo o que pedires a Deus, Deus te concederá”. Disse-lhe Jesus: “Teu irmão ressurgirá”. Respondeu-lhe Marta: “Sei que há de ressurgir na ressurreição no último dia”. Disse-lhe Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá. Crês nisso?”. Respondeu ela: “Sim, Senhor. Eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, aquele que devia vir ao mundo” (João 11,19-27).

Somos chamados, dentro deste Tríduo Pascal, a renovar nossa fé em Jesus Cristo, nosso único Senhor e Salvador. Veja só que potência, que força tem o ato de crer!

Assim como perguntou a Marta, Jesus, hoje, nos pergunta: “Crês nisso?”. E a Ele devemos dar nossa resposta, a partir da nossa profissão de fé.

Com Deus, a vida não morre jamais

A partir dessa realidade de fé é que devemos viver o nosso dia a dia. A nossa profissão de fé deve orientar todo nosso cotidiano, seja em família, no trabalho, onde for. Também essa profissão de fé deve nos fortalecer diante das provações que enfrentamos.

A realidade com a qual nos deparamos, hoje, essa pandemia que atinge a todos nós, revela o quanto somos vulneráveis e frágeis. É certo que todos nós queremos ter vida em abundância, vida em plenitude, mas é igualmente certo que somos frágeis, enquanto seres humanos que somos. Essa “tensão” faz parte da nossa existência, e, muitas vezes, ela nos apavora. De fato, somos vulneráveis à dor, somos frágeis diante da provação que nos assola.

Por que há tanta dor no mundo?

Quanta angústia, quanta dor! Tudo isso parece um absurdo! Não é verdade? E muitos devem estar se interrogando: “Por que tudo isso, Senhor? Por que tanto sofrimento no mundo? Por que tantas pessoas inocentes sofrem diante da violência, da injustiça e de tantos outros males?”.

Para responder essas questões, o Catecismo da Igreja Católica, no número 311, cita o seguinte ensinamento de Santo Agostinho:

Deus não é, de modo algum, nem direta nem indiretamente, a causa do mal moral. Todavia, permite-o, respeitando a liberdade de sua criatura e, misteriosamente, sabe auferir dele o bem:

Pois o Deus Todo-poderoso […], por ser soberanamente bom, nunca deixaria qualquer mal existir em suas obras se não fosse bastante poderoso e bom para fazer resultar o bem do próprio mal.

O mal não tem sua origem em Deus. Essa realidade do mal é para todos nós um mistério. Deus, no entanto, é capaz de resultar o bem do próprio mal. Daí nasce a esperança cristã.

Convido todos a fazerem, sim, esses questionamentos a Deus, mas que o façam diante do sepulcro onde o corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo fora depositado. Neste Sábado Santo, somos chamados a colocar, diante desse Santo Sepulcro, todos os nossos questionamentos.

O que Jesus disse a Marta: “Eu sou a ressurreição e a vida”, é a resposta que Ele dá, hoje, a todos os homens diante desses questionamentos que assolam a humanidade.

“Acordai, Senhor!”

Convido você também a meditar este Salmo:

“Ó Deus, ouvimos com os nossos próprios ouvidos: nossos pais nos contaram a obra que fizestes em seus dias, nos tempos de antanho. Para implantá-los, expulsastes com as vossas mãos nações pagãs; para lhes dardes lugar, abatestes povos. Com efeito, não foi com sua espada que conquistaram essa terra, nem foi seu braço que os salvou, mas foi vossa mão, foi vosso braço, foi o resplendor de vossa face, porque os amastes. Meu Deus, vós sois o meu rei, vós que destes as vitórias a Jacó. Por vossa graça, repelimos os nossos inimigos, em vosso nome esmagamos nossos adversários. Não foi em meu arco que pus minha confiança, nem foi minha espada que me salvou, mas fostes vós que nos livrastes de nossos inimigos e confundistes os que nos odiavam. Era em Deus que, em todo o tempo, nos gloriávamos, e seu nome sempre celebrávamos. Agora, porém, nos rejeitais e confundis; e já não ides à frente de nossos exércitos.” (Salmo 43,2-10).

Veja: Neste Salmo, o salmista reconhece os benefícios do Senhor, porém, a partir do versículo 10, algo acontece, e o cenário muda para um cenário de dor e sofrimento. A partir disso, o salmista apresenta a Deus suas súplicas para que o Senhor intervenha, dizendo: “Acordai, Senhor! Por que dormis? Despertai! Não nos rejeiteis continuamente! Por que ocultais a vossa face e esqueceis nossas misérias e opressões? Nossa alma está prostrada até o pó, e colado no solo o nosso corpo. Levantai-vos em nosso socorro e livrai-nos, pela vossa misericórdia.” (Salmo 43,24-27).

“Veja só que força tem o ato de crer!” (Padre Wagner Ferreira) – Foto: Arquivo cancaonova.com

É assim que devemos, hoje, nos dirigir a Deus: “Acordai, Senhor!”. Sim, que o Senhor desperte a nosso favor, que Ele se levante em nosso socorro e, pela sua misericórdia, livre-nos de todo mal. Meus irmãos, se tem uma coisa riquíssima na história da Igreja, é o saltério, aquilo que chamamos de “Liturgia das Horas”. Como essa Liturgia nos ajuda a enfrentarmos nossas tribulações!

Hoje, neste Sábado Santo, diante do sepulcro onde fora depositado o corpo de Jesus, devemos proclamar juntamente com o salmista: “Levantai-vos em nosso socorro e livrai-nos, pela vossa misericórdia.” (Salmo 43,27).

Diante de tudo aquilo que tem, atualmente, abalado-nos, devemos crer que sairemos ainda mais fortalecidos, pois o Nosso Senhor é Aquele que nos diz: “Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11,25).

“Jesus é a minha ressurreição e a minha vida! Ele é o Senhor! Ele é o Senhor das minhas angústias, dos meus sofrimentos”, diga isso para Deus em oração. Entregue a Ele, agora, todas as suas dores e seus medos. Espere em Deus, colocando n’Ele toda sua esperança e fé.

Cultivar a fé na ressurreição e na vida

Quando da ocasião da Bênção Urbi et Orbi, há algumas semanas, o Papa Francisco dirigiu sua mensagem à humanidade, em sua homilia, ele citou aquela conhecida passagem bíblica da tempestade acalmada (cf. Mc 4,35-41). Em certo momento da sua homilia, disse o Papa:

“O início da fé é reconhecer-se necessitado de salvação. Não somos autossuficientes; sozinhos afundamos: precisamos do Senhor como os antigos navegadores, das estrelas. Convidemos Jesus a subir para o barco da nossa vida. Confiemos-Lhe os nossos medos, para que Ele os vença. Com Ele à bordo, experimentaremos – como os discípulos – que não há naufrágio. Porque esta é a força de Deus: fazer resultar em bem tudo o que nos acontece, mesmo as coisas ruins. Ele serena as nossas tempestades, porque, com Deus, a vida não morre jamais”.

.: Confira AQUI a homilia do Papa Francisco na íntegra

“A vida não morre jamais”. Cultivemos dentro de nós essa certeza de fé! Hoje, o Senhor, novamente, pergunta a cada um de nós, a exemplo de Marta: “Crês nisso?” (cf Jo 11,26). Dê a sua resposta a Jesus, nesta hora tão difícil para a humanidade. Diga a Ele: “Sim, Senhor, eu creio que Tu és a ressurreição e a vida!”.

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.:“Aquele que Tu amas está enfermo” (Jo 11,3)

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Ao preparar esta pregação, eu me recordei de um fato ocorrido na vida do Papa emérito Bento XVI, quando, em 2006, ele visitou o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau (Polônia). Durante seu discurso, naquele campo de concentração, Bento XVI fez um veemente apelo:

“Não em definitiva, devemos elevar um grito humilde, mas insistente a Deus: ‘Desperta! Não te esqueças da tua criatura, o homem!’ E o nosso grito a Deus deve, ao mesmo tempo, ser um grito que penetra o nosso próprio coração, para que desperte em nós a presença escondida de Deus, para que aquele seu poder que Ele depositou nos nossos corações não seja coberto e sufocado em nós pela lama do egoísmo, do medo dos homens, da indiferença e do oportunismo. Emitemos este grito diante de Deus, dirijamo-lo ao nosso próprio coração, precisamente nesta nossa hora presente, na qual incumbem novas desventuras”.

.: Confira AQUI o discurso de Bento XVI na íntegra

Sim, meus irmãos, acolhendo este apelo de Bento XVI, que eu e você também possamos dirigir nosso grito a Deus, diante do sepulcro onde fora depositado o corpo de Seu Filho, suplicando a Ele por misericórdia.

Meus irmãos, mesmo que sejamos entregues à morte por causa de Nosso Senhor e por causa de tantas injustiças, acreditemos sempre que somos mais que vencedores em Jesus Cristo, porque, pelo poder da Sua misericórdia, vencemos o mal e a morte, pois o Nosso Senhor também a venceu com a Sua ressurreição.

 

 

 

Transcrição e adaptação: Alexandre Oliveira


Alexandre Oliveira

Membro da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Alexandre é natural da cidade de Santos (SP). Casado, ele é pai de dois filhos. O missionário também é pregador, apresentador e produtor de conteúdo no canal ‘Formação’ do Portal Canção Nova.

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