A misericórdia – tão apresente nas parábolas e nos gestos de Jesus – é ao mesmo tempo bem-aventurança, profecia e terapia. Como bem-aventurança, a misericórdia aproxima o Reino de Deus das pessoas, e as pessoas do Reino de Deus. É prática que dignifica o ser humano: tanto quem a dá, quanto quem a recebe. Está repleta de gratuidade e alegria, como disse Jesus: "Felizes os misericordiosos, pois alcançarão misericórdia" (Mt 5,7).
As obras de misericórdia nos fazem também profetas da justiça e da paz, superando toda fronteira de raça, credo ou ideologia. Diante da humanidade ferida e carente, somos servidores da vida e da esperança, dentro e fora da Igreja, para crentes e não-crentes, afim de que "todos tenham vida e vida em plenitude" (Jo 10,10). Jesus nos indicou o exemplo do bom samaritano (considerado herege e estrangeiro) para mostrar a todos que a misericórdia não aceita fronteiras! Enfim, a misericórdia é também terapia: compaixão que nos move ao irmão carente, toque que regenera e cuidado que aquece. Cada obra de misericórdia é um bálsamo sobre as feridas nossas e dos outros. Por ela Deus restaura cada pessoa, recuperando ali a imagem e semelhança do Filho glorioso – nosso modelo – para que suas feições resplandeçam em nós.