"Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, os quais vos apascentarão com inteligência e sabedoria" (Jr 3,15).
Deus promete que jamais seu povo será privado de pastores. Nem em todas as eventuais fraquezas deles, por sua humanidade, Deus deixou de cuidar de seu povo. E onde faltam ministros ordenados, Deus não deixa seu povo, Ele dá o seu jeito. João Paulo II dizia: "Cristo é cumprimento da promessa de Deus: 'Eu sou o Bom Pastor'".
Nós, que somos ministros ordenados, somos apenas sacramentos do Cristo, que é o Bom Pastor. Quanto mais o sacerdote aprofunda seu conhecimento com Cristo, tanto mais ele se torna padre. O padre não tem consistência em si mesmo, ele é nada e, ao mesmo tempo, é tudo.
A Igreja e as pessoas chamadas aos ministérios recebem o convite de permanecer fiéis à graça recebida. Mas, muitas vezes, o chamado acontece e não é cuidado. Nós estamos diante do ministério do relacionamento de Deus com cada pessoa humana. Se você sentiu autenticamente o chamado do Pai, nunca permita que se apague esse chamado do amor de Deus. O profeta diz para não apagarmos a chama que ainda fumega.
Ninguém tem direito a uma espécie de "plano de carreira" na Igreja. Você foi chamado livremente por Jesus e Ele marca a vida das pessoas porque quer configurá-las a si mesmo. Algumas pessoas são levadas a criticar a expressão [que afirma que o cristão é:] "um outro Cristo", mas somos chamados a agir na Pessoa do próprio Cristo.
Existe uma mudança radical que ocorre na pessoa quando ela é ordenada. Por isso, não inventem de dar tempo para si mesmos; o tempo do discernimento é agora. Se no tempo da sua ordenação, você não estiver seguro, tenha a coragem de adiar esta decisão, porque estará dando a sua boca e a sua vida para Jesus agir.
João Paulo II, quando veio ao Brasil, na homilia, disse: "Se um de vocês cair numa cama e não puder pregar, há algo que ninguém poderá tirar-lhe: a Eucaristia e a oração. Se continuar tendo isso, vocês continuarão sendo padres. É nesse dinamismo contínuo que acontece a sustentação do ministério sacerdotal. O núcleo do sacerdócio é o encontro com Jesus Cristo".
O texto de número 15 do Documento de Aparecida é um convite que a Igreja quer fazer a todo ser humano, para que todos façam uma experiência pessoal com Nosso Senhor Jesus Cristo. O amor de Deus nos dá consciência do pecado e, diante d’Ele, encontramos Alguém que é a "porta": Jesus Cristo, Salvador. Diante de Cristo você vai experimentar o convite à salvação. Só que você sozinho não consegue viver essa fé, pois é Ele quem derrama sobre você os dons do Espírito Santo.
Você já conseguiu colocar em segundo plano qualquer outra coisa na sua vida? Pai, mãe, suas próprias idéias e temperamentos colocando Jesus em primeiro lugar? Essa pergunta é para nós. A escolha fundamental. Eu desejo que hoje, dia dedicado a Cristo em nosso encontro, você reflita sobre essa escolha fundamental. Você já escolheu Deus como "o Tudo" na sua vida? Já conseguiu negar todo o resto para ser discípulo de Jesus Cristo? Somos chamados a seguir os passos de Jesus.
"Jesus percorria todas as cidades e aldeias. Ensinava nas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo mal e toda enfermidade. Disse, então, aos seus discípulos: A messe é grande, mas os operários são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da messe que envie operários para sua messe" (Mt 9,35-38).
Impressionou-me neste texto sentir que o Senhor quer que peçamos à Igreja para sermos operários dela como Ele próprio o é. Pois Ele percorria as estradas evangelizando e assim se tornou referência.
"Enquanto caminhavam, um homem lhe disse: Senhor, seguir-te-ei para onde quer que vás. Jesus replicou-lhe: As raposas têm covas e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça. A outro disse: Segue-me. Mas ele pediu: Senhor, permite-me ir primeiro enterrar meu pai. Mas Jesus disse-lhe: Deixa que os mortos enterrem seus mortos; tu, porém, vai e anuncia o Reino de Deus. Um outro ainda lhe falou: Senhor, seguir-te-ei, mas permite primeiro que me despeça dos que estão em casa. Mas Jesus disse-lhe: Aquele que põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o Reino de Deus" (Lc 9,57-62).
É por aí que se delineia o exercício para o nosso ministério. É impressionante o que o Senhor faz. Também no Evangelho de Lucas, o Senhor nos diz: "Não leveis bolsa nem mochila, nem calçado e a ninguém saudeis pelo caminho" (Lc 10,4).
Essa é uma liberdade absoluta, com a qual você não se apóia nos meios, mas no conteúdo. Os meios vêm como resultado da promessa de que Ele não abandona aqueles que O amam.
O Documento de Aparecida, no número 31, mostra-nos que em Jesus nós encontramos todas as situações humanas, mas em seu Rosto encontramos a plena liberdade. Este nos pede que a Igreja recomece – a partir de Jesus Cristo – a contemplação de quem nos revelou o seu ministério. Necessitamos nos fazer discípulos novos para levar ao coração da cultura do nosso tempo o que nem os meios de comunicação poderão proporcionar; dando a cada um o seu lugar e sua direção.
Contemplar Jesus Cristo significa acolher a sua graça, pois, sem Ele, não somos capazes de fazer nada. Precisamos da graça d'Ele e ela nos basta. Cristo é o primogênito, por isso tem o primeiro lugar em todas as coisas. Padre que se preza, tem de ter um olhar contemplativo.
A nossa vida é feita de "arroz com feijão", você começa a ceder ao peso da rotina e torna-se um "fazedor de coisas", as quais não compreendem ao seu ministério. Reforço: padre precisa ser contemplativo, porque padre que não reza de manhã, não reza o dia inteiro.
Quando você faz escolhas claras, aceita ser diferente, para melhor, aí está a vida do padre. Mas a sustentação disso só acontece com o confronto doloroso com Jesus, porque Ele, muitas vezes, "joga-nos" contra nossas próprias fraquezas. Por mais que você reze e contemple, sempre tem mais a rezar e a contemplar. O que o Documento de Aparecia fala para todos é que necessitamos nos fazer discípulos dóceis para aprender com Cristo, para nos identificarmos com Ele e participar de sua vida. É preciso que nos deixemos conduzir.
Docilidade é prontidão para com o outro. A pior coisa que existe é padre que se sente "dono da carne seca"; é aquele que diz: "Você sabe com quem está falando?” Nesse momento, que faz isso, quebra o "feedback" da comunicação. Se alguém vier confessar seus pecados com você e, enquanto a pessoa fala, você vai pensando o que dizer a ela, não há comunicação. Quando você se torna totalmente ignorante diante do pecador, Deus lhe dá a palavra certa. Docilidade faz parte do discipulado.
A pergunta que lhes fiz hoje: "Você já aceitou Jesus Cristo?", é preciso fazê-la a vida inteira.
A proposta da V Conferência de Aparecida é "Discípulos e missionários". Ser discípulo é seguir Jesus, ir atrás d'Ele. A partir de Cristo, necessitamos que o zelo missionário nos consuma. Esse documento vive a questão do nosso tempo. O que é mais fácil: ser padre em São Paulo ou na última cidade da Amazônia? As duas situações são exigentes, não dá para dizer o que é mais fácil. Muitas vezes, o padre não precisa começar a sua aproximação com os fiéis com grandes debates, mas com relacionamentos. Se ele não converter as pessoas a Jesus Cristo, pode usar os melhores argumentos que não vai adiantar.
Se Deus desse a nós – padres, diáconos, bispos – uma graça de escolher um lugar para estar, sabe um lugarzinho onde eu entraria? No coração de Jesus, para enxergar o mundo através daquele buraquinho feito pela lança. Imagine como, de lá, você olharia para o mundo com olhar de misericórdia, tornar-se-ia mais capaz de imolar-se pelos outros. Só do alto da cruz, de dentro daquele buraco aberto, você enxerga, com objetividade, o mundo. Nossas análises são vagas, por isso precisamos de padres que vejam a partir do Crucificado.
Reprograme a sua vocação a partir de Jesus Cristo. O Pai não deixa de nos dar o dom mais importante que é o poder do Espírito. Em Cristo, só podemos pedir esta verdade: o Espírito Santo.