Nossa Senhora, vem em meu socorro
Todo ser humano que preza viver com dignidade aprende o quanto é necessário renunciar a alguns prazeres em objetivo de uma maior qualidade de vida. É obvio que existir somente guiado pelas vontades e devaneios de nossos prazeres, sentimentos e desejos irá nos trazer prejuízos cedo ou tarde, sejam eles de ordem física, psicológica ou social.
Também no âmbito espiritual não é diferente. Quando passamos por um processo de conversão e fazemos uma experiência com a pessoa de Jesus Cristo, reconhecemos nossos pecados, nossas atitudes, as quais, antes de desagradar a Deus, prejudicam nosso ser por completo, impedindo a Graça do Senhor, que é derramada constantemente. Portanto, somos os mais beneficiados quando não pecamos! Há, nesse início de caminhada, uma renúncia das alegrias efêmeras. Aprendemos aí a perder os bens menores para ganhar os mais elevados.
Contudo, com o passar do tempo, podemos nos acostumar também com essa vida nova em Deus e, então, esfriarmos o relacionamento de amor que temos com Ele.
Relativizamos as coisas. Antes, pensávamos: “Não roubo, não mato, não faço mal a ninguém!”, e parecia que isso bastava para ser bom e salvo. Pois bem, agora corremos o risco de relativizar novamente e dizer a nós mesmos: “Eu rezo, vou à Missa, participo de grupos de oração, sou de uma comunidade, faço caridade, e isso tem me bastado!”.
Tenho aprendido, nesse tempo com Nossa Senhora, que é preciso entregar a nossa vontade a Deus. Muitas vezes, renunciar ao “querer próprio”.
Quando o Anjo Gabriel apareceu a Maria, ela tinha seus planos, sua família, seu noivo, seu casamento, sua vida em curso. Mas o convite do Senhor pela boca do anjo veio mudar tudo. Maria, pela intimidade que já tinha com o Altíssimo, desfaz-se de todos os seus projetos. Talvez esse seja o grau mais elevado de entrega: a vontade. Todos os homens e mulheres de Deus passaram pela proposta do sacrifício da vontade. Abraão, Jonas, Jesus.
Com Maria aprendemos que, nem sempre, os impulsos das necessidades e dos nossos pensamentos é o melhor para nós; e que, muitas vezes, é preciso ceder à voz interior do Espírito Santo quando este nos pede para deixarmos algo agradável ou planejado para seguir a intuição ao que Deus está pedindo para Seu Reino.
Dias atrás, vivi uma dessas experiências. Já havia cumprido todas as minhas costumeiras práticas espirituais e fui convidado a participar de uma atividade comunitária em honra a Maria Santíssima. Como antes, eu havia planejado todo o meu dia, não fui, e tirei aquele tempo em outra atividade de lazer que havia programado.
Então, Nossa Senhora veio ao meu socorro, com amor, agraciando-me com a iluminação interior de como esse exercício do sacrifício da vontade é agradável a Deus e colabora com nossa íntima união com o Divino.
“Numa relação de namoro ou casamento, não é preciso, por vezes, abrir mão de gostos ou da individualidade para ir em direção do coração do outro? Estes gestos de entrega não são alicerces para que um sinta a cumplicidade do outro? Esquecer um pouquinho de si para fazer pelo outro por amor! Pois também para comigo e com meu Filho Jesus nos é agradável esse tipo de gesto de amor!”
Veja, na maioria das vezes, Deus não nos pede grandes desprendimentos, oblação de uma vida inteira, apenas coisas práticas do cotidiano que sempre testemunhamos depois, como nos ajudou e encaminhou a concretização de nossa vocação e felicidade. O Senhor nos pede o sacrifício da vontade para nos tornarmos mais íntimos d’Ele.
Que bom! Nossa Senhora me despertou como ir além de mim mesmo, desprendendo-me das minhas vontades para, assim, estar mais íntimo de Deus. Que bom que me senti feliz depois com outra experiência de não fazer aquilo que eu tinha planejado para meu dia, mas abrir mão para ter um momento a mais com o Senhor. Não me senti privado de algo, mas feliz por saber que Jesus e Maria estavam, ali, bem próximos.
Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós!