É com muita alegria que venho a mais este Kairos da Canção Nova para celebrar os 25 anos da Comunidade Pantokrator, cujo fundador é nosso amigo André Botelho, que eu conheço desde o início da Comunidade. É uma enorme alegria poder dar graças a Deus por essa grande Comunidade, que se espelhou no trabalho de monsenhor Jonas Abib.
O André sempre me disse que o zelo pelo sagrado, pelas coisas de Deus é muito importante para a Comunidade Pantokrator: “Nosso carisma é a fidelidade a Deus no mundo, e essa fidelidade nasce do zelo por Deus em nossos corações”, disse.
Eu acompanho essa Comunidade desde sua origem, em Campinas (SP). Lá, preguei em alguns retiros e tive a alegria de vê-la crescer, preocupada, sobretudo, em dar às pessoas uma boa formação doutrinária e bíblica. Várias vezes, também participei de eventos da Comunidade, como um aprofundamento em Bioética, em São José dos Campos (SP) e um curso de História da Igreja. Tudo isso me deixa muito feliz!
Como é grande o poder e o amor do Espírito Santo em relação à Igreja! As centenas de comunidades carismáticas que temos, hoje no Brasil, são, como disse o Papa São João Paulo II, no dia 30/5/2004 na Vigília da festa de Pentecostes:
«Repito com força o que disse naquela ocasião: os movimentos eclesiais e as Novas Comunidades são uma resposta providencial, suscitada pelo Espírito Santo diante da necessidade atual de nova evangelização». Esta necessita de «personalidades cristãs maduras e comunidades cristãs vivas». «Graças ao movimento carismático, muitos cristãos, homens e mulheres, jovens e adultos, redescobriram Pentecostes como realidade viva e presente em sua existência cotidiana». «Desejo que a espiritualidade de Pentecostes se difunda na Igreja, como impulso renovado de oração, santidade, comunhão e anúncio”.
Hoje, vivemos tempos difíceis para a Igreja e para a sociedade. A família instituída por Deus é cada vez mais ameaçada e o zelo pelas coisas de Deus nos obriga a defendê-la. A fé católica é desafiada por muitos e, às vezes, temos de enfrentar o que Bento XVI chamou de o “martírio da ridicularização”. Contudo, Deus preparou e está preparando o seu povo para enfrentar essa luta de nossos dias, pois, como disse São Paulo, estamos vivendo tempos de apostasia em que se manifesta “o homem da iniquidade, o filho da perdição, o adversário, aquele que se levanta contra tudo que é divino e sagrado, a ponto de tomar lugar no templo de Deus, e se apresentar como se fosse Deus” (2 Tes 2,3-4).
Ele se volta furioso sobretudo contra o matrimônio e a família. O Santo Papa João Paulo II disse na “Carta às Famílias”, de 1994, que:
“Em torno da família se trava hoje o combate fundamental da dignidade do homem (Familiaris Consortio, 18). Ele chamava a família de “Santuário da Vida”, “Patrimônio da humanidade”, “Igreja doméstica”. Destruir a família é destruir a obra de Deus. E ela está hoje sendo terrivelmente ameaçada e precisa ser defendida por cada cristão e pelas forças católicas. Isso é ter zelo pelas coisas de Deus, pela obra de Deus; e eu sei que a Comunidade Pantokrator está comprometida com isso.
A Irmã Lúcia, vidente de Fátima, em carta ao cardeal Cafarra, disse: “Deus contra Satanás – a última batalha, o enfrentamento final, será sobre a família e sobre a vida”. (Entrevista do Cardeal Carlo Cafarra concedida a La voce di Padre Pio em março de 2015). Satanás quer destruir a família, porque não pode destruir Deus.
Mais do que nunca, hoje a família é atingida, como disse o Papa João Paulo II, “pela praga do divórcio”, pelas “uniões livres”, pelo o aborto, o chamado “amor livre”, a vergonhosa “camisinha”, pela “produção independente”, os “casamentos” de pessoas do mesmo sexo, o controle imposto da natalidade, a eutanásia, a inseminação artificial, as manipulações de embriões, os úteros de aluguel, as novelas obscenas, a coabitação sem matrimônio, o casamento só no civil etc., frutos de uma sociedade mergulhada no consumismo e no utilitarismo, e que fez uma opção pela cultura do prazer”. Tudo isso o inimigo desaba sobre a família.
Na “Carta às Famílias”, o Papa João Paulo II disse: “Nos nossos dias, infelizmente, vários programas sustentados por meios muito poderosos parecem apostados na desagregação da família”. “A grandeza e a sabedoria de Deus manifestam-se em suas obras. Hoje em dia, porém, parece que os inimigos de Deus, mais do que atacar frontalmente o Autor da criação, preferem defrontá-Lo em suas obras…”. Essa obra é a família, a base da humanidade.
O zelo pela casa de Deus exige que cada um de nós, cada um em sua função na família, na sociedade e na Igreja, cumpra bem o seu papel. Dom Bosco queria que seus filhos fossem “bons cristãos e honestos cidadãos”. Cada batizado precisa ser, como disse o Papa Bento XVI: “discípulo e missionário” de Cristo. Em primeiro lugar discípulo; ter coragem de seguir Jesus carregando a cruz de cada dia. “Quem quiser ser meu discípulo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Lc 9,23). É claro que isso não é fácil; a “carne é fraca”, mas temos de lutar com a graça de Deus para superar nossa fraqueza e miséria, e caminhar atrás de Jesus com alegria e determinação, fazendo a vontade de Deus e não a nossa.
Para sermos discípulos de Jesus, temos de renovar o nosso amor a Ele todos os dias, se possível na Santa Missa, na comunhão íntima com Ele pela Eucaristia, pelos sacramentos, pela meditação de Suas Palavras e pela vida sacramental.
E é preciso ser missionário como Jesus, que caminhava anunciando o Reino de Deus por onde passava. É o amor a Cristo e às almas que nos dará força para trabalhar pelo Reino dos Céus. Ele deixou claro que não quer perder nenhum daqueles que o Pai lhe deu, ou seja, todos que Ele salvou com o Seu preciosíssimo Sangue. Ele revelou que haverá muita alegria no Céu, entre os anjos de Deus, por um pecador que se converta, porque foi por cada um desses pequeninos que Ele veio ao mundo e deu a Sua vida. Ele disse que não veio para os que já estão vivendo no Reino, mas por aqueles que estão doentes na alma.
Então, nossa alegria e motivação deve ser essa também, e isso nos deve levar a fazer todas as coisas por Deus, somente por Ele, sem desejar nada mais. O profeta Oseias disse: “Meu povo perece por falta de doutrina” (Os 4,6); e São Paulo disse que: “Deus quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2,4). E o Apóstolo disse que “a Igreja é a coluna e o fundamento da verdade” (1 Tm 3,15). Então, é essa verdade que Jesus deixou com a Igreja que devemos levar a todos, e sei que a Comunidade Pantokrator tem aí sua base e sustentação, como as demais também. Diz o nosso Catecismo que “o que nos salva é a verdade” (n. 851)
O profeta Malaquias chamou de “’maldito’ o homem fraudulento que consagra e sacrifica ao Senhor um animal defeituoso, tendo no rebanho animais sadios” (cf. Mal 1,14). E o profeta Jeremias disse: “Maldito aquele que faz com negligência a obra do Senhor!” (Jer 48,10). Portanto, o zelo pelas coisas de Deus exige que façamos sempre com “reta intenção” e zelo o que Deus nos pede, como ensina São Paulo: “Quer comais ou bebais ou façais qualquer outra coisa, façais tudo para a glória de Deus” (1Cor 10,31). Se até o simples comer e beber devem dar glória a Deus, quanto mais o trabalho profissional e por Deus!
Aos colossenses São Paulo explica mais claro ainda: “Tudo quanto fizerdes, por palavra ou por obra, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai” (Col 3,17).
É preciso notar bem esse “tudo quanto fizerdes”, nada fica de fora, nada é profano na nossa vida. Tudo deve ser feito “em nome do Senhor”, isto é, “n’Ele” e “por Ele”, para dar graças ao Pai.
Um pouco adiante, o apóstolo insiste novamente: “Tudo o que fizerdes, fazei-o de bom coração, como para o Senhor e não para os homens. Sabeis que recebereis como recompensa a herança das mãos do Senhor. Servi ao Senhor Jesus Cristo” (Col 3,13). “Não por mera ostentação, só para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, que fazem de bom grado a vontade de Deus” (Ef 6,6).
Santo Afonso, doutor da Igreja, no seu livro “A prática do amor a Jesus Cristo”, dá os sinais que nos indicam quando estamos fazendo algo só por amor a Deus, com verdadeiro zelo:
1 – não nos perturbamos em caso de fracasso, porque sabemos que tudo depende de Deus;
2 – alegramo-nos com o bem que os outros fazem, como se nós mesmos o tivéssemos realizado;
3 – aceitamos de boa vontade o que a obediência nos pede, sem preferência para algum trabalho especial;
4 – não ficamos à espera de louvores nem de aprovações dos outros após cumprir o próprio dever; não ficamos tristes se formos criticados ou desaprovados pelos outros e se, por acaso, recebemos qualquer elogio, não nos envaidecemos, mas afastamos o sentimento de vanglória.
Essas orientações nos ajudam a trabalhar com zelo pela Igreja e pelo Reino de Deus.