Ouça essa homilia, na na íntegra
Irmãos no episcopado, irmãos e irmãs aqui presentes, e todos os que nos acompanham pelos meios de Comunicação.
Para esta celebração, na qual comemoramos os 50 anos da Cáritas Brasileira, a liturgia traz dois textos da Sagrada Escritura, que iluminam bem a ação social dos cristãos, mostrando como esta brota da fé, e precisa estar impregnada do amor que procede de Deus.
Os dois textos de hoje ajudam a compreender a natureza e a missão da Cáritas, incumbida pela Igreja de estimular e organizar a ação social dos cristãos.
O evangelho mostra a profunda relação de Cristo com seu Pai. Ele só dizia, e fazia, o que o Ele lhe ordenava. A ação de Cristo decorria de Sua íntima comunhão com o Pai.
A ação dos cristãos também precisa decorrer da comunhão que cultivamos com Deus, cujo mandamento é \”a vida em plenitude para todos\”.
A passagem dos Atos dos Apóstolos mostra a comunidade de Antioquia, constituída por Deus de muitas graças. No momento em que ela celebrava a liturgia, e jejuava em honra do Senhor, o Espírito Santo interveio, para apontar-lhe a urgência da missão.
A missão empreendida pela comunidade de Antioquia foi fruto da intensa vida de fé e de comunhão que existia entre os seus membros. E ao assumir a missão plenamente, a comunidade de Antioquia amadureceu e se tornou referência importante para a caminhada de toda a Igreja Primitiva.
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[+ fotos da celebração da Santa Missa ]
Como a comunidade de Antioquia, nossas comunidades precisam sentir uma dupla urgência: fortalecer a comunhão com Deus, por uma intensa vida de fé e de amor e abrir-se para comunicar esta riqueza de vida, em primeiro lugar, aos que estão mais próximos e mais necessitados de nossa solidariedade e de nosso amor cristão.
À medida que se fortalece o serviço, animado pela fé e pelo amor, crescemos como Igreja, e cumprimos melhor nossa missão de testemunhar que de Cristo brota a força que transforma nossas vidas, assim como transforma a sociedade em que vivemos.
Assim fez o próprio Cristo. Animado pelo Espírito Santo, Ele partiu ao encontro dos pobres, anunciando-lhes a Boa Nova do Reino de Deus. Contudo, ao longo de Suas andanças, retirava-se com freqüência ao alto da montanha, para cultivar Sua comunhão com o Pai, e corrigir, quando necessário, as expectativas equivocadas do povo.
Estas duas atitudes, a oração na montanha e o \”pé na estrada\”, constituem a síntese do Evangelho de Jesus. Constituem também a síntese de nossa vida cristã.
Temos o desafio de harmonizar nossa vida de comunidade com nossa ação voltada para a sociedade.
Cada comunidade tem autonomia para encontrar a melhor maneira de viver as duas dimensões.
A Cáritas foi criada para ajudar as comunidades a colocar em prática, de maneira organizada, sua ação social, inspirada na fé e no amor. No Brasil, ela está presente desde 1956.
Para a Cáritas Brasileira, que neste ano celebra o seu jubileu de ouro, a primeira encíclica de Bento XVI não poderia ter chegado em hora mais oportuna, e com tema mais adequado.
Para falar que Deus é amor, o Papa usa a palavra \”Cáritas\”: \”Deus cáritas est\” – Deus é amor, Deus é caridade!
É evidente que isso nos faz pensar. A mesma palavra para dizer que Deus é amor, – Cáritas – é usada para expressar o amor organizado da Igreja a Cáritas.
O Papa lembra, logo no começo de sua encíclica, como é urgente hoje testemunhar que Deus é amor, e que ele não avaliza nenhuma vingança ou guerra santa em nome da religião.
Mas, independentemente dos bonitos e profundos ensinamentos desta encíclica sobre o amor, neste momento em que celebramos os 50 anos da Cáritas Brasileira, é importante perceber a grande vinculação que existe, de fato, entre o mistério de Deus, que é amor, que é \”Cáritas\”, e a ação social da Igreja, que decorre do amor de Deus e nos leva a amá-Lo, presente em nosso próximo, e que nós chamamos de \”Cáritas\”.
Além da coincidência de palavras, existe uma profunda identificação prática, que o Evangelho testemunha: \”Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, é a mim que o fizestes\”.
Como nos recomenda o Papa, na segunda parte de sua encíclica: é muito importante que a Igreja se organize como \”comunidade de amor\”, para encontrar maneiras práticas e eficazes de fazer o bem às pessoas, de forma organizada e consistente.
É assim que testemunhamos que Deus é amor, e manifestamos nosso amor concreto a Ele, que se coloca na pessoa dos irmãos, especialmente os mais necessitados.
Neste momento de ação de graças pelos 50 anos da Cáritas Brasileira, nós bispos do Brasil aqui reunidos, celebrando a comunhão com Cristo na sua Eucaristia, queremos nos sentir especialmente em sintonia com toda a Cáritas Brasileira: aos membros do Secretariado Nacional, dos dez Secretariados Regionais, e de todos os agentes das Cáritas Diocesanas.
Como Cristo nos ensinou, a comunhão com Deus é fundamento da comunhão com os irmãos. Queremos expressar e fortalecer esta dupla comunhão por esta Eucaristia que agora prosseguimos.