Vocês edificaram ainda mais a minha fé pela maneira que vivem. A partir da experiência da minha comunidade, que faz parte da RCC, nós trabalhamos muito pela evangelização e mais recentemente estamos fazendo um trabalho na área da promoção humana. Temos um carisma forte para a evangelização, mas minha comunidade passou por uma crise muito séria. Muitos antigos foram embora. Tivemos que atravessar uma fase de morte. Minha comunidade foi fundada no mistério pascal.
Permitam-me dar um testemunho pessoal: Quando tinha 13 anos fui obrigado a parar de estudar para ajudar meus pais no trabalho assim não tive oportunidade de estudar.
A nossa comunidade tem uma visão da pessoa humana, uma visão que diz respeito a unidade da pessoa.
O salmo nos diz: “Mas o que é o homem pra que Deus se importe com ele?”.
Em nossa comunidade somos leigos comprometidos com o mundo e tentamos ser a presença de Cristo no mundo, e manter um diálogo com o mundo.
Nossa história nos levou a comprometermos com isso. Nós “puxamos as mangas da camisa” porque vimos que tinham situações insuportáveis como famílias vivendo em condições indecentes.
Agora, como vamos nos chamar de discípulos se não nos importamos com a pobreza do outro?
A nossa comunidade em 7 a 8 anos fez mais de 30 projetos sociais. A promoção humana é algo que nos leva ao Reino. É uma questão onde você se compromete com a caridade e esperança.
Não podemos estar ao lado e deixar passar aquilo que é essencial na missão do Cristo. Estamos aqui para formar verdadeiros místicos.
A comunidade não é um lugar onde se resiste aos problemas do mundo, pelo contrário, ela está em colaboração com o Espírito para operar no mundo para que tenhamos respostas diferentes. A comunidade é como fermento na massa, assim as obras se tornam concretas.
Ouça: A fraternidade é fundamental
Não tem mundo novo sem homens novos. Não somos tão impotentes quanto pensamos.
Deus, para salvar o mundo, conta com nossos braços para agir. É simplesmente olhar nos olhos dos pobres e fazê-los sentirem iguais.
Nossas comunidades são reservas da humanidade, isso é uma maravilha! As comunidades não podem passar distraídas ao lado de situação desumanas.
A fraternidade no Cristo tem seu prolongamento na fraternidade universa.
O que é uma fraternidade na comunidade se ela ficasse fechada em si mesma?
A fraternidade universal é colocada no mesmo nível que a fraternidade da comunidade, é um caminho para encontrar Jesus.
O nossa comunidade trabalha nos 4 continentes, mas juntos o que fazemos é o anúncio do serviço.
Nossa primeira ação é a educação – Projetos de escolas na África, onde não tem escola para crianças; formação profissional para que jovens tenham um meio de trabalhar. Hoje, temos lá milhares de crianças que são beneficiadas.
Na Romênia, trabalhamos com jovens que saem com 16 anos de casa, desses jovens muitas moças acabam indo para prostituição e aí entra a nossa missão de ajudamos essas moças a encontrarem trabalho e viverem com dignidade. Trabalhamos também na luta contra as drogas.
Segunda ação é o projeto saúde – Na África e na Colômbia temos um centro para ajudar quem está com AIDS. No Chile, colocamos um centro de saúde numa favela onde vivem 40 mil pessoas.
Terceira ação são os projetos econômicos a partir da agricultura. Centros agrícolas que pertençam aos pobres. Permitimos que as pessoas da região venham e aprendam naquele local lidar com a agricultura, também artesanato e construção. Esses são nossos projetos.
Nós queremos desenvolver uma espiritualidade da promoção humana. É nos tornarmos pobres no sentido do evangelho, que lutam pela promoção humana. Deus ama o pobre não a miséria.
Os projetos humanísticos são uma colaboração e resposta ao espírito Santo. O grito do homem é também em um clamor ao Espírito.
Ouça: Projetos de escolas na África
Antes de mais nada são as mãos de Deus que cura as feridas. E as nossas comunidades são capazes de obras engenhosas pela promoção humana. Eu tenho certeza de que aqui no Brasil também tem.
Somos todos iguais em dignidade.
Uma das dificuldades da promoção humana é que as pessoas não se sentem iguais aos que eles estão servindo.
No trabalho social o essencial é o tipo de espírito que colocamos nele. A obra social é antes de tudo uma obra de libertação e o pobre deve estar no centro dela. O dom deve se servir como trampolim. O Espírito convida todos a uma vida mística, a uma fé, que permite ver que o outro é igual a mim. Esse tipo de olhar faz com que trabalhemos melhor nos locais subdesenvolvidos. Quanto mais os membros das comunidades se tornam místicos, mais atingem a promoção humana. Muitos dos nossos medos podem se transformar em audácia, e assim jovens e mulheres poderão receber uma palavra que os deixarão confortados. A vida chama a vida. E o rosto do pobre reflete o rosto de Cristo.
O trabalho da promoção humana nos coloca em dois mundos: dos ricos e dos pobres para construir um lugar onde não tenha desigualdade vivendo de uma maneira fraternal. Nossas comunidades têm que ser um local sem exclusão, todos têm que ser ator e sujeito, e é exatamente isso que nos convida as comunidades, somos chamados a ir ao encontro dos excluídos.
Transcrição: Williey Isaias
Fotos: Paulo
Áudios: Anderson Nunes