Hoje, queria chamar a atenção sobre algo que não falamos muito quando realizamos nossos congressos.
Exortação apostólica Vita Consecrat: "O Espírito, que ao longo dos tempos suscitou numerosas formas de vida consagrada, não cessa de assumir a Igreja, quer alimentado nos institutos já existentes o esforço de renovação na fidelidade ao carisma original, quer distribuindo novos carismas a homens e mulheres do nosso tempo, para que deem vida a instituições adequadas aos desafios de hoje. Sinal desta intervenção divina são as chamadas 'Novas Fundações'. Com características de algum modo originais relativamente às tradicionais.”
Olhando para essas novas fundações, a Igreja nos define como novas associações de vida evangélica. Significa que a Igreja viu em nós o Evangelho de Cristo. Eu acredito que, de forma profética, o Papa já insinua muito de nossa natureza. E ele diz: “São muitas as características, mas três aparecem como uma tendência geral de todos que vivem essa realidade: uma vocação ardente, uma graça que nos impele para viver vida comunitária, vida de oração e vida de pobreza.
Nós somos testemunhas de que, quando o Senhor começa a nos atrair para este modo de vida, nossa sede é de viver como irmãos, de fazer orações.
Uma comunidade não se faz com CNPJ, com nome ou estatuto. A base da comunidade é que nos amemos como Deus nos ama. Uma comunidade é um grupo de pessoas que vive o Evangelho de Cristo, portanto, transborda em ação o que vive. Essa é uma das característica que precisamos focar muito para não perdê-la de vista.
A segunda característica, à qual fala João Paulo II, é a pobreza. Jesus Cristo, quando convoca uma comunidade para viver em torno de Si, a exigência é que larguem tudo para segui-Lo. As comunidade de vida sabem, por experiência, que Deus é sua maior riqueza, o maior tesouro que possuem. Com essa coragem, que faz parte da graça que nos foi dada como sinal de contradição nesse mundo, o Senhor nos faz viver nossa vida, vivendo da fidelidade de Deus, com o que é necessário a cada dia.
Neste sentido, muitas vezes, as novas comunidades se tornam uma grande contradição, e a Palavra do Evangelho se torna pedra de tropeço, um grande escândalo que incomoda, porque é a voz de Deus. Viver uma vida evangelizada é viver em contradição com o mundo.
Nós vivemos, a cada dia, do cuidado, da fidelidade do Pai. Precisamos prestar muita atenção para não perder essa característica, não sair dessa inspiração do Espírito para viver, todos os dias, na nossa comunidade com aquilo que nos é necessário. Precisamo ter uma organização de modo que, até do ponto de vista financeiro, consigamos viver bem aquilo a que fomos chamados.
Existe uma expressão que tem se tornado muto comum entre nós e que me preocupa. Muitas vezes, atribuímos ao carisma as diferenças que temos. De fato, os carismas são únicos, mas, no que diz respeito aos princípios evangélicos, elas precisam ser iguais. Nós não podemos nos descuidar dessa dimensão e dessa característica.
Queridos fundadores, santos moderadores, precisamos vigiar muito para não cairmos na tentação, porque somos autoridades dentro das nossas comunidades. Precisamos ensinar nossos filhos que nossa vida precisa ser gasta por Cristo. Precisamos ter cuidado para não ferir a vida evangélica com as assimetrias dentro da comunidade. Temos de olhar para ela e “passar a tropa em revista”, ver se estamos na fidelidade daquilo que nos foi dado.
Outra característica é a tendência e a inclinação à vida de oração. Nossas comunidades nasceram na oração. Nascemos aos pés de Deus. Rezando, fomos descobrindo e entendendo, não por uma ação do nosso intelecto, mas rezando fomos conhecendo, por experiência, o mistério de Cristo, Sua verdade, esse mistério que nos inflamou e nos levou a fazer uma curva em nossa vida, a mudar nossos planos, de forma que fomos convencidos. A força, a fé que não tínhamos pelo Reino, pela Igreja e pelo Evangelho, não adquirimos estudando, mas rezando, nos aproximando do Senhor.
Precisamos manter a qualidade de vida de oração das nossas comunidades. A nova evangelização não é feita pelos eventos, pela internet, pelos meios de comunicação. Essas são apenas veículos. É preciso ter o que dizer, o que colocar e para isso é preciso ir ao encontro do Senhor, ouvindo-O na oração pessoal, na Eucaristia, na oração comunitária. A melhor parte não pode ser subtraída por causa de tarefa nenhum, de compromisso nenhum. Estamos sendo alertados para que não percamos de vista a vida do Espírito Santo.
Nós precisamos ir para a oração e ficarmos diante da grandeza de Deus. Temos de rezar para atualizar, perenemente, a nossa experiência pessoal com Jesus. O Senhor começou uma obra e Ele não é do tipo que começa e termina.
A nós foi dada a graça de crer e também de sofrer por Cristo. Com isso, não estou querendo dizer que temos de levar nossa vida de oração a um conformismo, mas quero dizer que não podemos reduzir nossa intimidade com o Senhor apenas às manifestações de cura e milagre. Não vamos negociar com Ele nossa vida de oração. O pai procura adoradores em espírito e em verdade.
Somos sabedores da grande crise de fé em muitos lugares. Não adianta construir templos, rincões, se não há o templo humano para que o Senhor habite. Na oração, fortalecemos nossa vontade para ouvir o que Deus quer de nós.
“Vivei plenamente a vossa dedicação a Deus para não deixar faltar a este mundo um raio da beleza divina que ilumine o caminho da existência humana. Os cristãos, imersos nas lides e preocupações deste mundo mas chamados eles também à santidade, têm necessidade de encontrar em vós corações puros que, na fé, “veem” a Deus, pessoas dóceis à ação do Espírito Santo que caminham diligentes na fidelidade ao carisma da sua vocação e missão” (Exortação Apostólica Pós-Sinodal Vita Consecrat, 1996).
Transcrição e Adaptação: Michelle Mimoso