Laércio: Bom dia a todos, nós estamos no nosso ano de jubileu, ou seja, 25 anos de casados. Por um motivo muito simples, nós nunca brincamos com nosso amor, pois fui tocado por Deus muito jovem e, apesar de na minha época das pessoas “ficarem”, eu nunca fui de “ficar”. Eu sabia que se “ficasse” com as meninas por um mês, que era o costume naquele tempo, seria eu quem ficaria apaixonado, porque eu que me envolvia emocionalmente. Então, eu nunca brinquei com os meus sentimentos. Na época de colégio, com 15 anos, eu sempre ganhava concursos de poesias, por isso, sempre haviam meninas apaixonadas por mim, mas eu nunca brinquei com isso, graças ao meu relacionamento com Deus. Eu tive 2 namoradas na minha vida: a primeira foi aos 16 anos, aquela coisa apaixonada; a segunda, foi uma coisa normal, equilibrada, e ela está até hoje ao meu lado [Glória].
Deus é muito coerente, Ele responde logicamente às nossas iniciativas. Se eu sou sério e responsável, Ele será responsável comigo. Se eu não brinco, Ele não brincará comigo. Então, essa banalização com nossos sentimentos é uma 'jogada' inconsequente que nós vivemos, porque jogamos nossa própria vida na correnteza desse mundo, brincamos com ela.
Aos 16 anos, eu estava na época da paixão, e, quando terminou o meu namoro, eu chorava no banheiro. Então, começou o que eu chamo de 'base do relacionamento': a amizade com a Glória.
Glória: Nós nos conhecemos dentro da minha casa, no meu aniversário de 14 anos, e isso foi um grande cuidado de Deus. Nós eramos amigos mesmo, sem interesse; amigos de partilhar todas as coisas, pois conversávamos muito, estudávamos juntos e ficávamos horas conversando.
Laércio: E isso tem sido a base do nosso relacionamento. No casamento, os pais ficam com os olhos somente nos filhos – o que é muito bom –, mas a vida do casal continua e é nessa hora que muitos casais se embolam.
No início do casamento, acordávamos e continuávamos horas conversando. Nós vivemos um tempo de namoro à distância, e o que une um casal na distância é a amizade, a conversa; o que nos alimenta são os laços de amizade. Mesmo longe, trocamos experiências, nos relacionamos na alma, pois o que acontece no físico é o que acontece na alma. Quando estamos assim, a distância não é problema.
Nós nunca escondemos nosso amor nem nossas brigas de nossas filhas, porque o casal tem que brigar para chegar ao entendimento. É esse relacionamento que mantém a casa, a família, e são esses momentos que nos sustentam. Nós, depois de 25 anos de casados, estamos, novamente, acordando cedo e batendo-papo como era no princípio.
Glória: Essa nossa entrega de um para outro, de partilhar tudo, nos ajudou a nos corrigirmos, pois cada um tem uma história, um temperamento diferente. Então, há um confronto de pensamentos. Assim, fomos aprendemos a ter condições de falar ao outro o que sentimos. Quando o Laércio assumiu Deus na sua vida, nós estávamos namorando, e isto foi gerando em mim o desejo de também buscar a Deus.
Quando estamos em Deus, Ele fala em nosso coração. Fomos vivendo esse processo de eu aceitar o que Deus falava e fazia na vida dele; e ele de aceitar o que Deus falava e fazia na minha vida.
Laércio: O nosso relacionamento levou a Glória para Deus. Ela fez a Primeira Comunhão depois que eu já caminhava com o Senhor; fui eu quem a preparou para a Eucaristia.
Glória: Nós não podemos ter medo de perguntar alguma coisa, pois, lá na frente, um jogará na cara do outro um situação que poderia ter sido resolvida e não foi.
Laércio: “Uma tensão não resolvida gera um conflito”. O casal precisa discutir, pois na briga busca-se do acerto. Neste conceito, eu brigo com a Glória, porque eu a amo e quero estar melhor com ela. É preciso falar sobre nossos problemas próprios de cada época. Aos 16 anos, eu falava sobre a prova, cuja nota não tinha sido boa; agora, falo sobre a mensalidade da escola dos filhos que precisam ser pagas. Os anos virão e a barriga vai crescer, mas eu a amo mais ainda, porque eu não amo o físico da Glória, eu amo a pessoa que ela é.
Gloria: Há situações em que o Laércio quer me poupar, mas quando ele entra em casa, eu já sei que ele não está bem; então eu já digo: “Não precisa me poupar, pode contar”.
Laércio: Eu conto a ela, porque ela me faz tão bem. Sei que é mais prejuízo guardar comigo do que contar a ela o que está acontecendo. Quando eu não conto e aquela bobagem fica só comigo, nós perdemos aquele momento de casal. Por isso, quando ela me pede para contar, eu me lembro de que contar para ela é o melhor para nós.
A nossa amizade com nossas filhas é graças à nossa relação. Eu sou amigo das meninas [filhas] mesmo sendo pai delas. Eu sou pai e sou amigo. A Glória é um espetáculo como amiga delas. “A amizade verdadeira enfrenta situações que são raras, caras para nós”.
Glória: O pai e mãe tem de ser amigos dos seus filhos, o que não pode é perder a autoridade, pois a amizade dá aos filhos a liberdade de contar tudo o que se passa em seus corações.
O casal não consegue se manter de pé, se não for com Deus. Com Ele nossa vida tem sentido; com Deus superamos todas as coisas.
Transcrição e Adaptação: Regiane Calixto