O Senhor Jesus, nestas duas leituras que nos foram proclamadas, convidou-nos a adentrar em seu divino coração para nos explicar coisas muito importantes ao nosso testemunho de discípulos e missionários neste mundo de hoje.
Primeiramente, Ele explicou a razão do seu sacrifício salvífico, que se renova em cada Eucaristia, mergulhando-nos no altar da cruz – de onde jorrou o Sangue redentor de Nosso Senhor Jesus Cristo. Este sacrifício aconteceu para recolher e mergulhar novamente no coração do Pai todos aqueles que, tocados pela graça daqueles se oferecem a todos sem nenhuma distinção, dobrem seus joelhos, façam o seu ato penitencial, reconheçam-se ingratos pecadores e implorem a misericórdia.
O profeta Baruc, lucidamente, reconhece tanto amor despejado sobre Israel pelo Senhor e tanta ingratidão como resposta. A incansável iniciativa dele de vir, novamente, através dos sofrimentos, e retornar a seu amado Senhor. Assim, Baruc nos dá essa belíssima lição, pois nos quer genuflexos, implorando, do coração d’Ele, a Divina Misericórdia para nós e para o mundo em que nós vivemos.
O Senhor nos mostra, com clareza, como os caminhos deste mundo, cada vez mais escurecidos por rejeitarem o amor d'Ele, estão a reclamar uma intercessão fortíssima por parte dos discípulos. Aquelas entranhas de compaixão, que O levaram a derramar o seu Sangue no altar da cruz, Ele quer ver em cada um de nós a interceder por essa humanidade que escolhe, conscientemente, mergulhar no abismo do nada, da incoerência por causa da ausência de Deus.
Esta mentalidade moderna está arrogantemente posicionada no sentido de livrar o horizonte da humanidade da presença de Deus – com as conseqüências que pululam ao redor de nós diariamente de maldade, de ódio, guerra, de destruição, morte, decomposição dos valores mais sagrados do ser humano, como o respeito à vida e o valor à família. E Nosso Senhor está esperando de nós – genuflexos e penitentes – o sacrifício, a oblação, a súplica para que a Misericórdia d'Ele vença as durezas que estão cegando tantos corações. Ele espera uma resposta.
Quando nos colocamos na intimidade do Senhor na Eucaristia, não é porque haja méritos para chegarmos até aqui, mas por misericórdia, para que, com Ele, aprendamos o sentido da intercessão, da esperança que cresce à sombra da misericórdia. Depois, no Evangelho, Ele nos fez um alerta: cuidado para que a minha graça, o meu dom e a minha manifestação de amor a você não sejam esquecidas no seu dia-a-dia, levando você a trilhar os caminhos da maldade. Ele mesmo nos disse que a quem muito se dá, muito se pede (cf. Lucas 13, 48c).
Quando pensamos neste mundo tão escurecido, naqueles que não conheceram o amor de Nosso Senhor Jesus e que, por caminhos impensáveis para nós, tentam fazer o bem ao seu próximo; quando pensamos naqueles que não querem nem saber no divino, da bondade e olhamos para nós, que recebemos tanto carinho d'Ele, percebemos que podemos devolver a Ele respostas em conta-gotas, com aquele "amorzinho" medido na fita métrica, se possível em milímetros.
Nós, que somos da intimidade do Senhor, quantas vezes os que não crêem [em Deus] e sabem que somos discípulos d'Ele, nos olham e não percebem o brilho da santidade, o ardor da paixão por Ele, e nos vêem, muitas vezes, frios, insensíveis, formais, numa espécie de religiosidade que não toca ninguém. Que responsabilidade!
Imaginemos o que seria que nós se na hora do juízo escutássemos: “Ai de você!” Mas o Senhor nos alertou porque sabe que nossa fragilidade humana é pesada, por isso, não podemos ter medo de trazê-la à fogueira revitalizadora do amor, que é a mesa da Eucaristia, o altar do sacrifício. O banho nesse Sangue preciosíssimo que resgata em cada um de nós a graça da santidade para sermos ponto de referência.
Com que dor o coração de Nosso Senhor deve contemplar, por vezes, discípulos ungidos, consagrados por Ele, que se comportam como homens e mulheres do mundo, vazios e que impedem, pelo contratestemunho, a passagem da luz de Jesus pelos corações. Por isso, nós temos de dobrar os joelhos hoje à tarde, porque o Senhor nos mostrou como esse Sangue preciosíssimo nunca cessou de jorrar para encorajar aqueles que Ele chamou, ungiu e enviou para dar frutos.
Se esta noite o Senhor viesse buscá-lo, o que Ele colocaria na balança do seu julgamento? O Espírito não deixa de soprar em nosso coração, para, sempre, estarmos atentos ao que o Senhor nos pede, fala, comunica, transmite e exige. Havemos de abrir espaço para ouvir esse mesmo Espírito.
A Divina Misericórdia, que está sempre querendo adentrar o espaço do nosso coração, quer vir, não apenas para ser invocada em algumas preces, mas quer entrar em nosso coração para arrebentar, dentro de nós, essas muralhas carcomidas de pecado, diante das quais queremos nos esconder do olhar de Deus. Para que haja tudo novo em nós, dói. Arrancar uma história para transformá-la, dói muito. Bendita dor! Ela tem de acontecer na nossa vida para que desabroche o novo homem, a nova mulher, criado na justiça, na santidade e na verdade.
Quanta bondade no coração de Nosso Senhor! Quanta ternura amorosa pronta a se derramar sobre nós! E nós, às vezes, caminhando na presença d'Ele, revestimo-nos em uma camada de plástico para que essas gotas não entrem em nós, perdendo a hora da graça e da misericórdia.
Não, meus irmãos! Vamos procurar junto à grande pedagoga da vida, que é a Santíssima Virgem Maria, para que Ela nos ensine esta lição, não nos deixe ser maus alunos e nos ensine a deixar que o Espírito do Senhor penetre fundo e vá aonde não queríamos que Ele fosse. Não tenhamos medo, porque é ali que Ele vai nos curar, santificar. Todos nós precisamos que esse olhar de Jesus vá à raiz de nossa alma, iluminando com a fogueira de seu amor, para que, finalmente, decidamos: "Eis-me aqui, Senhor, faça-se em mim segundo a sua vontade" (Lc 1,38). Essa Palavra belíssima de Maria é a chave que abre o espaço da verdadeira cura no coração de cada um de nós. Não nos limitemos a pedir determinadas graças que se fazem necessárias na nossa vida, é importante que a peçamos, mas é preciso cuidado para não transformarmos nosso coração somente nesses pedidos. É preciso pedir, em primeiro lugar, que Ele arranque de nós o “velho homem” e nos faça santos como Ele quer que sejamos! Essa é a primeira súplica que o Senhor quer sempre ver em nossos lábios, aflorando do coração. O restante Ele sabe de que nós precisamos e está pronto para nos atender na hora d'Ele.
Transcrição: Michelle Mimoso
Fotos: Renan Félix
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