“É justo que entre os mortais ela seja uma fonte viva de esperança, pois aponta para o nosso destino último.” – Dante Alighieri. “Maria é o penhor e o cumprimento da promessa de Cristo. A sua Assunção torna-se para nós um sinal de esperança certa e de consolação” (Lumen gentium, 68). A Assunção de Maria foi definida dogmaticamente pelo Papa Pio XII, no dia 1° de novembro de 1950, com a Constituição Apostólica Munificentissimus Deus.
São Francisco de Sales afirma que não se pode duvidar que Jesus Cristo cumpriu, de modo mais perfeito, o divino mandamento que obriga os filhos a honrarem os pais. E a seguir, faz esta pergunta: "Que filho haveria que, se pudesse, não ressuscitaria a sua mãe e não a levaria para o céu?". E Santo Afonso de Ligório, por sua vez, escreveu: "Jesus não quis que o corpo de Maria se corrompesse depois da morte, pois seria uma desonra para ele que se transformasse em podridão aquela carne virginal da qual ele mesmo recebeu a própria carne" (Munificentissimus Deus, 35).
O ventre de Maria foi o primeiro sacrário da humanidade, visto que portou Jesus Cristo, o Filho de Deus. Por isso ela é a verdadeira Arca da Aliança, porque teve em si a presença do Deus encarnado. No mistério da Assunção, Deus está tocando frontalmente o problema da morte e nos mostrando que ela não é o fim. Ela [morte] nos acompanha a todo momento na doença, na dor, na desilusão, na solidão, no abandono… A mulher traída, a mãe que possui um filho dependente na droga, a garota seduzida e abandonada, a pessoa que está aprisionada a afetos estragados, não podem dizer que estão vivendo processos de morte (ainda que no coração)?
Diante dessas forças negativas de morte, muitas vezes, sentimo-nos impotentes. O aparente “silêncio de Deus” nos desconcerta e nos convida à prova da fé. Olhando para a Assunção de Maria, nosso horizonte de compreensão se expande e dilata-se a nossa fé, pois percebemos que a finitude não pode aprisionar nossa alma e coração, que possuem um destino e uma vocação eternos.
Hoje, celebramos a solenidade daquela que não foi tocada pela morte. Podemos aprender com Maria muitíssimas lições úteis para alcançarmos a cura interior e para construirmos nossa felicidade: a sensibilidade e atenção de Maria em ir servir sua prima Isabel (cf. Lc 1,39-40), realidade esta tão ausente em nosso tempo, o qual é profundamente marcado pelo individualismo e pelo utilitarismo: muitos ajudam somente os que lhes oferecem algum “retorno”, dando algo em troca. Assim, o auxilio é sempre interesseiro e utilitarista.
Como disse o psicólogo americano Marxwell Maltz, “a felicidade é um bem que se multiplica ao ser dividido”.
A Virgem Maria foi, em sua história humana, de um extremo ao outro de maneira intensa; da pobreza e pequenez até a mais alta glorificação, em corpo e alma, em sua Assunção ao céu. “O Senhor fez maravilhas” (Lc 1,49a)", "…porque olhou para a humildade de sua serva” (Lc 1,48a). “Ele exaltou os humildes” (Lc 1,52b).
Deus realiza maravilhas naqueles que se reconhecem pequenos e sabem se reconciliar com sua miséria e fragilidade. Será que as fraquezas, perdas, tristezas e os limites podem nos impedir de construir uma verdadeira felicidade? Independente de suas fraquezas e limites, Deus quer realizar maravilhas em você! Ele quer ensiná-lo a construir a felicidade mesmo diante das inúmeras fragilidades e incapacidades presentes em sua história.
Deus é especialista em pessoas imperfeitas e em causas impossíveis. Sua ação é sempre mais fecunda e eficaz naqueles que se reconhecem limitados e fracos, e que a Ele sabem oferecer suas debilidades e imperfeições.
Quero traçar um paralelo entre Moisés e Maria, no concreto processo de superação de suas fraquezas. Ambos se percebiam fracos e pequenos; tiveram que aprender a superar suas fraquezas em Deus.
O Senhor neles realizou maravilhas, mas isso só foi possível pelo sim e pela disponibilidade de cada um diante de Deus. Mesmo sendo fracos e pequenos, eles souberam se ofertar.
Defeitos de Moisés: assassino, gago, sem família (nasceu em um contexto muito complicado), tinha um grande complexo de inferioridade, muitas dúvidas, medos, inseguranças etc.
Ele não acreditava que poderia enfrentar o Faraó nem vencer seus medos, assim manifestando um intenso complexo de inferioridade. “Então, disse Moisés a Deus: Quem sou eu para ir ao Faraó e tirar do Egito os filhos de Israel?” (Ex 3,11).
Ele não era sobrenatural nem um herói hollywoodiano, mas se tornou alguém admirável pelo fato de lutar constantemente contra si mesmo e por buscar ultrapassar, com fé, os seus muitos limites.
Fragilidades de Maria: jovem (os jovens eram desprezados em sua época), mulher (as mulheres também eram desprezadas), pequena, pobre, pertencente a um vilarejo pequeno e inexpressivo (por isso, com certeza, sentia-se inferior), esmagada (como nós) por medos, dúvidas, tentações, cheia temores e de sonhos que não se realizaram (humanamente falando: frustrações).
Ela, inicialmente, não compreendeu todas as coisas e precisou caminhar na penumbra da fé, vivendo muitos dos humanos dramas e crises que nós também vivemos.
O Senhor, no entanto, olhou para sua pequenez, porque viu disposição e humildade em seu coração. Nela, Ele realizou maravilhas, porque Maria soube reconhecer sua limitação e ofertá-la a Deus, confiando mais n’Ele do que em si mesma.
Ela foi cheia de graça, porque soube fazer-se vazia de si pela humildade. Ela se reconheceu pequena e soube fazer-se disponível, aceitando o chamado de Deus com o seu inteiro sim.
E você, quais são as fraquezas, vícios e limites que não tem lhe permitido construir a felicidade que Deus sonha para você?
Pode ser que você se encontre profundamente limitado em seu processo de se tornar alguém mais feliz, e isso em virtude das inúmeras mágoas e ressentimentos que coleciona no coração, ou pelo fato de lhe faltar alguns dons que você julgava ter. Talvez pelo fato de você ter pedido coisas, pessoas e oportunidades ou por você não se sentir devidamente amado e acompanhado na vida; ou ainda por seu coração encontrar-se aprisionado em vícios e debilidades, quem sabe em seu temperamento, etc.
Não tenha medo diante de sua fraqueza e pequenez, saiba que estes são ingredientes fantásticos para que você lance as bases para a construção da sua felicidade em Deus. Não importa o quão longo e difícil será o caminho por vir; se seguirmos em frente, reconhecendo nossa pequenez e cientes de que sem Ele não somos nada, poderemos nos moldar a cada passo que dermos, superando nossos medos e ultrapassando nossas expectativas.
Saiba que suas fraquezas e circunstâncias difíceis não são maiores que o projeto de felicidade (cf. Jr 11,29) que Deus tem para você, e, mesmo diante de todas essas debilidades, o Senhor quer lhe dar a força para superar suas fragilidades e se tornar alguém verdadeiramente feliz.
Não se acomode diante de suas fraquezas e limites. Entregue a Deus sua história e permita que Ele faça em você o que fez em Moisés e Maria.
Para que o Senhor faça grandes coisas também em nós, precisaremos cultivar a mesma fé e humildade de ambos.
Maria soube se alegrar em Deus (cf. Lc 1,47), reconhecendo que a força d’Ele é bem maior que suas humanas fraquezas, e que nela Ele iria realizar maravilhas!