Em Jesus, vê bem quem vê com o coração

Pe. Marcos Pacheco
Foto: Vânia Regina/CN
Meus irmãos, o fio condutor da Palavra de Deus, nesta semana, nada mais é do que o seguimento de Jesus. Mas algumas palavras precisam ficar claras no coração daqueles que querem seguir o Senhor. A primeira delas é a pobreza; não a material, mas a pobreza espiritual, a humildade. A segunda é deixarmos nossos bens para seguir Jesus; não apenas os materiais, porque isso é fácil; difícil mesmo é deixarmos os bens sentimentais, como o pai, a mãe, a família. Deixar o que está fora é fácil, mas e o que está dentro?

Autoridade na Igreja se chama serviço. Maior é aquele que serve principalmente a quem está abaixo, porque servir quem está acima pode ser conveniência.

A partir da Palavra de hoje, Marcos apresenta Bartimeu. E, hoje, Bartimeu somos nós, porque quem quer seguir Jesus, precisa ter a coragem de levar a sua miséria ao coração de Deus. Só é capaz de tocar o Senhor quem tiver a coragem de tocar, primeiro, o mistério de sua existência, a começar pela miséria.

Na oração há intimidade entre duas pessoas [você e Deus] que se amam. Mas o Senhor não quer conversar com você sobre isso e saber o que você tem de melhor, porque isso foi Ele próprio quem lhe deu. O que Ele quer conversar com você é sobre os seus pecados, suas misérias.

A pessoa que perde o sentido da vida não consegue enxergar nada, a vida dela se torna um deserto e ela não enxerga mais a cor que esta tem. Aliás, se formos ver geograficamente, veremos que a palavra "depressão" não passa de um buraco. Mas ou nós olhamos para cima ou ficamos batendo com a cabeça no barranco e nos afundando cada vez mais.

Bartimeu continua cego, porque perdeu o sentido da vida, e por isso está mendigando, passando por necessidades físicas e espirituais.

"Sofrimento vivido em Deus perde seu caráter ameaçador"
Foto: Wesley Almeida

Não nos esqueçamos de que Bartimeu representa cada um de nós, pois ele tinha a certeza de que o Senhor passaria por aquele lugar onde ele estava. Jesus, então, passa perto de Bartimeu; o Senhor passa perto de nós. E os que estavam com Cristo pedem que o cego se cale.

Por mais que existam, perto de nós, alguns carentes necessitados da presença constante do Mestre, não podemos desistir. E são os discípulos que pedem  que Bartimeu se cale, pois querem a exclusividade de Jesus. Para nós, esses são como nossos amigos, pois, na prosperidade, eles nos conhecem; no entanto, na hora da dificuldade, nós é que conhecemos nossos amigos.

Bartimeu não teve dúvida e disse ao ver Jesus: “Jesus, Filho de Davi, tenha compaixão de mim”. Nesse momento, ele deixa a capa da hipocrisia, do orgulho e se joga sobre os pés de Cristo, porque sabe que Ele pode curá-lo.

Quando Jesus o chama, Bartimeu se levanta, porque tinha certeza de que o Senhor passaria por lá. É essa certeza que precisamos ter em nosso coração. Então, o Senhor lhe pergunta: O que queres? Bartimeu tem a coragem de trazer a sua miséria para Jesus e Lhe diz: “Rabone, eu quero enxergar”.

"Sofrimento vivido em Deus perde seu caráter ameaçador"
Foto: Wesley Almeida

Jesus quer que enxerguemos além das pessoas, além das coisas, porque o essencial é invisível aos olhos. Mas temos muitos melindres. Quando algo está machucado em nós, ou apresentamos para a pessoa qualificada cuidar ou a ferida vai inflamar. O grande problema de nossa vida fraterna é quando uma ferida não é apresentada para que Deus possa curá-la, pois, ela vai inflamando e começamos a evitar o irmão.

No momento em que Bartimeu deixa Jesus curá-lo, ele passa a ser o único discípulo autêntico do Senhor, porque, vendo Deus através das pessoas, coloca-se no seguimento de Jesus. Ele não consegue mais ver a cruz de Jesus, mas vê além dela; ele consegue ver a redenção, a ressurreição. Bartimeu não consegue mais ver o sofrimento, mas todo o aprendizado que Deus quer fazer além do sofrimento.

Este sofrimento que está lhe deixando cego, sem ver a vida, é, na maioria das vezes, psicossomático, pois é a falta de perdão, é a falta de coragem para apresentar a sua miséria. Precisamos perguntar a Deus o que temos de aprender com nossos sofrimentos.

O seu sofrimento faz de você um ser humano melhor ou você continua um 'bicho'? Porque se esse sofrimento não nos faz melhores, vamos penar muito nessa vida. Sofrimento vivido em Deus perde seu caráter ameaçador e se torna fonte do seu encontro com o Senhor.


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