Honras não se buscam sem perigo nem se recebem sem temor; fugir-lhes é dever, não aceitá-las pode ser orgulho. Nessa perpectiva é honra e venho reclamar para este filho de Dom Bosco e bispo de Caraguatatuba (SP), a de presidir essa solene concelebração num momento tão significativo para a Igreja, para os jovens, para a Canção Nova e para toda a família Salesiana da qual a Canção Nova é o ramo mais tenro e viçoso. Prefiro ainda, neste momento, aceitar este privilégio como mais uma delicadeza da Providência na minha vida.
Falar sobre a santidade da Mãe nessa solenidade litúrgica em que comemoramos 155 anos da proclamação do dogma da sua imaculada conceição, proclamada por Pio IX em 8 de dezembro de 1854, e falar do grande santo e fundador São João Bosco, do que é autêntico no carisma salesiano.
Conheci o monsenhor Jonas ainda estudante de teologia no início da década de 60. Um seminarista, de batina naquele tempo, que tocava violão e irradiava uma alegria que, com clareza, não era deste mundo. Lembro-me ainda do refrão que nos fazia repetir no dia de retiro que animou juntamente com outros colegas no Liceu Coração de Jesus em São Paulo: “Quase tudo vem do quase nada. Quase tudo de pouco vem. As grandes coisas nascem das pequenas. No Reino de Deus é assim também”.
Ordenado sacerdote em 1964, ano político atípico e marcante na história política e social da nossa nação, final do Concílio Vaticano II e início de sua atuação, monsenhor Jonas demosntrou um ardor que transcendiam as paredes do território do Seminário de Lavrinhas (SP); e mesmo no grande quadrilátero que é o Liceu Coração de Jesus, em São Paulo, ele, dali, celebrando a liturgia renovada, colocava seus dons de natureza a serviço dos jovens e do Senhor, compondo músicas liturgicas que louvavam a Deus e, ao mesmo tempo, expressava o sentimento dos jovens que rezavam e cantavam com entusiasmo, formando filas intermináveis nos confessionários. Após a Santa Missa, eles se reuniam para irradiarem aquela experiência bela que conseguiam vivenciar.
Como salesiano e apoiado por inúmeros de seus irmãos, foi multiplicando as iniciativas. A sua experiência vivida com aqueles primeiros, dos quais tenho a honra de ter feito parte, fomos na sua confiança de filhos de Dom Bosco, que sempre acreditou nos jovens e que eles eram capazes de acreditar em outros jovens, enviados em missão para animar favelas, capelas, escolas. Saímos de São Paulo para levar essa bela experiência a Campo Grande, Londrina, Recife… Enfim, para todo o Brasil Salesiano de modo especial. Campos do Jordão, onde fazíamos os grupos de aprofundamento e conversão, tornou-se, então, a montanha das bem-aventuranças juvenis, como definiu o então cardeal Agnelo Rossi, arcebispo de São Paulo.
O excesso de trabalho, o ardor incansável, a dedicação a todos e a cada um de nós, fez com que, no final desta década, exatamente quando realizávamos a primeira expedição missionária auxiliadora a Porto Velho, o então padre Jonas, alquebrado, de tantas canseiras e também não poucas incompreensões, é acometido por uma tuberculose que lhe impõe um repouso absoluto. Por coincidência ou providência, nas mesmas montanhas de onde ele pregava para irradiar os valores evangélicos a milhares de jovens vindos de todas as partes do Brasil e de fora.
A experiência missionária que pude vivenciar em Porto Velho, a doença de Padre Jonas, a urgência de evangelização, a formação recebida em minha família, que semre pertenceu à Família Salesiana, me fizeram decidir pela dedicação radical a Deus e aos jovens. Tornei-me também um salesiano de Dom Bosco. Qual não foi minha alegria quando então seminarista, pude receber em Lorena (SP), já recuperado, o grande irmão que agora se torna meu formador e professor. Lembro-me ainda de suas dinâmicas de psicologia e aprendizagem.
O seu ardor mais uma vez transcende os muros do Colégio São Joaquim, em Lorena (SP). Num retiro pregado por dom Aroldo Hans, que trazia experiências da Renovação Carismática, nos tocou profundamente. E monsenhor Jonas, a partir de então, acentua na sua caminhada com os jovens, a ação evangelizadora numa maior confiança e relação com o Senhor Jesus.
Começa, então, em Lorena, um grupo decidido a formar uma comunidade de vida. Consagrados à missão e ao carisma, alguns disseram: “Queremos ficar com padre Jonas”.
O reconhecimento da Igreja, a concessão do Direito Pontifício e o mais importante para nós hoje, o reconhecimento do 19º sucessor de São João Bosco, o cardeal Rilko dizendo oficialmente que “a Canção Nova não é só para a Igreja do Brasil, mas a Igreja do mundo inteiro quer e precisa da Canção Nova”.
De verdade, não sei o quanto celebrar o dogma da Imaculada na Igreja, pois o que nos chama tanto a atenção hoje são outras coisas que não a beleza da santidade. No mundo em que vivemos, quanta coisa feia, vulgar, violenta que geram medos, insatisfações e depressões. Por isso temos necessidade imperiosa de olhar e ver, contemplar com os olhos do coração as coisas belas, a beleza da Virgem Imaculada.
Dom Bosco sonhou que seus filhos passariam a limpo os seus rascunhos. Mais do que falar dele é reconhecer que ele está em cada um de seus filhos. O amado monsenhor Jonas está nesta palavra: humildade. É por isso que ele é exemplo e nós o amamos tanto. Maria, Mãe da Igreja, a estrela da evangelização, a Imaculada Conceição o conduza sempre pela mão como Mãe, como foi para o nosso Santo Pai, Dom Bosco.
Viva monsenhor Jonas, viva Dom Bosco, viva a Imaculada Conceição, viva a Igreja, viva Cristo!
Transcrição: Michelle Mimoso