No Evangelho, alguém perguntou: "Senhor, é verdade que só alguns serão salvos?". Jesus não respondeu a pergunta, mas deu um ensinamento que, aparentemente, soa como algo terrível para nós.
“Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão. Então começareis a dizer: ‘Nós comemos e bebemos diante de ti, e tu ensinaste em nossas praças!’Ele, porém, responderá: 'Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim, todos vós, que praticais a injustiça!’Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac e Jacó, junto com todos os profetas no Reino de Deus, e vós, porém, sendo lançados fora" (Lc 13, 24-28).
Veja, Jesus coloca a nós, pregadores e padres, na parede, porque é fácil falar sobre misericórdia, salvação, perdão etc., mas a realidade que o Evangelho diz é sobre inferno, um lugar de "fogo e ranger de dentes".
Vivemos num mundo onde ninguém quer falar de inferno; as pessoas querem pregação de misericórdia sem conversão. Mas eu digo que não há salvação sem o esforço da conversão, pois o inferno é para quem livremente não fez a opção por Deus.
Quem inventou o inferno? Não foi Deus. Foram os anjos rebeldes, aqueles que se rebelaram contra o Senhor. A Doutrina da Igreja diz que o inferno existe e para lá só vai quem, conscientemente, rejeita o amor do Pai.
O Papa Bento XVI falou sobre a questão do juízo final, ainda quando era o Cardeal Ratzinger, durante um encontro para as Novas Comunidades. Na ocasião, o cardeal apontou alguns tópicos sobre o que não podia faltar no anúncio da nova evangelização. Entre os temas estava o anúncio do juízo final, ou seja, a notícia de que o homem prestará contas sobre os seus atos, desde os mais simples até os mais poderosos.
A humanidade será julgada. Isto é uma verdade de fé da Igreja Católica, por isso nós não podemos perder esta visão escatológica da nossa fé.
As pessoas podem questionar o fato de nada estar acontecendo e, com esta ideia, acabarem se perdendo, porque Deus não tardará em fazer juízo sobre seus atos.
Nós pregadores não podemos ficar preocupados com a quantidade de livros, palestras e CDs que vendemos, mas com quantas pessoas se confessaram durante um encontro.
O que nós estamos fazendo com a nossa evangelização? Quais são as nossas motivações para evangelizar? A evangelização não pode ser cobrada.
Eu não estou preocupado com quantos seguidores eu tenho no Twitter ou no Facebook. Há pessoas que me dizem: "Padre, a prefeitura da minha cidade paga tanto para o senhor celebrar uma Missa lá". Eu lhes digo: "Deus me livre! Minha Missa não tem preço, eu não pratico simonia, não cobro para pregar o Evangelho, porque minhas motivações são outras".
Se nós vamos ser julgados, nosso ministério não pode ser como 'prostitutas de luxo' que só servem os poderosos. É uma palavra feia, dura, que incomoda, mas é a pura verdade, pois há pessoas que estão vendendo o seu ministério.
Precisamos tomar juízo e nos convertermos, porque, no final, o Senhor não vai nos perguntar quantos livros vendemos, quantas palestras as pessoas compraram. Não! Deus não é um capitalista selvagem e a salvação não será medida por números.
Às vezes, as pessoas pensam que serão salvas pelos números. "Senhor, eu fiz isso; Senhor, eu preguei assim; Senhor, eu cantei para multidões", mas elas se esquecem que Deus vai nos julgar pelas motivações que estão na nossa consciência.
A Palavra diz também que os que foram perseguidos pela justiça alcançarão o Reino. Se você está sofrendo injustamente por causa do Evangelho, este é um bom sinal. Não esmoreça no seu sofrimento, porque a porta da salvação é estreita. Se assim fizermos, nos encontraremos no lugar que Cristo preparou para nós: o céu, a vida eterna com Ele.
Eu não estou aqui pregando a heresia do pelagianismo, o qual dizia que nós nos salvamos pela nossas próprias forças. A Bíblia nos diz que, nesta luta, nós não estamos sozinhos, vamos fazer a nossa parte e Deus estará conosco.
"Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus. Considerai, pois, aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos" (Hebreus 12,3-4).
"Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado". Ou seja, não haverá salvação sem uma luta violenta contra o pecado. Meus irmãos, fiquem com esta certeza: Deus vai lutar junto com você.
Transcrição e adaptação: Daniel Machado