Manifesto no coração a minha grande alegria de poder estar, aqui, na minha amada Canção Nova neste dia de São Francisco de Assis. Hoje é um dia solene para toda a Igreja. Pela providência do Senhor, neste ano, comemoramos os 800 anos da conversão de Francisco de Assis. O mais maravilhoso de tudo isso é que mesmo passados 800 anos o Senhor Jesus continua realizando o que Ele disse por meio da boca dos salmistas: “É um júbilo ao meu coração a morte dos meus santos”. O Senhor dá aos seus santos a graça de se manifestar em suas vidas não somente enquanto Ele era vivo, mas mesmo depois de sua morte. Por isso tantos jovens ainda hoje se encantam com a história de Francisco. É possível seguir o Senhor com autenticidade tão profunda como a deste santo.
Quero falar de alguns momentos que marcaram profundamente a vida de Francisco e que ainda hoje marcam a vida da juventude. Dirijo essas palavras especialmente para a juventude.
Francisco inquieta tanto, incomoda tanto, que foi escrito um livro que vem dizer tudo ao contrário sobre a sua vida. Esse povo é tão ignorante, que acha que nós o amamos por seus estigmas e, por isso, inventaram mentiras sobre essa realidade de sua vida. Ainda hoje ele incomoda o mundo.
Quantos jovens hoje se sentem chamados pelo Senhor – para assim como Francisco – O seguirem de perto sem ao menos terem tempo de meditar se é uma vocação ou não. Eles largam tudo e seguem Jesus. Como é o Senhor Jesus que chama, Ele dá a eles a graça de renunciarem até mesmo a meditação sobre o seu chamado para largarem tudo e O seguirem. Jesus fez isso com Francisco: não deixou que ele refletisse sobre a sua vocação, mas o levou a odiar tudo o que amava e a amar tudo o que odiava, e nisso, a ter a sua alegria. Antes disso, ele tinha nojo e medo dos leprosos e foi neles que ele encontrou a sua alegria.
Toda a vocação é assim, não nos dá tempo de meditar, mas nos leva a abandonar tudo e a seguirmos o Senhor. Quem chama é Deus, por isso, Ele tem uma Palavra única, especial no coração de cada jovem. É o chamado, a vocação.
“Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi e vos constituí para que vades e produzais fruto, e o vosso fruto permaneça” (João 15,16).
Quando Francisco iniciou a graça de sua conversão ao encontrar um leproso, antes disso ele já havia tido uma experiência com um mendigo – quando um lhe pediu esmola pelo amor de Deus, ali mais uma vez o Senhor o tocou. Sua vocação estava sendo maturada e não meditada.
Infeliz o jovem que nega a sua vocação. Ela é um fogo que consome a sua alma. Mesmo na dor, mesmo no sofrimento, você – sem meditar – larga tudo e vem ao encontro do Senhor.
Outro momento forte de encontro com o Senhor foi quando Francisco se sentiu impelido pelo Espírito Santo a entrar naquela igreja de São Damião. Lá o Senhor crucificado o chamou a reconstruir a Igreja que estava em ruínas.
Toda vocação tem como alma a resposta do chamado. Francisco respondeu: “Senhor, o que queres que eu faça?” Essa foi a resposta dele sem meditação. Ele foi radical porque sabia quem o está chamando.
Jovem, hoje, o Senhor faz a mesma coisa. O Senhor espera uma resposta sua, sim, e bendito é o jovem que tem essa coragem. Hoje, a vocação é muito estruturada, muito “psicologizada”, ou seja, muito meditada e pouco vivida.
Ouça: "Ninguém esquece o dia do seu chamado"
Uma vocação marca tanto a vida de alguém que João, depois de 60 anos – quando vai escrever o Evangelho – lembra e coloca o momento e a hora do seu chamado. Um chamado marca profundamente a vida de alguém.
"No dia seguinte, estava lá João outra vez com dois dos seus discípulos. E, avistando Jesus que ia passando, disse: Eis o Cordeiro de Deus. Os dois discípulos ouviram-no falar e seguiram Jesus. Voltando-se Jesus e vendo que o seguiam, perguntou-lhes: Que procurais? Disseram-lhe: Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras? Vinde e vede, respondeu-lhes ele. Foram aonde ele morava e ficaram com ele aquele dia. Era cerca da hora décima" (João 1, 35-39).
Jovem, se você lembrar do dia do seu chamado, o momento do seu encontro pessoal com o Senhor, você pode passar por qualquer sofrimento, por qualquer provação. Porque seguir sem meditação? Porque a voz de Deus é incomparável. É Ele que chama. Por isso, você passa por qualquer coisa pelo Senhor, pelo Senhor que o chamou. Imaginem o amor que Jesus sentiu por Francisco. Imaginem o amor que Jesus tem por aqueles que imediatamente deixam tudo para segui-Lo.
Ainda hoje depois de 800 anos, Francisco continua colocando medo no mundo. O mundo quer moldá-lo como o santo dos animais, quer diminuir a sua radicalidade. Mas Francisco entra na casa das pessoas e muda a vida dessa família, muda a sociedade, muda essa estrutura criada para o não-seguimento de Jesus.
Francisco continua hoje arrastando, entusiasmando uma multidão de jovens para seguir Jesus de perto. Toda vocação é entusiasmada, é cheia do Espírito Santo. Uma vocação triste, uma vocação – que não entusiasma os outros – significa que está faltando nela a alegria do chamado. A alegria que não dá tempo para a meditação. Hoje, o mundo vê nas vocações um peso, um fardo, porque muitos perderam o entusiasmo de sua vocação, perderam a alegria de sua vocação.
Entusiasmo significa uma alma sem dúvida vocacional. Hoje nesse mundo, que questiona tudo, que duvida de tudo, nossas vocações são entusiasmadas, são decididas e firmes, não há dúvidas, pois sabemos quem nos chamou. Por isso, o mundo não suporta uma vocação e quer fazer com que ela seja morna, duvidosa, fria. Eles colocam os valores deste mundo diante de mossa vocação: uma burguesia, uma falsa liberdade, um erotismo sujo. Infelizes os jovens que vão atrás disso!
O mundo teme isso porque uma vocação irrita, incomoda. A liberdade de uma vocação incomoda este mundo tão preso a falsos valores. Por isso a Igreja tem tanta esperança nos jovens, em vocações entusiastas.
O mundo coloca diante dos seus olhos todos os seus defeitos, as marcas da sua história, para fazê-lo tremer. Uma vocação é uma graça e o Senhor só chama os que Ele quer. O Senhor usa da sua fraqueza para lhe mostrar que foi Ele quem o chamou, e esta é transformada a ponto de ser um sinal do chamado de Deus. Sua fraqueza lhe dá a certeza de quem o chamou foi Nosso Senhor Jesus Cristo.
Ouça: "A perfeita alegria"
A verdadeira alegria, a felicidade plena está em realizar o chamado do Senhor. Mesmo que você tenha uma família estruturada, uma família muito boa, você não será feliz se Deus o chama a uma vida consagrada. E mesmo que sua família não seja do jeito que você sonhou, não é ficando em casa – tentando fazer o que você não pode fazer – que você será feliz.
A verdadeira alegria é não perturbar a sua alma – mesmo na incompreensão. É amar gratuitamente, a paciência que tudo alcança, a liberdade de amar a todos. E mesmo que você seja humilhado pelos que você esperava receber amor, ame-os mesmo assim. A liberdade do amor que é a verdadeira liberdade.
O mundo também quer estruturar o Evangelho, pois eles têm medo da liberdade do amor. A verdadeira alegria está em seguir Jesus até as últimas conseqüências.
Vocação tem sentido profundo. O homem e a mulher, que assumem a sua vocação, imploram a tantos outros que venham também. Vocação significa nome novo, alegria nova, vida nova! A vocação inquieta, provoca e nos tira da quietude. Uma vocação cheia de entusiasmo incomoda, pois é sinal de contradição. Assim viveu Francisco.
Transcrição e áudio: Renan Félix
Fotos: Natalino Ueda