O fermento de Deus cura todo o medo

Padre Fabrício Andrade
Foto: Carlos Eduardo/CN

Existia um esforço constante de Jesus, em conduzir primeiro os discípulo e depois o povo a uma experiência interna e não externa. Por isso, Jesus alerta os discípulos dizendo: “Cuidado com o fermento dos fariseus”.

No Evangelho de São Lucas 11,37, podemos compreender melhor o porquê desta exortação tão dura de Jesus para com os discípulos, porque na Palavra de Deus não tem só palavras bonitas, mas também passagens duras que nos exortam. Toda religiosidade dos Judeus estava baseada em ritos externos e por isso aquele fariseu ficou admirado porque Jesus não lavou as mãos. Não é que Jesus era mal educado, mas o assunto era mais profundo. É nesse contexto que Jesus vai anunciar a hipocrisia dos fariseus. Onde nós usamos o fermento? É no interior da massa que vai o fermento.

A hipocrisia para os gregos tinha o mesmo significado de um ator, e o artista era chamado de hipócrita, porque em uma encenação ele usava varias máscaras. E Jesus estava dizendo que os fariseus estavam se escondendo atrás das máscaras. O esforço de Jesus era conduzi-los para uma experiência interior. Ele estava convidando os discípulos a fazerem uma experiência de dentro para fora, isso chama-se cura interior. É deixar que o fermento de Deus me faça crescer, porque o que nos faz crescer é o que está dentro.

O Senhor quer conduzir os discípulos a uma experiência de cura interior, e este é o caminho: Tirar as máscaras, porque não só os gregos, mas também nós as colocamos. Este caminho de cura é exatamente de revelar quem está por detrás da máscara.

Se não sabemos identificar o medo, não saberemos como começar o caminho de cura
Foto: Carlos Eduardo/CN

Qual é a função de uma máscara? É esconder quem fica por trás. Sabia que muitos palhaços só tem coragem de ser palhaços porque usam uma máscara? E muitos de nós, nos comportamos como verdadeiros palhaços no trabalho, em casa e nos nossos relacionamentos.

Sabe quem foi a primeira pessoa que tentou se esconder atrás de uma máscara? Foi Adão e Eva. (ref. Gênesis 3). Adão e Eva com medo de Deus se esconderam atrás de uma árvore, e o próprio Senhor os conduz a um caminho de cura para mostrar a eles o que tinham feito. E aqui tem um segredo de cura. O processo deles se esconderem teve uma causa e não foi o pecado, pois mesmo eles pecando Deus vai ao encontro deles. O que eles tiveram foi medo, e por isso com medo se esconderam.

A raiz de todas as máscaras que usamos, muitas vezes, é o medo de ficarmos sozinhos, medo da solidão, morte, medo de que as pessoas não nos respeitem… Se você me disser o seu medo eu lhe direi que máscara você usa. Por isso o Senhor nos pergunta hoje, qual é o medo do nosso coração?

Cura interior é o processo de ir revelando os nossos medos, porque não há nada oculto que não venha a ser revelado. Este é o processo que eu e você devemos passar. Qual é o medo que você tem? São traumas que você traz na sua história que te fizeram criar máscaras? E como é que estes medos são revelados? Pelo fermento que todo cristão tem dentro de si que é o Espírito Santo que cada um recebeu. Este é o selo que fala a primeira leitura, o fermento da vida de todo cristão. É preciso deixar que este fermento se misture com a nossa história e rompa com a dobradinha do medo e das máscaras que fomos criando para nós.

Se não sabemos identificar o medo, não saberemos como começar o caminho de cura interior, que não é uma mágica, ou que eu fico na passiva e as pessoas vem e realizam o trabalho por mim. O processo é ter coragem de entrar na canoa onde eu remo de um lado, e o outro remo é do Espírito Santo. É preciso força, a minha vontade, porque no outro remo está a graça de Deus.

Cura interior é um processo que só aceita quem é humilde e entende que é preciso tempo e espera, não é automático. Em cada situação é preciso ir remando um pouco mais, porque a cura interior não acontece na força do medo, mas na força do amor. Se o medo ensina esconder, o amor ensina revelar.


Transcrição e adaptação: Elcka Torres

 Assista: Trecho da homilia de padre Fabrício

 

 


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