Estamos aqui em nome de Jesus Cristo para buscar a sabedoria e a Palavra de Deus. Só há uma Palavra de Deus, Jesus Cristo. Estamos aqui para ouvir, recordar e celebrar a Palavra de Deus.
Ontem eu falava sobre o dom de Deus, a misericórdia. Podemos ver que o Evangelho fala sobre o perdão, a Boa Nova e que Deus tem misericórdia de nós e perdoa os nossos pecados. Tem muita gente que parece que não sabe disso.
O mistério de Jesus Cristo é o da salvação e tudo se resume em duas palavras: perdão e misericórdia. Houveram muitas pessoas boas no mundo, muitos santos, pessoas que falaram sobre respeito, sobre a vida, porém somente Jesus quem fala sobre o perdão e somente Ele nos absolve de nossos pecados.
Se somos seguidores de Jesus, precisamos amar e perdoar, pois é isto que Ele nos ensina.
Há anos fui à Terra Santa estudar Bíblia, fiquei poucos meses e fiz amizade com Israelenses e Palestinos. A primeira vez em que fui, eles atiravam pedras uns nos outros, hoje atiram mísseis. Hoje eles vivem uma guerra, perguntei certa vez, por que eles não chegavam a um acordo, mas compreendi que o que falta no meio deles é o perdão.
O perdão não é uma coisa fácil, mas nós somos cristão e temos uma perspectiva diferente, temos Jesus, e por Ele aprendemos a perdoar. Jesus nos conta no Evangelho esta parábola:
“Porque o Reino dos Céus é como um rei que resolveu acertar as contas com seus empregados. Quando começou o acerto, trouxeram-lhe um que lhe devia uma enorme fortuna. Como o empregado não tivesse com que pagar, o patrão mandou que fosse vendido como escravo, junto com a mulher e os filhos e tudo o que possuía, para que pagasse a dívida. O empregado, porém, caiu aos pés do patrão, e, prostrado, suplicava: ‘Dá-me um prazo! e eu te pagarei tudo’. Diante disso, o patrão teve compaixão, soltou o empregado e perdoou-lhe a dívida. Ao sair dali, aquele empregado encontrou um dos seus companheiros que lhe devia apenas cem moedas. Ele o agarrou e começou a sufocá-lo, dizendo: ‘Paga o que me deves’. O companheiro, caindo aos seus pés, suplicava: ‘Dá-me um prazo! e eu te pagarei’. Mas o empregado não quis saber disso. Saiu e mandou jogá-lo na prisão, até que pagasse o que devia. Vendo o que havia acontecido, os outros empregados ficaram muitos tristes, procuraram o patrão e lhe contaram tudo. Então o patrão mandou chamá-lo e lhe disse: ‘Empregado perverso, eu te perdoei toda a tua dívida, porque tu me suplicaste. Não devias tu também, ter compaixão do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?’ O patrão indignou-se e mandou entregar aquele empregado aos torturadores, até que pagasse toda a sua dívida. É assim que o meu Pai que está nos céus fará convosco, se cada um não perdoar de coração ao seu irmão”. (Mateus 18,21-19,1)
Temos aqui duas situações: a primeira é a do Mestre que é compassivo. E em um versículo temos o centro de todo o Evangelho. O homem que não tinha como pagar a sua dívida, o patrão se compadece e perdoa toda a dívida. Somos assim, devemos a Deus porque pecamos e não temos como pagar a nossa dívida, ninguém é capaz de redimir a si mesmo. Porém, o Senhor tem compaixão e por misericórdia nos perdoa de todos os nossos pecados. Cada um de nós recebeu de Deus a misericórdia através do perdão dos nossos pecados.
A segunda parte da história é o que devemos fazer. Quando aquele homem não pôde pagar aquela pequena dívida, aquele que antes devia a outro insistiu que pagasse, do contrário o mandaria para a prisão. Ele não foi misericordioso para com o seu servo. E no Evangelho diz que Deus teve raiva, essa é uma das poucas vezes em que no Evangelho diz da ira de Deus. O Senhor não se irou com os pecadores, com a prostituta, nem com os publicanos, mas irou-se com este homem que não foi misericordioso.
Quando eu estudava na Terra Santa, toda semana minha turma se encontrava com grupos de pessoas para discutir quem era Jesus, eram muçulmanos, judeus dentre outros. Eles acreditam que Jesus nasceu da Virgem Maria, fez milagres, morreu e ressuscitou. Uma vez perguntei a eles por que não acreditavam que Jesus é Deus, e um jovem muçulmano respondeu-me que acreditavam em Jesus, mas não no Pai. Porque o filho pródigo era um jovem que insultou seu pai pedindo sua herança e foi embora. Isso para a cultura deles é uma vergonha para a família, e aquele jovem muçulmano me respondia que esse pai da parábola não puniu o filho, por isso não tem dignidade para ser um pai, portanto não merece respeito. Ele dizia que poderia aceitar Jesus, mas não o Pai, porque os ensinamentos de Jesus mostravam um pai mole, fraco. Podemos entender, a partir daí, que eles não têm senso de perdão, é olho por olho, dente por dente. Se fez mal, se fez errado tem que pagar. Entre eles é um espírito de vingança, de força, retaliação. A minha resposta para esse rapaz é que qualquer tolo pode não acreditar e não confiar, qualquer tolo pode arremessar um míssil, mas só os grandes tem a capacidade de perdoar. É preciso ter força e espiritual para perdoar.
Digo o exemplo do Oriente Médio como busca pela paz, todos a querem. Há alguns anos havia um líder muçulmano que queria celebrar a paz. Ele pela primeira vez foi a um parlamento israelense, ele disse que era olho por olho, dente por dente; porém, já não mais havia olho nem dente, portanto era tempo de celebrar a paz! Chegando em casa ele foi morto por seu próprio exército. Eles não conseguem conceber a ideia de perdão, perdão para eles é um gesto de fraqueza.
As pessoas querem paz, mas não querem dar perdão. Jesus foi assassinado, pregado na cruz e perdoou. Na espiritualidade, na teologia sempre falamos que o Evangelho é do amor, porém Jesus falou muito mais sobre perdão do que de amor.
A falta de perdão é uma doença que alimenta a si mesma. Podemos falar dos israelitas e muçulmanos, e tantos outros povos que se odeiam, mas olhando para nossas famílias vemos que muitas pessoas se matam por falta de perdão.
Vemos no dia do casamento duas pessoas apaixonadas, cinco anos depois, dez anos depois estão se divorciando. O que aconteceu? O perdão morreu entre eles. Porém Jesus nos ensina viver o perdão.
A falta de perdão é um ciclo vicioso que se alimenta por si mesmo. Tivemos um casamento na minha família, e lá nos Estados Unidos quanto mais próximos da noiva, significa que são mais amigos, mais íntimos. Havia alguns amigos que enciumaram-se porque estavam longe da noiva, ficaram com muita raiva porque estavam sentados mais distantes. Depois de um tempo o casal teve o bebê, e estes amigos não foram visitar o bebê, a família também decidiu não convidá-los para o Natal, eles começaram a não ir mais às festas. Hoje quando há uma festa na família, um grupo não vai por causa do outro, temos uma família dividida. Falta de perdão só alimenta mais falta de perdão, de divisão, até chegar a uma destruição total da unidade da família, este é o ciclo das trevas.
Veja o ciclo de Jesus: Ele foi abandonado, traído, desprezado, ridicularizado, mas a sua resposta não é a falta de perdão ou a falta de amor. Quando Jesus morreu na cruz suas palavras foram: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”, assim quebrou todo o ciclo das trevas.
Agora quero ensinar o ciclo da virtude. O que você recebeu de graça, dê de graça. Você recebeu misericórdia, dê misericórdia. Talvez você pense que a pessoa não merece, mas é justamente por isso que é misericórdia, porque não merece. Por isso, devemos pedir a Deus um coração misericordioso sempre.
É assim, se você recebeu perdão e não dá perdão, não recebe mais perdão. Nós recebemos a misericórdia e nos tornamos misericordiosos quando damos isso. Damos do mesmo jeito que recebemos, não merecemos, mas recebemos, não merecem, mas damos. Por isso nosso coração torna-se parecido com o de Jesus.
Se a falta de perdão nos leva a morte, algo em nós morre quando não perdoamos. Quando perdoamos temos vida, levamos vida.
Perdão não é sentimento, é decisão. Eu me decido perdoar sentindo ou não sentindo, dou de graça! O Pai o olha lá de cima e diz: “Este é o meu filho, o filho do meu coração”, somos abençoados com todos os nossos pecados perdoados. A partir daqui somos enviados a nos tornar embaixadores do amor e da misericórdia e passamos a pertencer ao Reino de Deus para sempre.
Transcrição e adaptação: Rogéria Nair