Pelo sangue de Jesus vem a salvação

Padre Wagner Ferreira
Foto: Wesley Almeida
O mistério do Preciosíssimo Sangue de Jesus seu deu em Sua oferta ao sacrifício que conquistou para nós a salvação. Este mistério se encontra no Antigo Testamento.

O povo de Israel entendia que o sangue era elemento vital para os animais e para os seres humanos.

"Porque a alma de toda carne é o seu sangue, que é sua alma. Eis por que eu disse aos israelitas: não comereis sangue de animal algum, porque a alma de toda carne é o seu sangue; quem o comer será eliminado" (Levítico 17, 14)

O sangue, como elemento vital, foi ganhando sentido sagrado, não se podia beber sangue nem se comer carne com resíduos desse elemento. O significado sagrado do sangue ganhou uma riqueza ainda maior quando ocorreu a libertação da escravidão. Deus chama Moisés para a missão de libertar seu povo da escravidão, que sofria por causa do império, do rei do Egito.

O Senhor disse a Moisés e a Aarão: "Este mês será para vós o princípio dos meses: tê-lo-eis como o primeiro mês do ano. Dizei a toda a assembleia de Israel: no décimo dia deste mês cada um de vós tome um cordeiro por família, um cordeiro por casa. Se a família for pequena demais para um cordeiro, então o tomará em comum com seu vizinho mais próximo, segundo o número das pessoas, calculando-se o que cada um pode comer. O animal será sem defeito, macho, de um ano; podereis tomar tanto um cordeiro como um cabrito. E o guardareis até o décimo quarto dia deste mês; então toda a assembléia de Israel o imolará no crepúsculo. Tomarão do seu sangue e pô-lo-ão sobre as duas ombreiras e sobre a verga da porta das casas em que o comerem. Naquela noite comerão a carne assada no fogo com pães sem fermento e ervas amargas. Nada comereis dele que seja cru, ou cozido, mas será assado no fogo completamente com a cabeça, as pernas e as entranhas. Nada deixareis dele até pela manhã; se sobrar alguma coisa, queimá-la-eis no fogo. Eis a maneira como o comereis: tereis cingidos os vossos rins, vossas sandálias nos pés e vosso cajado na mão. Comê-lo-eis apressadamente: é a Páscoa do Senhor. “Naquela noite, passarei através do Egito, e ferirei os primogênitos no Egito, tanto os dos homens como os dos animais, e exercerei minha justiça contra todos os deuses do Egito. Eu sou o Senhor. O sangue sobre as casas em que habitais vos servirá de sinal (de proteção): vendo o sangue, passarei adiante, e não sereis atingidos pelo flagelo destruidor, quando eu ferir o Egito. Conservareis a memória daquele dia, celebrando-o com uma festa em honra do Senhor: fareis isso de geração em geração, pois é uma instituição perpétua” (Êxodo 12,1-14)

"O Preciosíssimo Sangue de Cristo deve ser acolhido com amor."
Foto: Wesley Almeida

Deus agiu para libertar o povo da escravidão. O povo sacrifica o cordeiro e unta os umbrais das portas das casas com sangue como sinal de que aquelas casas tinham a proteção especial do Senhor. Portanto, o mal não podia entrar naquelas casas para ferir os habitantes. Assim se celebrou a Páscoa de Israel.

A missão de Jesus se realiza pelo mistério de Seu sacrifício, de Sua entrega, imolação para libertar a humanidade da pior de todas as escravidões: O pecado.

João Batista recebeu a missão de preparar o caminho do Senhor, pregou o batismo da conversão às margens do rio Jordão. "No dia seguinte, João viu Jesus que vinha a ele e disse: 'Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo'" (João 1, 29). João Batista reconheceu na pessoa de Jesus o Cordeiro inspirado pelo Espírito do Senhor. O Cordeiro cuja missão é libertar o mundo do pecado, da escravidão, do maligno, que é o pecado.

Essa libertação ocorreu quando Jesus Cristo se ofereceu como vítima no altar da cruz e foi sacrificado. "Ninguém me tira a vida, mas eu a dou livremente" (Jo 10, 18). Mais do que ser sacrificado, o Senhor se ofereceu para o sacrifício da humanidade porque nos amou até o extremo.

O mistério do sacrifício de Cristo na cruz faz com que Seu Sangue derramado, mesmo que pela violência, é sinal do amor extremo, da misericórdia que Deus revelou à humanidade. O Preciosíssimo Sangue de Cristo deve ser acolhido, não como sinal de violência e agressão, mas como sinal de amor.

Deus quis manifestar toda potência do Seu amor para a humanidade no sinal do Sangue de Seu Filho; isso pode até nos assustar, mas o sangue é um elemento vital. O sangue é sinal de quem oferece a vida. Jesus a ofereceu para que tenhamos vida em abundância, para nos libertar do pecado. Não apenas fomos libertos do pecado, mas fomos acolhidos na comunhão com Deus. Diga: "Obrigado, Senhor, por vosso amor manifestado no Sangue de Jesus, o Nosso Salvador, que se ofereceu em sacrifício pelos nossos pecados. O Sangue do Cordeiro Imolado é também o sangue da nova e eterna Aliança."

A primeira aliança que foi selada entre Deus e Seu povo foi celebrada na Páscoa do Senhor na libertação da escravidão no Egito. Jesus quis tornar a Páscoa um sacramento. "Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai e comei, isto é meu corpo. Tomou depois o cálice, rendeu graças e deu-lho, dizendo: Bebei dele todos, porque isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados" (São Mateus 26,26-28). Assim Cristo instituiu o sacramento da Eucaristia, ofertado para nossa salvação. O Sangue da nova e eterna comunhão com Deus.

"Deus quis manifestar toda potência do Seu amor para a humanidade no sinal do Sangue de Seu Filho."
Foto: Wesley Almeida

O sangue tem a qualidade de agir no organismo para cicatrizar um corte, uma ferida. Na Antiguidade não existia o cimento, as pessoas construíam suas casas misturando o sangue dos animais na terra. O sangue tem esta propriedade de unir, a aliança. Ao instituir o sacramento da Eucaristia, Jesus revela que Seu sacrifício, oblação, imolação verdadeiramente aconteceriam não só para libertar a humanidade da escravidão do pecado, mas, para selar a comunhão, a união do coração humano ao de Deus. Pois não basta viver sem pecar, isso é uma grande graça, mas além disso é importante cultivarmos a união com Deus.

O Senhor se ofereceu em sacrifício e neste ofertório o sacerdote era o próprio Cristo. Jesus é o Sacerdote, o Cordeiro, o Sacrifício e o Altar. Ele foi sacrificado no altar da cruz, mas o sacrifício foi do Seu próprio Corpo.

"Porém, já veio Cristo, Sumo Sacerdote dos bens vindouros. E através de um tabernáculo mais excelente e mais perfeito, não construído por mãos humanas (isto é, não deste mundo), sem levar consigo o sangue de carneiros ou novilhos, mas com seu próprio sangue, entrou de uma vez por todas no santuário, adquirindo-nos uma redenção eterna. Pois se o sangue de carneiros e de touros e a cinza de uma vaca, com que se aspergem os impuros, santificam e purificam pelo menos os corpos, quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu como vítima sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência das obras mortas para o serviço do Deus vivo? Por isso ele é mediador do novo testamento. Pela sua morte expiou os pecados cometidos no decorrer do primeiro testamento, para que os eleitos recebam a herança eterna que lhes foi prometida" (Hebreus 9, 11-15).

Cristo se ofereceu como vítima de expiação, o Sangue do Senhor tem o poder de purificar nossa consciência para servirmos ao Deus vivo. Sempre que celebro a Santa Missa, quando elevo o cálice, no meu íntimo faço a seguinte oração: "Jesus, que o Seu Sangue precioso me lave da escravidão do pecado". Eu creio verdadeiramente que Deus me amou e quero viver minha vida comprometida com o mistério pascal deixando me transformar pelo amor do Senhor.

Celebrar o dom precioso de Cristo é celebrar o Deus vivo. Você é um devoto do Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo só quando participa da Santa Missa? Por amor fazemos de nós mesmos um bem, uma oferta para o bem dos outros.

Amar e promover o bem na vida das pessoas é também um sacrifício. Não tenha medo da dor, essa dor redime o nosso coração. Na adoração ao Santíssimo Sacramento, peça a graça de ser o devoto do mistério redentor que foi derramado na cruz.

Transcrição e adaptação: Thaís Capucho


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