Uma coisa sempre me chama a atenção quando leio o Evangelho de João: quando Jesus chama tanto a João quanto a seu irmão André de “filhos do trovão”. Esse termo diz do temperamento de João que, na época de Jesus, era forte e explosivo. No entanto, estamos, na primeira leitura, diante de um homem que foi transformado pelo amor, pois João nas suas cartas chama sua comunidade de “filhinhos”. Veja que termo carinhoso, nem parece o mesmo “Filho do trovão” do Evangelho. Veja que temperamento transformado pela ação de Deus.
“Se alguém disser que ama a Deus, mas odeia seu irmão, é um mentiroso”.
Quantas pessoa vivem um verdadeiro martírio, no sentido de se aniquilar, porque não entenderam o significado da palavra amor. Há uma diferença muito grande entre amar e gostar. Eu sou chamado enquanto cristão a amar e não gostar, porque amar vai além da intimidade com as pessoas. Há pessoas que você gosta e pessoas que você não gosta. É possível amar sem gostar da pessoa? Com certeza!
Somos chamados a amar. Não existe espiritualidade sadia e verdadeira sem passar pelo irmão, a começar dentro da nossa casa. Do portão da nossa casa para fora é fácil levar o Evangelho, difícil é evangelizar da porta para dentro. O mais difícil é evangelizar o nosso coração, depois a nossa casa e, em seguida, o mundo. Amor que não passa pelo irmão não chega até Deus.
O Evangelho diz que todos estavam com o olhar fixados em Jesus na busca de uma intimidade, pois somente quando fixarmos o nosso olhar no Senhor poderemos ir até o irmão, como dizia Madre Tereza “encontrei o pobre em Jesus antes de encontrar Jesus no pobre”.
Eu preciso romper, então, com toda falta de perdão para depois levar a oferta a Jesus. Veja, quem ama perdoa e perdoar significa dar a oportunidade do outro caminhar de novo quando erra. Perdão não significa esquecimento. As pessoa dizem para mim “padre eu não consigo perdoar, eu não sinto vontade de perdoar”, que bom, pois isso é sinal de saúde mental, isso é sinal de que você é tão humano quanto aquela pessoa que errou com você, mas justamente quando você não sente vontade de perdoar é que a terra está preparada para perdoar, porque perdão não é sentimento, é decisão, ainda que você nunca esqueça o que o outro lhe fez de mal.
Quem nós precisamos perdoar? É uma decisão! Porque, se nós nos podemos fazer da Eucaristia uma idolatria, na medida em que o meu sacrifício não passa pelo meu irmão.