Prudência, nosso melhor bem

Padre Xavier
Foto: Wesley Almeida/Foto CN
Abra comigo a sua Bíblia no Livro da Sabedoria 8, 7-9:

“E se alguém ama a justiça, seus trabalhos são virtudes; ela ensina a temperança e a prudência, a justiça e a força: não há ninguém que seja mais útil aos homens na vida. Se alguém deseja uma vasta ciência, ela sabe o passado e conjectura o futuro; conhece as sutilezas oratórias e revolve os enigmas; prevê os sinais e os prodígios, e o que tem que acontecer no decurso das idades e dos tempos. Portanto, resolvi tomá-la por companheira de minha vida, cuidando que ela será para mim uma boa conselheira, e minha consolação nos cuidados e na tristeza”.

O mundo de hoje vive uma grande crise de virtudes. Cresce de modo assustador o grande problema dos vícios, seja ele de qual natureza for: vícios de drogas, entorpecentes, cigarro, álcool, entre outros. Esse tipo de conduta chegou a atingir um ponto tão alarmante que, muitas vezes, temos vergonha de fazer a coisa certa. Não é permitido mais fazer o certo, pois se você está certo, você está errado no conceito do mundo. Além dos vícios físicos, ainda há os vícios da alma. Pensa-se: “Perdoar? Imagine! Eu não preciso de ninguém!”

As pessoas pensam que a virtude deve se dobrar diante do vício; mas é exatamente o contrário que precisa acontecer: é o vício que deve se dobrar diante da virtude. Por isso, há uma necessidade muito grande da presença das virtudes em nossas vidas.

Hoje, vamos nos aprofundar na que é considerada a mãe das virtudes: a prudência. Não existe nenhuma outra coisa se esta não existe. Pensa-se que prudência é ser cauteloso, mas não é isso que as Sagradas Escrituras nos ensinam. Prudência não é sinônimo de cautela. Prudência é ver e perceber aquilo que realmente é importante; é perceber as coisas a partir da luz de Deus e dar a resposta certa no momento certo. Prudência não é medo; é discernimento. Ela não só nos manda ficar, mas também nos manda ir.

A sabedoria é fruto da prudência, as duas são a mesma coisa. Compreendemos o que é preciso fazer e vamos lá e fazemos. Mas para tomar essa atitude precisamos enxergar. A prudência sabe contornar as situações. Vejamos o exemplo da “Parábola das Dez Virgens Prudentes”, que se encontra em Mateus 25, 1-13:

“Então o Reino dos céus será semelhante a dez virgens, que saíram com suas lâmpadas ao encontro do esposo. Cinco dentre elas eram tolas e cinco, prudentes. Tomando suas lâmpadas, as tolas não levaram óleo consigo. As prudentes, todavia, levaram de reserva vasos de óleo junto com as lâmpadas. Tardando o esposo, cochilaram todas e adormeceram. No meio da noite, porém, ouviu-se um clamor: Eis o esposo, ide-lhe ao encontro. E as virgens levantaram-se todas e prepararam suas lâmpadas. As tolas disseram às prudentes: Dai-nos de vosso óleo, porque nossas lâmpadas se estão apagando. As prudentes responderam: Não temos o suficiente para nós e para vós; é preferível irdes aos vendedores, a fim de o comprardes para vós. Ora, enquanto foram comprar, veio o esposo. As que estavam preparadas entraram com ele para a sala das bodas e foi fechada a porta. Mais tarde, chegaram também as outras e diziam: Senhor, senhor, abre-nos! Mas ele respondeu: Em verdade vos digo: não vos conheço! Vigiai, pois, porque não sabeis nem o dia nem a hora”.

Essa passagem bíblica nos mostra bem o que é a prudência. Às vezes, mesmo que tenhamos vontade de ser solidários, não podemos dar algo que vai nos faltar. Muitas vezes, damos de graça aquilo que nos era necessário. Prudência é fruto de Deus, é virtude que vem do alto.

É fácil saber o que tem de ser feito, a que horas fazer e como fazer? Claro que não. Para cada momento existe uma decisão diferente. Não é sempre a mesma resposta. Se você dá sempre uma mesma resposta para todos os seus problemas, está na hora de ser mais prudente.

"É preciso saber que nem todo bem nos faz bem, nem todo bem faz bem a todos"
Foto: Wesley Almeida/Foto CN


Escolher entre o que é bom e ruim no nosso mundo é fácil.
Se eu lhe oferecer um pudim cheio de terra e um limpo, qual você vai escolher? É claro que o pudim limpo. Ninguém quer aquilo que não é bom. Por que as pessoas escolhem coisas ruins, então? A escolha entre o bem e mal é questão apenas de inteligência, nos lembra Santo Inácio de Loyola.

Por isso, escolher entre o bem e o mal é questão apenas de sobrevivência. Mas a vida não está baseada simplesmente na escolha do bem. É preciso saber que nem todo bem nos faz bem, nem todo bem faz bem a todos. Isso é o discernimento, é preciso saber escolher entre o bem e o bem devido. Se olhamos, por exemplo, o açúcar, ele é um bem, é bom, mas não faz bem a quem é diabético, nem a quem se recupera de cirurgias. Ou seja, nem todo o bem nos faz bem o tempo todo.

Escolher entre o bem e o bem devido é questão de prudência. Para ser feliz é preciso saber romper com o apego às coisas que são incompatíveis com nossa vida. Essa é a vontade de Deus! Precisamos amadurecer para as escolhas mais difíceis como essa, escolher entre tudo que é bom e encontrar a vontade de Deus, o bem que nos é devido. Acertar nessa escolha é questão de realização.

A prudência é a mãe de todas as virtudes e é nela que nos encontramos com o Senhor. Ser de Deus não é fácil, mas é possível. Peça a Jesus Cristo prudência para as suas decisões. Amém.

Transcrição e adaptação: Ariane Fonseca


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