É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação. É a forma como a liturgia nos prepara, no dia de hoje, para o tempo que estamos entrando, a Quaresma. Só se prepara para vivê-lo bem quem entende o que vai celebrar depois.
A liturgia nos convida a um tempo de conversão. Deus nos deu uma graça maravilhosa, que supera todo o nosso entendimento: sermos filhos de Deus! Quaresma é tempo de revermos aquilo que somos: filhos de Deus. A liturgia, nestes dias, nos recorda a graça do batismo, por meio do qual recebemos essa graça.
Só vai viver bem a exaltação de Nosso Senhor quem souber viver bem a Quaresma. Não dá para ser uma Quaresma como as outras. É o tempo favorável, tempo da conversão.
Só há uma miséria: não vivermos como filhos de Deus. Esse tempo não é para apenas nos penitenciarmos pela redenção do Senhor, é mais que isso. É nos revermos como filhos de Deus. Não adianta você só saber que é filho, precisa viver como tal. O pecado nos faz querer buscar amor onde ele não existe. O tempo quaresmal é o tempo para voltarmos a viver nossa filiação. A liturgia nos ajuda nesse propósito: “Deixai-vos reconciliar com Deus”. A parte de Deus Ele faz! Como nos diz repetidamente o Papa Francisco: “Deus não se cansa de nos perdoar, somos nós quem cansamos de pedir perdão.”
Deus, como nos diz as leituras de hoje, começa a "fazer propaganda de si mesmo" para voltarmos para Ele. É preciso uma decisão concreta de cada um de nós. Não vamos viver uma Quaresma exterior, que jejua, se penitencia, mas não muda o coração. Esse tempo quaresmal precisa ser vivido de dentro para fora, porque se não muda dentro, chegamos à Páscoa com o mesmo coração.
O salmista nos ensina o caminho concreto para isso: “eu reconheço toda minha iniquidade”. Quem não se olha no espelho, não se reconhece também e não enxerga o seu pecado. Precisamos ter a coragem de olhar para dentro de nós e dizer: "Eu reconheço o meu pecado". Deus quer que nos reconheçamos como tal para mudar de vida e a Igreja nos dá esse tempo chamado Quaresma.
Quando me aproximo do padre para a conversão a primeira coisa que preciso é arrependimento. Não tenha medo de se olhar no espelho e reconhecer o seu pecado. Passamos dias ótimos de carnaval experimentando a verdadeira alegria com Jesus, e é essa alegria que vai nos levar a viver bem a quaresma, no desejo de ser melhor.
A Igreja nos apresenta três caminhos para vivermos bem esse tempo: a esmola, a oração e o jejum.
A esmola me ajuda a olhar para o meu irmão. Será que estou olhando para o lado e revendo o meu comportamento com o irmão?
A oração me ajuda a dar a Deus o tempo que é d'Ele. Um filho de Deus, de verdade, nunca se cansa de ir ao colo do Pai e ali se debruçar.
O jejum nos ensina realinhar o nosso relacionamento com aquilo que Deus criou, que Ele, por graça e misericórdia, nos concedeu. O que tem ocupado seu tempo?
Corremos o risco de ser cristãos hipócritas, e fazer tudo para os outros verem, quem não se reconhecem como filhos de Deus e vivem querendo chamar a atenção dos outros para nós mesmos. Jesus nos dá o itinerário para vivermos com Deus, na intimidade e de modo escondido; não para os outros verem.
Diz a Palavra de Deus que, quando buscamos os elogios, não buscamos o que Deus sonhou para nós e já recebemos nossa recompensa aqui. É tempo de reassumirmos aquilo que somos: filhos de Deus! Portanto, não precisamos mendigar o amor de Deus nos outros.
A nossa Quaresma precisa ser esse tempo de revermos a nossa vida. Para quem não experimentou a filiação de Deus, esse tempo litúrgico será um tempo de tristeza, mas para quem fez a experiência com o Senhor será um tempo de parada e retomada de vida. Há mais alegria no céu por um pecador que se converte do que por muitos justos que se salvam, como ensinam as Sagradas Escrituras.
No tempo quaresmal todos pensam: “O que eu vou tirar como penitência?”
Tirar é muito fácil, acrescentar é que é difícil. Não tire, acrescente! Que a nossa Quaresma seja mais que um tempo de tirar coisas, mas que seja um tempo de parada e retomada. Um tempo de experiência do amor de Deus, pois o coração onde habita Deus não há espaço para o pecado. Que o Espírito Santo nos guie para voltarmos a Deus, de modo que, ao experimentarmos a conversão, possamos celebrar com alegria no nosso coração o mistério de morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Transcrição e adaptação: Rogéria Nair