Quanta sabedoria quando o salmista coloca a necessidade da cura para o pecado.
Há um cuidado humano com a saúde, no que comemos, como vivemos, como forma de prevenir as enfermidades nessa responsabilidade que cabe a mim e a você na observância da vida, no respeito ao organismo que somos. Não somos um mecanismo, somos organismo e precisamos respeitá-lo. Se não o fazemos, o levamos a falência antes da hora. Definhamos antes da hora.
E aqui, o salmista pede a Deus que lhe cure. Considerando o pecado como enfermidade.
Da mesma forma como nós interpretamos o cuidado da saúde com o corpo, descobrimos que a vida espiritual precisa seguir as mesmas regras.
O corpo é o território do sagrado.
E como medicamos o corpo para que ele seja curado, o salmista nos inspira e nos ensina que quando Deus nos perdoa, encontramos o processo de cura.
Curai-me Senhor pois pequei contra vós.
O perdão de Deus, o reconhecimento de Sua misericórdia, é um soro que colocamos em nossas veias todos os dias.
De vem em quando eu preciso bater na porta das pessoas que me amam e dizer: “Me ajuda a chegar até Deus? Porque está difícil sozinho.” A possibilidade de estar com vocês aqui, é um soro que entra na minha veia.
Deus não é sim e não. Deus é apenas 'sim'. Aqui você pode decidir-se pelo processo de reconhecer que há um Deus que nos ama de maneira única, e que não há nenhuma realidade humana que possa ser capaz de ofuscar e ser maior do que esse amor.
O evangelho de hoje é uma prova concreta de que Deus continua apostando em Sua misericórdia conosco. Você que ama, eu pergunto: pode haver algo mais curativo em nossas vidas, do que amar e ser amado?
O ódio nos rouba, o amor nos devolve. Quando você não tem muitos motivos para se alegrar, e tem que lidar com suas fragilidades e não sabe o que fazer com elas, você não procura seus companheiros de copo, ou de fofoca. Você vai querer bater na porta de alguém que verdadeiramente vai saber olhar para suas indigências do jeito que elas merecem ser olhadas. Por que o primeiro milagre que Jesus faz de perdoar pecados, também participamos na dimensão humana.
A cura que muitas vezes nos falta na vida, não é o perdão divino. Deus não tem nenhum problema em nos reconciliar com Ele. É especialidade dEle perdoar, compadecer-se, mas ainda não é minha, nem a sua.
Quantas vezes você sofreu na pele a vergonha de ter que mostrar quem você era para alguém que achava que te amava? E você errou?
Não tenho tido medo de ser fraco, indigente. E acolho como dom de Deus, porque a concretização do evangelho de hoje só acontecerá em nós no momento que a gente reconhecer que de vez em quando precisamos ser colocados na maca para que alguém nos leve na presença do Senhor.
Por que nos esconderam tanto tempo que Deus prefere os piores? E que no acolhimento da fraqueza podemos chegar a algum lugar, e que o contrário não? Nós não podemos negligenciar a oportunidade de dizer isso a ninguém.
Somos indigentes. É o que você precisa ver em mim, em cada um de nós, no seu pároco, nas pessoas que você diz amar. O amparo humano que nos anuncia o amparo de Deus. Deus segurou na minha mão e ele tinha rosto de gente.
Não temos outra coisa a anunciar nessa vida a não ser a misericórdia de Deus. Nada do teu passado pode ser maior do que força do futuro de Deus. Nada.
Falar do perdão de Deus na nossa vida, é falar do perdão que nós nos entregamos o tempo todo. A primeira parte desse milagre, que foi fazer a voltar a andar o que era paralítico, foi o Senhor perdoar o pecado dele. Quantas vezes na vida ficamos paralisados? Não vamos pra lugar algum. E quando investigamos a paralisia, vemos que em algum momento não soubemos nos reconciliar com aquilo que a gente é. A gente se projetou melhor do que era, ou o pior do que era e a gente acabou não sendo nada.
Quantas vezes você se estragou porque não foi capaz de se perdoar? Não foi capaz de usar de misericórdia consigo mesmo? Não reconheceu que estava indigente, ou que na corrida chegou em último lugar.
Como é duro ser o último. Agora, quando estamos no pódio é fácil achar quem nos ama.
Alguma coisa dentro de nós pede para que o fracasso do outro seja ridicularizado. Isso é demoníaco. Nós não sabemos lidar com o fracasso dos outros.
O mais desconcertante disso tudo é que Jesus ficava de olho em quem chegava por último, e deles fazia seguidores.
Pode ser que a gente esteja tentado a olhar só o 'batalhão de frente'. Jesus ficava de olho para ver quem estava em último e o trazia para dentro. Por isso o cristianismo é anuncio de salvação.
O presente é para todos. Só basta querer receber. Nisso está a dimensão humana da salvação: eu quero, aceito, me disponho, e recebo aquilo que Deus quer me ofertar. Eu quero essa participação direta nesse presente que Deus me oferece.
Por isso, não olhe para trás. Não preste atenção no que não deu certo. Não ponha seu empenho no que você não tem. Deus só pode trabalhar naquele que se reconhece indigente.
Qual é pior doente? É aquele que não quer ser tratado.
Aqui est a origem de toda enfermidade: o pecado que não recebe cura.
Como tratamos o corpo, precisamos tratar o espírito, a alma.
Não podemos pensar na nossa indigência fora da misericórdia de Deus. Ele nos quer arrependidos dos erros e prontos para começarmos de novo.
Deus nos ama, mesmo na indigência. Não neglicencie a oportunidade de trazer Jesus ao coração das pessoas que você encontrar na sua vida.
A face mais sedutora de Deus é a misericórdia.
Transcrição e adaptação: Nara Bessa