Eu dizia para Jesus um dia destes: “Jesus tu morreu por nós, tu destes a nós o batismo e porque o Senhor deixa em nós o desejo do poder, do prazer, porque o Senhor nos deixa ter estas concupiscências, porque?”, e quando saiu o Catecismo eu entendi, foi para que nós provássemos o nosso amor que ainda trazemos em nós as concupiscências. Quando provamos o amor pelo irmão? Quando ele precisa! O amor se prova em ações! Quando concretamente luto contra minhas tendências e limites para fazer a vontade de Deus é que provo que de fato eu O amo.
Existem pessoas que vêem uma liquidação e logo correm para comprar algo, elas tem muitos sapatos, mas sempre estão comprando mais, este desejo exacerbado de possuir as coisas as destrói. Como esta pessoa vai vencer esta mania de ter? Ela vai transformar esta mania de ter em uma escada para o céu. Devemos matar a vontade desenfreada de comprar e provar que amo a Jesus, a gente prova o amor a Jesus no que é fácil e no que é difícil, quanto mais difícil for subir os degraus da escada que nos leva ao céu, mais provaremos o amor a Jesus.
Há aquelas que se cuidam por uma beleza exterior exagerada e trazem raiva de pessoas dentro de si, porque acha que deve ser melhor que as outras. Não é fácil conviver com pessoas assim! Se esta pessoa se esvazia de si e resolve amar aqueles a quem ela trazia um sentimento de raiva, ela precisa se determinar em amar as pessoas, ela precisa usar o horror das pessoas, a inveja, o ciume que ela tem dos outros e transformá-lo em virtude.
Mas se esta pessoa tentar transformar todas os seus limites em virtudes sozinha, ela não conseguirá, pois a escada de santidade não se sobe com as próprias forças, é impossível transformar vícios em virtude sem a graça de Deus. Esta pessoa se deparando com o desejo de amar, de perdoar, mas querendo fazer com suas próprias forças, precisa reconhecer que não conseguirá e deve clamar a Deus por sua graça. Ninguém é capaz de fazer mal algum a nós, a não ser nós mesmos.
É preciso de uma vida de santidade e a santidade vem pela decisão da minha vontade, Deus me dá toda a graça atual que eu necessite para ser santo. São João da Cruz diz: “A porta estreita é Jesus, entrar pela porta estreita muitos entram quando se decidem por Jesus, mas depois da porta estreita existe o caminho estreito”. O caminho estreito pode significar provação, noite escura, noite do espírito, mas amar Jesus significa estar disposto a passar pela porta estreita que é o próprio Jesus e ir até a cruz e ressuscitar. O segredo da santidade, a verdadeira cura interior acontece quando por amor a Jesus eu me decido superar tudo, os traumas me atrapalharão, nossa identidade confusa vai nos atrapalhar, mas porque eu me decido por Jesus, eu alcanço a santidade.
São João da Cruz fala das faculdades, em especial duas, o entendimento e a memória, e ele diz que somos livres e preciso contar sempre com a luz do Espírito e a luz da minha inteligência para ter domínio sobre minhas vontades, eu preciso recorrer a graça de Jesus para orientar o meu ser inteiro para a vontade de Deus. A afetividade é um dom e todo santo é curado no seu interior, mas o pecado é que deixa nossa afetividade biruta.
É muito fácil e muito pagão eu jogar a culpa do meu sofrimento sobre o outro, ninguém tem o poder de te fazer sofrer, só você pode fazer isso acontecer. Quando você vai se conhecendo melhor, suas fraquezas, seus limites, quando você vai dizendo não para suas vontades e sim para a vontade de Deus, principalmente quando isso te faz sofrer e dói muito, sua afetividade vai sendo ordenada para amor. A conseqüência é que a vontade de Deus, a sua verdadeira identidade, aquilo que Deus pensa sobre você vai se tornando real e você não mais terá conflitos.
A medida que sua afetividade se volta para Deus também sua identidade se volta para Deus. Quando eu começo a ficar livre do que me dá prazer, me torno um filho de Deus equilibrado, sem conflitos, forte, me torno santo porque a minha vontade se une a vontade de Deus. Através da escada que subo por amor a Deus o meu amor se une ao amor de Deus. E diz São João da Cruz: “Deus e eu somos um!”, Deus cumpre o seu desígnio de me santificar, de submeter-me à sua vontade, de fazer-me um homem santo como Ele me criou.
Transcrição e adaptação: Flávio Pinheiro
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