Quando fui para o Burundi, na África, eu não tinha dinheiro, afinal eu nunca tive, sou de uma família muito simples, mas sempre confiei em Deus. Então me perguntavam: “Por que você foi para a África?” Não fui eu quem escolheu ir para este continente, mas foi Deus quem me escolheu, e eu obedeci. E como dizia Pe. Jonas na santa Missa da manhã: A nossa maior felicidade é fazer a vontade de Deus. E em tudo devemos dar graças, isso é o que Jesus nos ensina: "Eis-me aqui, eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade" (cf. SI 40, 8-9). A verdadeira felicidade consiste em ser o que somos, e fazer a vontade de Deus.
Vou lhes contar algo muito triste. Vocês ouviram dizer que uma mãe jogou uma criança na Lagoa da Pampulha, não é? Que triste isso! Mas tudo terminou bem, graças a Deus, porque os guardas encontraram o bebê e o salvaram.
Nós, padres salesianos, também somos chamados a estar a serviço do povo de Deus. Estes acontecimentos não são novidade para o povo do Burundi. Certa vez, um dos sentinelas do colégio foi chamar um padre salesiano, porque lá próximo uma criança tinha sido jogada em uma fossa, e nessas horas, são os padres que são chamados para socorrer o povo. E são fatos como este que nos incentivam a sair em missão, e deixar o nosso país não é a maior dificuldade, mas sim, o falar a língua estrangeira, assim como neste país, onde a língua falada é o Querundi, pois somente aqueles que estudam falam francês. Só para você ter uma idéia da língua, lá para se dizer “boa tarde”, dizemos assim: “nabacuro, amarroro”, que quer dizer paz.
Este país africano tem 27 mil quilômetros quadrados, é do tamanho do Estado de Sergipe. Porém, a nossa maior dificuldade é a saudade da nossa família, dói muito, porque nós, brasileiros, somos muito sentimentais, sentimos falta da nossa cultura, pois a cultura nesse local é muito diferente. Em minha paróquia, sou o único padre brasileiro, há também outros dois padres belgas e uma missionária brasileira, a Fátima, de Minas Gerais, que é dos Focolares.
Em 1974, cheguei a Burundi, era uma época em que a Igreja foi muito perseguida lá. Muita gente armada, certa vez, rodearam a missão, e havia um padre que queria sair, e eu não o deixei, pois estavam incendiando casas, cortaram a cabeça de uma pessoa, mataram uma criança, nas costas da mãe, enquanto esta trabalhava. Nós a socorremos porque a bala também a atingiu e a levamos para o hospital. Colocaram fogo na escola. Todos os missionários foram expulsos do país, inclusive eu, mas retornei depois de alguns anos.
Em 2006, aconteceram as eleições neste país, e como o presidente foi eleito pelo povo, nós achamos que as coisas iram melhorar. Então, em 1995, ganhamos um terreno, mas, mesmo assim, tivemos de pagar sete mil dólares por ele, e também, como aqui na Canção Nova, a providência aconteceu e conseguimos pagá-lo. Lá construímos um Centro Educacional, onde as crianças aprendem cursos profissionalizantes, como: técnico em eletrônica, corte e costura, computação, carpintaria, e educação. E além desses cursos, que atendem cerca de 400 alunos, também temos em nossa casa transitória cerca de 50 meninos de rua, onde eles ficam por um tempo até que possamos encontrar famílias que os queiram adotar. Atendemos este número agora, mas queremos atender cerca de 150 crianças de rua.
Temos também o Oratório de Dom Bosco, que tem como espiritualidade de vida a Oração, Profissão e Recreação. Cerca de 1.300 crianças passam o dia conosco, onde oferecemos estudo, recreação e oração. Depois elas voltam para suas casas no fim da tarde.
Hoje, a nossa necessidade maior é a de um poço artesiano para que o povo possa tomar água potável, e para que eu possa construí-lo vou precisar de 8 a 10 mil dólares. Estou no Brasil até o mês de março, depois, retorno ao Burundi. Para aqueles que querem nos ajudar com esta construção, aqui estão as minhas informações, e espero que um dia desses vocês também possam ir me visitar.
Que Deus os abençoe!
Para ajudar na construção de um poço artesiano:
Banco do Brasil
Agência 1327-7
Andrelândia 15.623-X
Vicente Gonçalves