“Jesus disse-lhes: ‘Isaías com muita razão profetizou de vós, hipócritas, quando escreveu: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão, pois, me cultuam, porque ensinam doutrinas e preceitos humanos (29,13). Deixando o mandamento de Deus, vos apegais à tradição dos homens’. E Jesus acrescentou: ‘Na realidade, invalidais o mandamento de Deus para estabelecer a vossa tradição’” (Marcos 7,6-9).
Nesta passagem de São Marcos, Jesus vai dizer: “Na realidade, invalidais o mandamento de Deus para estabelecer a vossa tradição”. São Paulo, ao fim da sua carreira, na Carta ao Tessalonicenses, vai dizer que combateu o bom combate, perseverou na fé e, ao fim dessa trajetória, ele era merecedor de uma coroa de vitória e justiça. Sendo fiel, durante toda uma estrada, ao fim, nada mais justo do que ele receber a premiação justa.
São Paulo vai dizer, na Carta aos Filipenses, que ele, ainda enquanto judeu, era irrepreensível perante a lei. Isso tem uma profundidade muito grande, porque ser irrepreensível em 613 mandamentos não é para qualquer um.
Numa fidelidade ímpar e impressionante, esse homem encontra Jesus no caminho para Damasco, e essa mesma força e determinação de fidelidade continua nesse novo Deus que ele encontra. Aquilo que era compromisso antes, permanece sendo um compromisso. Na realidade de São Paulo, não importava o antes e o depois, porque ele sempre foi cumpridor de regras, sempre lutou pela fidelidade.
A mentira
A palavra “mentira” caiu no meu coração de forma muito forte, e pensei: “Aqueles que infringem uma regra para alcançar resultados vivem numa mentira”. É nessa linha de raciocínio, onde o cumpridor de regras segue conquistando uma coroa e o infrator de regras assume para si uma vida de mentira, que lanço uma nova proposta: uma vida de verdade. Precisamos buscar, todos os dias, a vida na Verdade.
Na passagem de Marcos, aqueles homens viviam de forma mentirosa e desfigurada. Eles eram os grandes homens daquela época. Olhando para a vida desses homens, Jesus os chama de hipócritas e mentirosos, porque as atividades deles não correspondiam àquilo que eles eram.
Recordo-me que, certa vez, fui chamado para atender um jovem, e quando cheguei no local onde ele estava, a família daquele menino se encontrava toda ali em razão da seriedade do problema dele. No fundo daquele ambiente, havia um menino totalmente desfigurado.
Atendendo aquele menino, fui tentando perguntar qual era o problema dele, e ele não conseguia me responder nada. Fui provocando ainda mais, até que chegou o momento em que desisti de tirar a verdade dele. Estava indo embora quando veio até mim uma mulher chorando e implorando. Era a mãe do menino, e ela me disse: “Eu rejeito esse menino desde o dia que fiquei sabendo que estava grávida”. Fui entendendo o problema e compreendi que a falta de amor na vida daquele menino fez dele o que é hoje. Diante das suas fragilidades, ele assumiu para si uma vida que não lhe pertencia.
A convivência com o próximo
A nossa vida é formada a partir da convivência que temos uns com outros; a partir daquilo que o outro quer de nós, vamos nos criando. As pessoas vão nos dizendo como devemos nos comportar, vamos recebendo essas informações e nos tornando quem não somos. Vamos formatando a nossa evangelização de uma forma falsa, não é uma necessidade vinda do Espírito Santo.
“Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles. Do contrário, não tereis recompensa junto de vosso Pai que está no céu. Quando, pois, dás esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa. Quando deres esmola, que tua mão esquerda não saiba o que fez a direita. Assim, a tua esmola se fará em segredo; e teu Pai, que vê o escondido, irá recompensar-te. Quando orardes, não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa. Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, te recompensará. Quando jejuardes, não tomeis um ar triste como os hipócritas, que mostram um semblante abatido para manifestar aos homens que jejuam. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa” (Mateus 6,1-6.16).
A vida falsificada racha a nossa intimidade com Deus. Viver uma vida de mentira nos afasta de Deus, viver na falsificação tira de nós a única chance de construirmos algo positivo na nossa vida.
Deus está nas nossas fraquezas
Precisamos compreender que portamos Deus nas nossas fraquezas. A nossa dificuldade é entender que portamos dentro de nós uma força inesgotável e, não tendo clareza de que somos fracos, não reconhecemos que temos um grande Deus dentro de nós.
É triste quando nos esquecemos de que Deus habita em nós, e nos esquecendo dessa ocupação, vamos colocando penduricalhos em nós, vamos tentando nos enfeitar de todo e qualquer custo para que as pessoas nos olhem, para que vejam em nós o melhor, e é uma mentira, porque somos meros vasos de barro.
Leia mais:
.:Pare e pense: qual é a sua verdade?
.:As pequenas mentiras nos tornam incapazes de falar a verdade
.:Era da pós-verdade e quase mentira: é preciso cultivar a formação da consciência moral
O grande tesouro
Esquecendo que portamos dentro de nós um grande tesouro, vendemo-nos a qualquer mentira e falsificação, vamos tentando ser o próprio tesouro, e é dessa maneira que perdemos o grande tesouro que habita em nós.
Não nos esqueçamos de que somos como vasos de barro, e qualquer tombo vai nos quebrar. Por isso, não nos comportemos como não somos. Está dentro de nós algo que nenhum outro vaso valioso possui, algo que somente os vasos de barros possuem: a Verdade!
Vivermos de verdade é assumir que somos vasos de barro, mas que possuímos em nós o maior de todos os tesouros, a única Verdade que é Jesus.
Transcrição e adaptação: Karina Silva.