Esta é uma época muito boa para refletir sobre a misericórdia de Deus, tempo do Advento, tempo de refletir sobre o maior gesto da misericórdia divina: “Ele entregou o Seu filho para nos salvar”.
Santo Afonso de Ligório dizia: “Se existisse só você aqui no mundo para ser salvo do inferno, Cristo viria e passaria por tudo o que ele passou só por você”.
São Paulo fala na Carta aos Gálatas 2,20: “Ele morreu por mim”. Ele não fala só “morreu por toda a humanidade”, mas sim “Ele morreu por mim”. Se existisse apenas eu para ser salvo do inferno, Ele viria. Por quê? Porque cada um de nós foi criado à imagem e semelhança de Deus, cada um de nós tem um valor infinito, e, muitas vezes, não compreendemos isso, não valorizamos isso. Deus sofre muito quando ele perde algum de nós.
Reflitamos sobre a misericórdia de Deus no capítulo 15 do Evangelho de São Lucas
Jesus estava na casa dos publicanos, dos pecadores; e eles eram homens detestados pelo povo, porque eram cobradores de impostos. Os publicanos cobravam impostos para o Império Romano, que subjulgava o povo de Israel; então, eles eram considerados pecadores, e eles eram mesmo.
Podemos ver isso pela história de Zaqueu, o chefe dos publicanos na cidade de Jericó. Jesus, no entanto, foi à casa de Zaqueu e o salvou. “Hoje, a salvação entrou nesta casa”, porque também Ele é filho de Abraão, está na descendência de Abraão, é filho de Deus. Então, porque Jesus pregava ali para os publicanos, para os pecadores, os fariseus e doutores da lei começaram a dizer: “Olha ali, Ele come com os pecadores! Se Ele fosse, realmente, o Messias, não estaria no meio deles”.
São Lucas é aquele que captou, talvez mais do que os outros evangelistas, a misericórdia de Deus. São Lucas diz que Jesus, para mostrar Sua misericórdia, contou a parábola sobre o filho pródigo. Essa parábola é muito bonita! Eu a escuto desde criança, e sempre que a ouço descubro uma coisa nova.
Jesus a conta dizendo: “Um homem tinha dois filhos; o mais moço disse a seu pai: ‘Dá-me a parte da herança que me toca’. Já é uma ofensa ao pai o filho pedir a herança antes desse morrer. Não deve fazer isso. O pai deixa a herança para o filho quando ele quiser. O pai, então, repartiu entre eles os seus haveres. Poucos dias depois, ajuntando tudo o que lhe pertencia, partiu o filho mais novo para um país muito distante.
Eu acho interessante esse “muito distante”. “Ah, eu quero vida nova, não quero mais essa vida chata aqui da minha casa, quero distância do meu pai, quero viver a liberdade”. Dizia Jesus: “…e lá dissipou sua fortuna vivendo dissolutamente” na farra, como diz o povo, na gandaia. Depois de ter esbanjado tudo, sobreveio àquela região uma grande fome, e ele começou a passar necessidade, penúria.
Veja que imprudência! Aquele jovem deveria saber que, por mais dinheiro que tivesse, um dia, esse dinheiro iria acabar, pois ele vivia uma vida dissoluta, com prostitutas.
A vida é miserável sem Deus
O pecador, quando se afasta de Deus e vai para bem longe, para um “país bem distante”, não percebe a burrada que está fazendo, não percebe que, um dia, ele vai chorar, pois vai faltar o necessário para ele viver. Mas é assim mesmo, principalmente na juventude, quando o demônio nos engana com mais facilidade. E continua a parábola: “Foi pôr-se a serviço de um dos habitantes daquela região, que o mandaram para seus campos guardar os porcos”.
Veja a que situação miserável o pecado leva o pecador! O demônio promete rios, mundos e fundos, prazeres e mais prazeres, mas acaba deixando o pecador em uma situação desgraçada, no sentido totalmente sem graça, fora da graça, uma situação de desespero. E continua Jesus falando: “Então, entrou em si e refletiu”.
Essa é a hora que Deus dá para o pecador mudar de vida, e Ele faz isso com todo mundo, por mais pecador que a pessoa seja. A fé cristã ensina que, uma hora, Deus vai dar a oportunidade de a pessoa se converter, pois, seja como for, Deus se apresenta a ela. Para esse jovem, era o desespero da fome. Então, ele entrou em si: “Quantos empregados há na casa do meu pai, que tem pão em abundância! Não lhes falta pão. Aquele pão que eu desprezava, que eu achava fácil… Agora, eu aqui estou a morrer de fome. Eu vou me levantar. Irei a meu pai.”
Pronto, esse jovem acolheu a graça de Deus! Essa é a decisão mais importante do pecador: “Eu vou voltar”. Isso acontece na vida de muitas pessoas. “Eu vou voltar para o meu pai e direi para ele: ‘Pai, pequei contra o céu e contra Ti, já não sou digno de ser chamado seu filho’”.
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Deus não quer perder ninguém
A graça nos faz perceber que o pecado não fere só as pessoas, mas a Deus, fere o coração d’Ele e das pessoas. Aquele jovem percebeu isso, e é muito bonito o que vem depois: “Levantou-se e foi ter com seu pai. Estava ainda longe da casa do pai, quando este o viu e, movido de compaixão, correu-lhe ao encontro, abraçou-o e o beijou”. É bonito. Ele estava longe ainda, mas por que o pai o viu? Porque já o procurava. Certamente, aquele pai, todo dia, toda hora, ficava na esperança daquele rapaz voltar. “Ele vai voltar. Ele vai quebrar a cara no mundo e ele vai voltar.”
Deus tem o olhar voltado para nós, não adianta irmos para longe d’Ele. O Salmo 138 diz: “Se eu me esconder lá no alto das montanhas, ele já está lá; se eu me esconder no fundo do mar, ele já está lá”, porque Ele nos ama.
É muito bonito compreendermos esse sentido profundo da misericórdia de Deus. Ele não quer perder ninguém. “Então, o pai o viu, correu-lhe ao encontro e o abraçou e beijou”, não esperou que o filho chegasse a ele não, ele foi correndo até o filho. “E o filho lhe disse: ‘Pai, pequei contra o céu e contra ti, já não sou digno de ser chamado seu filho’. E o pai mandou os servos buscarem depressa a melhor veste, colocar um anel no dedo, calçar um calçado nos pés.” Que coisa impressionante! Aquele pai não fez uma repreensão para aquele menino! Isso quer dizer que, quando o pecador aceita a conversão, aceitar deixar aquilo que está fazendo de errado, a misericórdia de Deus não pergunta mais nada. Mais do que perdoar os pecados daquele menino, Deus perdoa o menino. Mais do que perdoar os nossos pecados, Deus perdoa o pecador.
Será que nós, no lugar desse pai, faríamos uma festa para um filho desse? Ou será que teríamos uma atitude egoísta como a do irmão dele, que, ao ver uma vida se perdendo, não se preocupou com isso? Nós somos todos irmãos, filhos do mesmo Pai. O cristão é aquele que chora a dor de todos que se perdem. Rezar pela conversão dos pecadores é uma tônica da Igreja.
Cada um deve se perguntar: o que posso fazer para salvar almas?
Transcrição e adaptação: Rebeca Astuti.