Não confiar em nós mesmos, mas somente em Deus

Alexandre Oliveira

Alexandre Oliveira. Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Alexandre Oliveira. Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Três dicas para confiarmos plenamente em Deus

Vamos ver três tesouros que o apóstolo Paulo traz em seu coração. Para compreendê-los, vejamos em II Co 1,3-8:

“Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias, Deus de toda a consolação, que nos conforta em todas as nossas tribulações, para que, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus, possamos consolar os que estão em qualquer angústia! Com efeito, à medida que em nós crescem os sofrimentos de Cristo, crescem também por Cristo as nossas consolações. Se, pois, somos atribulados, é para vossa consolação e salvação. Se somos consolados, é para vossa consolação, a qual se efetua em vós pela paciência em tolerar os sofrimentos que nós mesmos suportamos. A nossa esperança a respeito de vós é firme: sabemos que, como sois companheiros das nossas aflições, assim também o sereis da nossa consolação. Não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia. Fomos maltratados ali desmedidamente, além das nossas forças, a ponto de termos perdido a esperança de sair com vida.”

Meus irmãos, existem três tesouros, pérolas preciosas guardadas dentro do coração desse homem de Deus chamado apóstolo Paulo. Nessa carta, encontraremos dicas preciosas para nosso aperfeiçoamento. É importante entendermos o contexto em que Paulo escreveu essa carta, uma realidade de desacato, em que Paulo sofreu a contenda de alguns que estranhavam a novidade do evangelho da salvação. Tito, filho na fé de Paulo, é o emissário do apóstolo para entregar essa carta à igreja de Corinto, uma carta de reconciliação. A Igreja acolhe Tito e a mensagem de Paulo, entretanto, o apóstolo está sofrendo.

Primeiro Tesouro: A Consolação de Deus

Quando estamos sofrendo, quando nosso coração está machucado, esperamos por consolação, esperamos por um conforto. É como quando estamos num velório, vemos uma pessoa de luto e não temos muito o que dizer, apenas nos limitamos a abraçar a pessoa. Esse apoio, no momento de solidão, Paulo recebeu de Deus e descobriu que essa é a única consolação que realmente é capaz de curar o coração humano. No entanto, nem toda consolação presta. Por exemplo: dois homens, num bar, buscando na bebida seu consolo ou nas drogas. Tudo isso é passageiro, apenas alivia a pessoa num momento, mas a lança numa situação pior depois.

Paulo, então, passa a compreender e a explicar que a consolação eficaz não vem da eloquência, do conhecimento ou capacidade humana, mas de Deus. Esse é o primeiro tesouro que podemos aprender com o apóstolo Paulo, o consolo de Deus é aquele que precisamos.

E nós, para onde corremos quando precisamos de consolação? Corremos para a família? Para os amigos? Para a televisão? Se não estamos buscando o consolo de Deus, vivemos mendigando consolo. A consolação que nós cristãos temos de dar uns aos outros é o consolo que vem de Deus. Diante do divino sacramento, é na Igreja que fortificamos a alma.

"Deus não desiste de nós, mesmo rebeldes, adúlteros e imersos no pecado" Alexandre Oliveira. Foto: Daniel Mafra

“Deus não desiste de nós, mesmo rebeldes, adúlteros e imersos no pecado” Alexandre Oliveira. Foto: Daniel Mafra

Segundo Tesouro: A fé no Deus vivo

A segunda descoberta que fazemos é que o apóstolo passou por tribulações, como todo ser humano. Mas, na hora da aflição, a descoberta do apóstolo é que Deus está vivo e devemos confiar n’Ele e não em nós mesmos. A Ressurreição de Cristo é a nossa força e a nossa certeza. Esse é o verdadeiro sentido da Páscoa, não o chocolate, mas a certeza de que Cristo ressuscitou.

Citei, certa vez, que Santa Faustina tem sido uma emissária da misericórdia em minha vida. No diário dela, os diálogos de Deus com a alma, em suas diversas situações, mostram o amor de Deus desde o homem imerso no pecado. Mesmo no desespero da alma, Jesus não desiste dela, ainda que ensurdecida e cegada pelo pecado. Nesse diálogo, em especial, vemos a misericórdia de Deus, a graça e o esforço d’Ele para salvar o homem, mesmo ele não percebendo o quanto precisa da misericórdia divina.
Ele não desiste de nós, mesmo rebeldes, adúlteros e imersos no pecado. Ainda que nosso coração não tenha esperança, soterrado, Ele não desiste de nós e retira pedra por pedra que nos impedem de ter esperança. Paulo experimentou esse esforço de Deus.
É ou não verdade que, na hora do desespero, a primeira coisa que nos esquecemos é que nosso Deus está vivo?

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Terceiro Tesouro: A providência de Deus

O terceiro e último tesouro é da Providência Divina, o apóstolo admite que não seremos livres de passar por tribulações e lutas, mas ele tem convicção de que Deus sempre estará ao nosso lado para nos livrar e nos ajudar.

As pessoas que nos cercam são pecadoras e limitadas, mas elas podem nos ajudar. O pior erro que podemos cometer é acreditar que, quando caminhamos com Deus, não precisamos de outras pessoas, pois até Jesus tinha companheiros. Paulo teve essa compreensão, precisava de companheiros. Essa tem sido a armadilha do diabo na vida de muitos cristãos, fazendo-os acreditarem que não precisam da Igreja, que podem servir a Deus rezando sozinhos. Dois rezam melhor do que um, três rezam melhor do que dois. Saíamos do nosso orgulho e autossuficiência, tem muita gente precisando de um abraço, de uma oração, assim como nós precisamos.

Na atual situação do nosso país, o nosso papel como cristãos é dobrar os nossos joelhos e clamar a Deus. Oremos pelo nosso Brasil, rezemos por essa nação, rezemos pelos jovens, pelas famílias, pelos políticos, pelas crianças, pelos anciãos, rezemos uns pelos outros.

Paulo reconhece a sua humanidade e necessidade, dizendo que existiam pessoas orando por ele e que isso era vital para o seu ministério.

Para finalizar, um ensinamento de Cristo a respeito daqueles que perdem a esperança em Deus e buscam apenas os tesouros deste mundo: “Mas que vergonha! Pelo bem imutável, pelo prêmio inestimável, para honra suprema e pela glória sem fim, o menor esforço nos cansa. Envergonha-te, pois, servo preguiçoso e murmurador, por serem os mundanos mais solícitos para a perdição que tu para a salvação. Procuram eles com mais gosto a vaidade que tu a verdade. Entretanto, não raro, sua esperança os engana; mas minha promessa a ninguém falta, nem despede com as mãos vazias ao que em mim confia. Darei o que prometi, cumprirei o que disse, contanto que se persevere fiel no meu amor até ao fim. Eu sou quem remunera todos os bons e sujeita a provas duras todos os devotos.” (Imitação de Cristo, Livro III, ­Capítulo III).

Transcrição e Adaptação: Jonatas Passos

 

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