Quando falamos da Virgem Maria, não estamos falando de uma devoção qualquer, mas sim da verdadeira devoção. No latim, “consagrar-se” quer dizer “entregar-se totalmente”.
O ‘Tratado da Verdadeira Devoção’ é fazer da nossa vida uma entrega à Virgem Santíssima por meio de uma escravidão de amor.
Iniciemos com o Senhorio de Jesus: “Jesus é o Senhor e ninguém duvida disso, por isso precisamos escolhê-Lo como Senhor e sermos escravos d’Ele. Mesmo que essa palavra o assuste, saiba que é uma escravidão de amor. Devemos nos colocar diante de Deus como serviço, entender, a partir da parábola do filho pródigo, que era filho e, estando bem em casa, quis ser livre. Sentia-se sufocado e por isso pediu a sua herança; gastou-a de forma devassa e, quando acabou, foi alimentado pela comida dos porcos.
Você se proclama livre para fazer o que quer, mas, agindo dessa forma, age a favor do demônio, sendo escravo dele por meio do pecado. Como fugir da ocasião do pecado? Em Lucas, 15, nesta parábola, percebemos que o filho, ao cair em si e ver que estava errado, quis voltar para casa do pai.
Nossa Senhora, ao dizer ‘sim’ ao anjo, assumiu-se como escrava dele. Deus, como Nosso Senhor, é dono de tudo. Na parábola, o filho se coloca na posição de escravo e o pai o recebe em seus braços: você se coloca como escravo, termina livre; quando se coloca como livre, se torna escravo.
A palavra “escravo”, aqui no Brasil, é a noção de negros que vieram da África e trabalhavam para os seus patrões. Já na época de Jesus, se a pessoa trabalhasse, deveria guarda um dinheiro, pois, em sua velhice, ele não teria ajuda da Previdência como nós temos. Nesse sentido, o fato de você ser apenas empregado, na época de Jesus, deixava-o em uma posição desconfortável quanto ao futuro. Já aquele que se assumia como escravo tinha uma vida mais tranquila na velhice. Não estou justificando, mas estou trabalhando a realidade da diferença da época de Jesus com a de hoje.
Quando dizemos que somos escravos de Jesus, nós O assumimos como Senhor de nossa vida e de tudo o que temos, ou seja, somos propriedades do Senhor. Se essa palavra caí de forma estranha dentro de você, saiba que essa escravidão de amor nos torna livres.
Nosso problema é que não conseguimos nos entregar a Jesus, mas assumimos Maria como Nossa “Senhora”. São Luiz Maria, em seu Tratado, mostra-nos que Jesus também era submisso a Maria e que ela era Sua Senhora. Durante 30 anos, Jesus tornou-se submisso a Ela. Deus quis vir ao mundo pelo ventre de Maria e, da mesma forma, ele quer vir no mundo de hoje pelas mãos dela. Deixemo-nos encontrar por ela para que o Senhor também venha a nós.
O reinado de Jesus, no mundo, acontecerá pelas mãos de Maria, ou seja, não é uma devoção qualquer, mas se trata da nossa salvação. Se não houvesse o ‘sim’ de Maria, nós estaríamos perdidos. Pelo ‘sim’ dela, a salvação foi gerada em nós.
“Maria é nossa Mãe na hora da graça. Por sua adesão total à vontade do Pai, à obra redentora de Seu Filho, a cada moção do Espírito Santo, a Virgem Maria é para a Igreja o modelo da fé e da caridade. Com isso, ela é ‘membro supereminente e absolutamente único da Igreja’, sendo até a ‘realização exemplar’ da Igreja” (CIC 967). No caminho da graça e da santidade, Maria é a Mãe de tudo, é Mãe da nossa salvação. No CIC 969 lemos: “Esta maternidade de Maria, na economia da graça, perdura ininterruptamente a partir do consentimento que ela fielmente prestou na anunciação, que sob a cruz resolutamente manteve até a perpétua consumação de todos os eleitos. Assunta aos céus, não abandonou este múnus salvífico, mas, por sua múltipla intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna. (…) Por isso, a bem-aventurada Virgem Maria é invocada na Igreja sob os títulos de advogada, auxiliadora. protetora, medianeira.”
A partir do ‘sim’ de Maria, daí para frente ela é geradora do filho. Não é possível receber o Cristo sem Maria. Jesus é o Redentor que foi gerado no seio de Maria. Ela disse ‘sim’ desde o anúncio até morte de Cristo na Cruz.
Existe, em todo o mundo, mais de um bilhão de católicos atendidos pela mulher para com a qual Deus olhou com humildade: essa é Maria, a elevada acima dos anjos. É importante que a elevemos com nossas orações, pois o tempo em que ela era escrava aqui na terra permaneceu escondida. Maria deve brilhar e brilhar para sempre. Nós não precisamos ter medo, pois Nossa Senhora é um exemplo para nós. O que ela realizou, na terra, foi o que Deus realizou no Céu. Deus gerou o filho no Céu, Maria gerou o filho na Terra.
Maria deve reinar em nossos corações. Existe uma diferença entre o reinar dela com o de Jesus. O reino de Cristo só tem um jeito de acontecer: Ele reinando em nossos corações.
Na prática, devemos fazer tudo para Jesus por meio de Maria. Esse é o caminho da humildade. Jesus é o sol e Maria é a lua. Você entrega seu corpo como escravo de Nossa Senhora. Como sinal de amor, ela o recebe. Exemplo: quando você for ver um filme, pergunte se Nossa Senhora o assistiria. É questão de ter maturidade, pois quantas e quantas coisas nós não faríamos na frente dela!
Muitos de nós sentem-se ofendidos quando, ao cantar a “Consagração” de Nossa Senhora, em uma parte se canta ou se reze: “coisa e propriedade vossa”. Amados, portem-se como escravos diante de Maria, que ela irá te tratar como filho.
Transcrição e adaptação: Luana Oliveira